Av. João Pessoa, bons tempos do arroz Se eu disser, ninguém acredita. No comecinho do século passado, indústrias paulistas de máquinas agrícolas, mandavam técnicos a Uberabinha ensinar a utilização do arado de mão, aquele primitivinho, puxado por animal. O povo não conhecia isso. Por essa época, o cometa Antônio Sereno, português, distribuía abundantes quantidades de sementes de arroz, estimulando o seu plantio na região: Uberabinha, Monte Alegre, Abadia do Bom Sucesso (Tupaciguara), Prata, Santa Rita do Paranahyba (Itumbiara), Vila Platina (Ituiutaba) e outras. Aqui plantava-se o suficiente para o consumo interno. E olhe lá.
Alexandre Marquez montou máquina de benefício, de madeira, movida a água. Em 1912, já tínhamos quatro máquinas: a de Fernando Teixeira Terra, a de Antônio Rezende Costa, a de João Peixoto e a de Eduardo Marquez. Nesse ano, chegou a energia elétrica e o Rezende Costa importou uma máquina movida a essa força da Alemanha. Em 1925, chegaram as primeiras famílias de japoneses: Kaminura, Matmoto, Okada e Matsuda. Fixaram-se nas fazendas de cultura do Buriti e do Sobradinho, com belos resultados no plantio de arroz. A cultura avançou até o pontal.
Nessa época, chegou de Conquista, aquele que pode ser considerado o maior lavourista de arroz de Uberlândia e que foi injustamente esquecido: Valdomiro Barbosa. Ele foi direto para a Mata dos Dias onde plantou em vastas áreas. Quem acompanhou o seu atrevimento e se tornou, também, grande produtor foi o árabe José Andraus Gassani. Daí, Uberlândia partiu para ser o maior centro beneficiador do Estado. Em 1930, (e nos anos seguintes), o Triângulo foi considerado o maior centro produtor de arroz do Estado, com 66.600 toneladas. Os grandes armazéns eram os de Antônio Savastano, Elias Simão, Messias Pedreiro e Eduardo Marquez. Ainda havia os Armazéns Gerais da Base da Fundação Brasil Central. O plantio era feito sobre terrenos desbastados das velhas florestas. Terras virgens e fertilizadas ao longo de séculos. Sem a renovação de seus valores, elas cansaram e se tornaram pouco produtivas. Valdomiro mudou-se para Canápolis onde iniciou nova cultura em vastos espaços. Canápolis se tornou um dos maiores centros produtores da região ao ponto de se instalar lá uma enorme indústria de beneficiamento, na fazenda das Flores.
Na década de 1951, a COFAP interferiu na movimentação interna do arroz, impedindo a saída do estado produtor, causando sérios problemas para os financiadores dos plantios goianos que eram os cerealistas de Uberlândia.
Nos anos 50 e 60, os grandes beneficiadores eram Messias Pedreiro, Elias Simão, Antônio Luiz Bastos e Alexandrino Garcia. Havia ainda os Armazéns Gerais. Nessa época a produção era abundante.
Até 1986, Uberlândia era polo de armazenagem de cereais no Triângulo. Recebia de toda parte. Mais ou menos por essa época, começou a chegar o arroz agulhinha do Sul. Logo foi o preferido das donas de casa pelo preço e pelo rendimento. Além disso, o governo mudou sua estratégia e transferiu os armazéns das cidades polo para as cidades produtoras. O que aumentou o custo de beneficiamento nas polos.
Começou a decadência do arroz no Triângulo. Embalde alguns produtores tentaram o Nordeste, mas por lá também chegou o agulhinha. Resultado: os agricultores saltaram do arroz para a soja, o milho e as pastagens.
Assim, a síntese histórica de um dos momentos negativos da nossa economia.
Fontes: Nelson Velasco, Tito Teixeira, Pedro Pezzutti, Jerônimo Arantes, Correio de Uberlândia, velhos jornais.
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