Foto: Reprodução/Internet Sowell é necessário. Nas rodas de conversas e bate papos das redes sociais, nas padarias pelas cidades e até mesmo nos botequinhos de esquinas. Porém, é mais urgente ainda de ser lido nas escolas, no dia a dia dos nossos estudantes e nas listas de leituras divulgadas por acadêmicos e influencers.
Doutor em economia, filósofo e escritor, o americano Thomas Sowell é assertivo, categórico e fundamenta fartamente seus pensamentos com fatos reais, resultados de inúmeras pesquisas e vasto conhecimento empírico, produzido e sedimentado após anos de estudos nas mais renomadas Universidades, como por exemplo, Harvard.
Através de uma narrativa não só didática e exemplificativa, mas realmente clara e eficiente, ele desmonta várias das falácias que permeiam a nossa sociedade, seja em relação à economia, políticas afirmativas, sistemas educacionais ou principalmente acerca das desigualdades sociais, culturais, de gêneros e tantas outras, tão faladas pelos progressistas, que tentam usar esses assuntos como iscas apenas visando ganho de cunho político, mas quase nunca para resolver o problema de fato.
O autor discorre sobre o que seriam as discriminações que existem, examinando se realmente há motivos ou causas das mesmas. Por exemplo, compara estudantes sul-coreanos com afro-americanos, em relação ao desempenho escolar, e se pergunta se os primeiros são mais competentes e inteligentes porque se dedicam em média de três a seis horas a mais de estudo por dia, após o horário regular das escolas, ou se os negros têm desempenho ruim apenas porque são negros.
“O fato de que resultados, econômicos e outros, com frequência diferem entre indivíduos, grupos, instituições e nações suscita questões para as quais muitas pessoas dão variadas respostas. Em uma ponta do espectro de explicações está a crença de que aqueles que se mostram menos afortunados em seus resultados são geneticamente pouco capazes. Nas outras, a crença de que os menos afortunados são vítimas dos mais afortunados. Entre as duas pontas, há muitas outras explicações.”
Durante o livro, também apresenta a ideia que concebe sobre as estatísticas e a maneira como são e podem ser utilizadas. “Quando usadas com consciência de suas armadilhas, as estatísticas podem ser imensamente valiosas para testar hipóteses opostas sobre resultados díspares”.
E continua, “a mera omissão de um fato crucial pode transformar estatísticas acuradas em uma armadilha que leva a conclusões que seriam comprovadamente falsas se todos os fatos fossem conhecidos”. Daqui vem uma ideia que ultrapassa o assunto do livro, que insisto tanto, e que se tornou um dos motivos dessa coluna: é preciso que se divulgue o máximo possível de informações, livros, experiências e conhecimentos de diversos autores e pensadores, para que as próprias pessoas façam julgamento daquilo que devem ou não consumir e acreditar.
Uma outra questão importante que envolve a disponibilização de dados e principalmente a contextualização e idealização de conceitos, é a definição do que pode ser considerado como dado, ou melhor, a descrição do que se pretende analisar, já que isso interfere diretamente no resultado das pesquisas. Além de brilhante escritor, Sowell consegue fazer essa conceitualização magistralmente e elenca as diferenças, que podem parecer bem sutis no início, mas que se não observadas atentamente mudam quase que completamente os resultados das pesquisas e estatísticas.
“As estatísticas são imensamente importantes. Mas as palavras usadas para descrevê-las também são. A menos que estejamos preparados para parar e pensar para além das palavras, chegando às realidades, é muito provável que sejamos manipulados e soterrados por uma inebriante mistura de números e retórica”.
Ao fazer as distinções daquilo que se pretende examinar, consegue-se chegar a resultados diferentes dos que normalmente são divulgados. Um dos maiores exemplos no livro gira em torno dos significados de discriminação. O escritor explica que em seu sentido mais amplo, discriminação, que ele classifica como Discriminação I, é a habilidade de discernir diferenças de qualidade em pessoas e coisas e escolher de acordo com sua preferência, e que estas são distinções baseadas em fatos reais. Já a Discriminação II, que aduz ser um sentido mais estrito, e o mais comumente empregado, fala sobre tratar pessoas de maneira negativa, com base em suposições arbitrárias ou aversão a indivíduos de uma raça ou sexo em particular, por exemplo, sendo a segunda o tipo que se baseiam leis e políticas antidiscriminatórias.
A partir de então, ele desenvolve raciocínios que explicam os custos de cada tipo de discriminação e como isso impacta na vida das minorias – demonstra, por exemplo, como a lei do salário mínimo foi prejudicial aos negros americanos – e que antes de “ir no embalo” dessas lutas, é preciso entender que nem sempre uma boa intenção produzirá um bom resultado.
Compreender que antes de tentar fabricar artificialmente igualdade de resultados, é imensamente mais vantajoso proporcionar equidade no ponto de partida de cada indivíduo, ou seja, proporcionar condições iguais de informações, pode ter uma consequência bem mais eficiente nas políticas públicas.
Sowell explica no capítulo final que sua intenção não é produzir uma solução definitiva com essas discussões, porque por mais válida que seja em determinado momento e sob certas condições, ela estará sujeita a obsolescência em algum momento posterior, sob condições diferentes.
“Minha esperança é que o esclarecimento é menos perecível e pode ser aplicado tanto às questões já existentes quanto às novas questões relacionadas a disparidades econômicas e sociais que certamente surgirão com tempo”.
Discriminação e Disparidades, Thomas Sowell.
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