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04/07/2017 às 23h34min - Atualizada em 04/07/2017 às 23h34min

Mito ou filosofia?

IVONE GOMES DE ASSIS* | COLUNISTA

É comum ouvirmos desabafos e acusações sobre os problemas sociais do nosso país, mas, se o problema é social, então é de todos: do governo, da mídia, das instituições, meu e seu.

A Política é a ciência da governança de uma nação, é a arte de encontrar soluções para interesses comuns. Ela vai além do espaço público porque o eixo da sincronia agrega o social, o educacional, o ambiental, a segurança e tantos outros.

Já vi reivindicadores em multidões não saberem definir conceitos básicos como: “Qual é o nosso sistema de governo?” Ora, o nosso sistema é uma República Presidencialista, em regime democrático e a lei é o ponto de ponderação capaz de impor limites. Ou seja, é o tempero para as receitas propostas no Congresso Nacional. É, no mínimo, necessário que o cidadão conheça o básico sobre política, haja vista que nossos governantes são escolhidos por nós.

E escolhas erradas conduzem às catástrofes. Português, Matemática, Geografia, Cultura, Cidadania, Ética, Política, segundo idioma, estas são disciplinas básicas necessárias ao currículo escolar desde o primeiro dia de aula da criança. Por outro lado, a lei – em qualquer instância – deve se fazer valer para todos os cidadãos, independentemente do cargo ocupado. Havendo suspeita, suspenda-se o cargo; havendo culpa, condene-se o culpado.

Mas, “O que eu tenho feito para melhorar o mundo? Quais notícias tenho feito veicular? Como eu tenho participado da educação? Como eu tenho me portado ante as pequenas corrupções que me favorecem? Sejam elas um “furar fila”, um “tira vantagem”, um “sou amigo do rei”. A ciência que assiste o Estado, a sociedade, é de responsabilidade de todos. Celebridades são os artistas, tais como aqueles que lutam para que o teatro do Rio de Janeiro seja mantido; são os escritores, que se põem meses a fio na confecção de um texto; são os atores, que passam madrugadas a decorar e a encenar textos para encantar o telespectador; são os trabalhadores que saem de madrugada, voltam à noite, ganham um salário mínimo, e ainda assim educam seus filhos e sustentam sua família; são os médicos e os professores que fazem milagres todos os dias. Mas político não é celebridade, ele está a cargo da nação, portanto deve fazer o trabalho para o qual foi eleito, e se não o fizer, deve ser exonerado do cargo. Para isso existem a justiça e o bom senso. O conhecimento é o princípio da igualdade.

Aprendemos com a Filosofia (Hobbes, Aristóteles...) a arte de governar com sabedoria. De repente, a perspectiva filosófica perdeu o seu espaço para o parecer jurídico. Uma balança de vale quanto pesa.

Em junho deste ano, enquanto eu caminhava pelas ruas de Munique, uma cantora de ópera indagou-me: “O que você tem feito pelo país?” Respondi-lhe, sem titubear: “Ofereço o que tenho: conhecimento!”. Um breve silêncio nos circundou.

Ora, se faço minha parte, a luz que emana de mim brilhará nos outros, e assim sucessivamente. A política pública objetiva atender à sociedade civil, isso pode acontecer por meio de ONG’s, Instituições governamentais ou não, empresas privadas ou públicas, mas por trás de cada pessoa jurídica estão as pessoas físicas. Então, se a pessoa física falhar, o sistema jurídico não subsistirá.

Em qualquer segmento – político, social, empresarial ou outro – é necessário que o decoro vigore, que a ética (assuntos morais) e a cidadania (direitos e deveres do cidadão) vigorem. Como ensina o sociólogo T.H. Marshall, a cidadania só é completa se for dotada de direito civil, político e social. Mas essa evolução apenas terá validade quando tivermos uma nação dotada de conhecimento, quando a desigualdade social for amenizada. Um pai de família que não sabe como alimentar seu filho não se detém a pensar em conhecimentos políticos, ética ou cidadania, porque sua prioridade é o básico de sobrevivência. Há quem se beneficie dessa moeda de troca. 

Cobrar conduta humana de uma classe de extrema pobreza e desigualdade é fácil, o difícil é impor condições políticas e sociais que elevem essas pessoas a um nível mais justo, mais digno, a fim de que estes seres humanos se vejam pertencentes à tão comentada cidadania, cujos direitos e deveres civis, políticos e sociais se encontram estabelecidos na Constituição do nosso país. Afinal, um governo é mito ou filosofia?

(*) Escritora e editora

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