Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
20/05/2022 às 08h00min - Atualizada em 20/05/2022 às 08h00min

Primeiros anos

WILLIAM H STUTZ
No começo nada havia. No ar apenas ondas de rádios, televisões e, claro, cinzentos satélites espiões. Estática sem estética.
No começo quase nada nos céus. Nada muito além do azul, de aviões de carreira, aves migratórias, balões de São João e fogos de artifício. Azáfama pólvora.

No começo a solidão das letras, presas em livros, jornais e revistas por vezes, como pão esquecido, mofavam. Querendo ganhar mundos e fundos. Pacientemente em apertados tipos, capas e sebos, alguns às traças outras às moscas, aguardavam.

Era apenas o começo. As mudanças estavam por vir. Óvulo fecundado, vida nova criada, sem percalços ou interrupções o caminho seria um só: o despertar, o nascimento, o soar das trombetas, fartamente anunciadas em bem elaboradas e coloridas filipetas. Pierrot a sorrir.

Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Potestades, Virtudes, Principados, Arcanjos e Anjos, muitos Anjos em revoada silenciosa migraram, éter-luz.
Destino: novas nuvens de silício e bits, cyber-céu.

Nuvens aos poucos povoadas por uma gente diferente. Nem tão gente, nem tão anjo. Gente-sentimento, gente-luz. Gente criadora de sonhos e caminhos. Alquimistas das letras a lapidar incessantemente a pedra filosofal da imaginação, um eterno transmutar de tudo em letras, emoção e calor.

Do começo, apenas lembranças, nesse ninho de condensados elementos habita o povo-anjo, nada mais será como antes, pois lá, naquele cantinho seus habitantes são forjados em brilhante/nobre metal, forte fibra.
Gente literata, gentil, cordata.

Anjos?

Claro que sim, mas estes caros amigos, forjados em mística bigorna e martelo, da mais pura e fina Prata.


Ode a desilusão

Sei que não é e nem passa perto de minha praia, se é que alguma tenho, esta forma de construção poética, aliás nem sei se correta é.
Mas o gostoso da alquimia ou da culinária literária é a degustação.

Conto: uma semana de Guardador de Rebanhos de Fernando Pessoa ou Alberto Caeiro se lhe apraz, anoitece mineirice de qualquer um. Claro que este céu sem estrelas ou lua dura a força de curto eclipse, não me pega por muito tempo.

Sou mais o sorriso, o humor matuto, matreiro, a boa cachaça com torresmo, a risada solta, a viola caipira, a boa moda em melhor e mais animada roda.
Mas ai está, é tira-gosto com tempero diferente, experimentação.
Pois assim me contem, se é que convém...
Boto reparo e assim descrevo, o escrito acima como muda de planta nova, daqui a um cadinho também vira prosa.



Mas agora sou cowboy
Sou do ouro, eu sou vocês
Sou do mundo, sou Minas Gerais
(Lo Borges)


Ode à desilusão

Quanto rancor, ódio ou desdém
o que te afasta tão repentinamente assim
se mal não fiz, posto que também nenhum bem
serão lembranças assim tão torpes de mim?

Quanto desdém, rancor ou ódio insano
minh'alma lamenta em prantos tal distância, tamanha displicência
qual teria sido o terrível engano
carrega assim a há tanto,vem assim de tão longe de remota e tenra adolescência?

Quanto ódio, desdém ou rancor
meu coração mesmo assim em serena paz descansa
sentimento por ti carinho, só amor
será que ainda resta no fundo ainda alguma cálida esperança?

Rancor, ódio ou desdém?
nenhum destes tão pequenos sentimentos a tão bela figura convém.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90