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18/05/2022 às 08h00min - Atualizada em 18/05/2022 às 08h00min

A urgência da reestruturação no currículo do curso de Ciências Contábeis no Brasil

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA
No setor privado e no setor público, entender e utilizar os números é uma tarefa complexa. Um mínimo equívoco pode acarretar um caos completo – por isso, lidar com tamanha responsabilidade exige uma capacitação à altura.   A contabilidade é a ciência que surgiu com objetivo de estudar as variações quantitativas e qualitativas ocorridas no patrimônio (conjunto de bens, direitos e obrigações) das entidades (qualquer pessoa física ou jurídica que possui um patrimônio), amenizando essas demandas.

Com a evolução da economia, o ambiente dos negócios se tornou mais competitivo e, a partir de então, percebeu-se que era preciso um diferencial para que as empresas se destacassem – e foi então que se começou a utilizar a contabilidade voltada para fins gerenciais.

A contabilidade nos fornece a matéria-prima para as tomadas de decisões, estudando, registrando e controlando o patrimônio. Sua finalidade é a de registrar fatos e produzir informações que possibilitem ao dono do patrimônio o controle e o planejamento para decidir qual curso tomar para atingir com mais rapidez, eficiência e eficácia o objetivo proposto.

Entretanto, embora goze, atualmente, de um grande respeito entre a comunidade corporativa, a contabilidade é uma área que ainda sente certas dificuldades na transformação. Já é sabido por muitos que a crescente conectividade alterou as configurações do mercado.

A experiência digital já não é mais uma opção para as lideranças corporativas. Cada setor do mercado é obrigado a alavancar a tecnologia digital como um meio de se comunicar e interagir com seus clientes, criar cadeias de fornecimento para entregar produtos e serviços e aproveitar dados e informações sobre eles. E, mesmo com essa crescente necessidade e a vasta disponibilidade de tecnologias, os escritórios contábeis em sua maioria, ainda são resistentes quando o assunto é a automatização de processos.

Vamos refletir: Sabemos que a origem da contabilidade remete aos primórdios das civilizações capitalistas, quando o escambo ainda era predominante nas microeconomias de vilas e cidades. Assim, surgiu a necessidade de o homem iniciar os registros de suas trocas, tanto para compreender aquilo que entrava e saía de seus domínios – uma prática conhecida atualmente como “fluxo de caixa”.  

Já deu para perceber a importância dela na nossa vida, não é mesmo? Embora a descrição das práticas contabilísticas pareça algo extremamente complexo e amedrontador, lembre-se, você paga suas contas e administra um salário, lucros ou até mesmo uma mesada, veja bem: você está exercendo funções contábeis!

Se você pensa que a contabilidade reside em números e equações assustadoras, você está enganado. É claro que os números são parte inevitável das ciências contábeis, mas elas vão muito além deles: além de lidar e mensurar algarismos, é preciso entendê-los e saber “dialogar” com eles. Compreender as operações e fenômenos financeiros e econômicos de uma empresa ou órgão é vital para a tomada de decisões – que, por sua vez, consiste basicamente na definição dos rumos e direções encarados pela empresa. Logo, podemos aferir que apenas o conhecimento técnico, por mais imprescindível que seja, não é garantia de uma excelência profissional completa, uma realidade potencializada por uma série de motivos típicos da “nova era” da contabilidade: o contexto das tecnologias tributárias, da internacionalização de empresas, da carência de pessoal capacitado, das mídias sociais e do acelerado crescimento do empreendedorismo na “nova classe média” – que criou muitas oportunidades mas, ao mesmo tempo, ameaças para aqueles que pretendem ou já desenvolvem negócios na área.

Tomando como base o primeiro fator enumerado (as mudanças e avanços nas tecnologias tributárias), não há como deixarmos de discutir as transformações trazidas pelo Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) – que transcendem até mesmo conceitos tributários e fiscais. Os impactos dessa mudança na forma de prestação de contas ao fisco também vão além do simples uso de novos sistemas. A legislação tributária, contudo, não tem acompanhado essas mudanças e não foi atualizada ou mesmo revista para atender às novas tecnologias e à formação de novos profissionais da área. Será que a ciência da contabilidade está preparada para enfrentar essas mudanças?

Pensando estrategicamente, as escolas e os profissionais envolvidos com as ciências da contabilidade precisam compreender as mudanças pelas quais estamos passando em nossa sociedade, onde os impactos no cotidiano das organizações exigem quebra de paradigmas. Precisamos enumerar, analisar e refletir sobre as perdas e ganhos trazidos por essas mudanças e transformações à prática da contabilidade, fazendo uma avaliação cuidadosa deste cenário, buscando sempre a melhoria, a modernização e a integridade patrimonial das nossas organizações – sejam elas nossas casas, nossos negócios ou nosso país.

Buscando responder a essas questões o CFC programou receber ao longo do mês contribuições e sugestões de profissionais, acadêmicos e estudantes da área para construir uma proposta que altere a Resolução CNE/CES nº 10, de 2004, normativo que regulamenta a formação de bacharéis em Contabilidade. Após debates e conclusão da minuta, o documento será finalizado e apresentado ao Ministério da Educação (MEC). A expectativa do CFC é que a proposta seja concluída ainda no primeiro semestre de 2022.

Para Aécio Prado Dantas Júnior, presidente da autarquia, a movimentação é necessária para adaptar a resolução vigente ao cenário contemporâneo. “A essencialidade dos profissionais da contabilidade ficou ainda mais evidente durante a pandemia, a partir da consultoria e da assessoria prestadas a cidadãos e a empresas de todo o País. Mas precisamos levar ao mercado pessoas prontas para atuar com excelência e aptas para contribuir com o desenvolvimento sustentável”.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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