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08/01/2022 às 08h00min - Atualizada em 08/01/2022 às 08h00min

Ano Novo não faz milagres!

DÉBORA OTTONI
Foto: Pexels
Geralmente, com a chegada do fim de ano e a aproximação de um novo ciclo, nós nos envolvemos em um certo tipo de esperança cega por pensarmos nesta data como em um momento de virada de chave. Não que seja errado enxergar o ano novo como uma nova oportunidade de uma vida diferente, como um momento para estabelecermos novas metas, e traçarmos novos objetivos. Inclusive, é isso que devemos, de fato, fazer. O problema, é que apenas idealizamos...

O perigo da idealização do “ano novo, vida nova”, é que estabelecemos esta virada como um marco transformador único e intransferível, sem nem nos darmos conta de que ao fazermos isso desconsideramos as possibilidades ilimitadas que nos são oferecidas pela vida diariamente. 
Desconhecermos esse nosso movimento nos aprisiona a um ciclo vicioso no qual, já nos primeiros meses do novo ano, perdemos muito da nossa motivação inicial e, do sexto mês adiante, escolhemos abandonar de vez o que tínhamos planejado. 

Uma das coisas que mais me chamam atenção em meus atendimentos clínicos, é o fato de os pacientes não perceberem como padronizam, cristalizam certos tipos de ações, pensamentos, sentimentos e como isso os limita na forma de funcionar no mundo e em suas relações. 

Sequer há uma sutil percepção desse agir automático que os fazem, por exemplo, vivenciarem um ciclo eterno de recomeços e términos de relacionamentos. Somente após uma reflexão intencional proporcionada pela terapia, estas pessoas percebem o quanto essas relações se assemelham (os parceiros, os mecanismos, as demandas, as necessidades, etc), justamente porque os elementos cristalizados que as configuram não são externos! 

E é neste ponto exato que queria chegar: se não há uma mudança no que fundamenta as nossas ações, motivações, pensamentos e crenças, a virada de ano não servirá de nada. Nós não mudamos porque o ano muda. O que muda dentro de nós neste período do ano são os sentimentos, as sensações, a energia que, se não forem direcionados para o lugar certo, logo serão dissipados. 

Não adianta colocar em sua lista de 2022 entrar para a academia, emagrecer, ler 10 livros, caminhar todos os dias, comer bem, estudar se, até o dia 31/12/2021 você não entendeu que se você é preguiçoso, o que lhe falta é a virtude da temperança. Virtude esta, responsável pelo autocontrole, renúncia e moderação e que, somente a exercitando diariamente, você consegue estabelecer a constância em sua vida.  

Entenda, é muito mais profundo do que apenas desejar fazer diferente no próximo ano e colocar isso em um papel “Things to do – 2022”.  É sobre conhecer seus movimentos interiores mais baixos, identificá-los, nomeá-los e usar as virtudes antagônicas para combatê-los, para que você consiga ser e fazer diferente do que tem feito até hoje. Ano após ano.

É ser alguém novo para que o ano seja, verdadeiramente, novo. 

Sabe onde está o problema? Em nossa ignorância. Ignoramos a necessidade de fazer diferente, e de não buscarmos em coisas externas algo que nos faça sentir diferentes. Eu te garanto, a lista com as metas de 2022 não vai te ajudar em nada se você não se propor a ser sincero com suas debilidades e negligências. Se você não as pontuá-las e buscar conhecimento acerca de como trabalhá-las. 

Não precisamos de um réveillon por ano para renovarmos nossos votos, promessas e compromissos conosco e com os outros. Se fôssemos mais sensíveis, nos atentaríamos para o fato de que o encerrar de um domingo e o recomeço de uma semana para nós, que o findar de uma noite e o nascer de um novo dia, são símbolos de novidade, de renovo, de recomeço. 

Todos os dias temos um “pequeno novo ano” para comemorar. Toda virada de um novo dia, deve ser um marco tão importante quanto a virada de um novo ano. O seu ano novo só depende da sua disposição de ser uma pessoa nova. 

Se não for assim, lamento te dizer, você pode até sair de 2021 e entrar em 2022, mas 2021 não sairá de você!

Feliz Ano Novo! Feliz Novo Você! 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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