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28/12/2021 às 08h00min - Atualizada em 28/12/2021 às 08h00min

O caso melancólico de obra fundamental

ANTÔNIO PEREIRA
Trecho da estrada do Fernando Vilela
Um dos fatores mais decisivos para o desenvolvimento de Uberlândia foi a estrada construída por Fernando Vilela e Paes Leme, em 1912, um verdadeiro ato de coragem, ânimo e confiança.

Fernando Vilela, mentor da obra e Presidente da Companhia Mineira Auto Viação Intermunicipal, usou tudo o que tinha para compor o seu capital, além de recolher aplicações populares. Só não contou com o apoio do governo nos termos em que esperava e que era garantido por lei.

Sua estrada ligou o estado de Goiás à Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e fez com que toda a produção do Sul goiano fosse carreada para a estação de Uberabinha. O único ponto onde era possível atravessar o Sul do estado, sem os percalços e a demora das balsas, ficava em Itumbiara. Era a ponte Afonso Pena, sobre o rio Paranaíba, exatamente onde terminava a estrada do Fernando Vilela.

De Itumbiara para o miolo do estado goiano abriu-se um leque de ramos rodoviários, criados por outros pioneiros, inspirados no Vilela. Essas ramificações agiam como tentáculos que iam fundo buscar as mínimas produções sugando-as para Itumbiara e dali para Uberabinha.

Foi um começo difícil pela falta de apoio governamental, mas, a partir de meados da década de 21 do século passado, a Companhia experimentou uma curva ascendente nos resultados que lhe permitiram um acúmulo de fundos de reserva.

Exatamente nesse momento de sucesso, iniciou-se uma campanha de desapreço à empresa. Os jornais atacaram-na violentamente. Motoristas e empresas de transportes queixavam-se das limitações para o peso das cargas (1.800kg por veículo). Todos repudiavam o pedágio que já não existia nas estradas paulistas e fluminenses. Em Goiás, João do Nascimento Costa, maior acionista da Companhia Auto Viação Sul Goiana, doou suas quotas ao governo do Estado no que foi seguido por outros acionistas.

Nossos periódicos alertavam as autoridades que, por causa do pedágio, Prata e Ituiutaba passariam a negociar com Uberaba e Tupaciguara entender-se-ia com Araguari. Todos abandonariam Uberlândia.
Vicente Paulo Afonso, no artigo “Água, água”, publicado no “O Repórter” de 22 de abril de 1934, escrevia que “uma empresa Autoviação vem aniquilando o progresso desta zona...”
“A Tribuna”, do Agenor Paes, de 1º. de junho de 1935, alfinetava: “o pedágio, além de contraproducente é antiprogressista, quase imoral...”

Paralelamente a essa posição jornalista empedernida, os motoristas, que se congregavam numa sociedade, à época, tão dinâmica e participativa quanto a Associação Comercial, fizeram greves umas sobre as outras.

Em 1934 ameaçaram entrar em greve contra os limites de peso. Debateram motoristas, Fernando Vilela e as autoridades sobre a questão, sob o patrocínio da ACIAPU (Associação Comercial, Industrial e Agro Pecuária de Uberlândia) e conseguiram um novo limite, 3.000kg nos períodos secos. Foi reduzido o pedágio.

Em 1936, os motoristas acreditaram que o convênio com o Estado estivesse próximo do seu fim, saíram em comissão pelas estradas e quebraram todas as porteiras. Em 1937, nova greve. Contra o pedágio. Os motoristas postaram-se com seus veículos no Posto de cobrança do pedágio no Vau e impediram o tráfego. Ao fim de 24 horas, o jornal “O Repórter” registrava surpreso que havia 250 veículos parados! As tarifas foram reduzidas de novo. Em 1938, outra greve. Os motoristas queriam a liberação da estrada, certos de que o convênio se acabara. Daí para a frente, a Companhia paralisou suas atividades e, em 1945, em assembleia geral, os acionistas optaram por sua liquidação.
À histórica reunião concorreram, não só os acionistas, mas representações de colégios, Câmara Municipal, autoridades, empresários e imprensa. Ao fim da assembleia as classes reunidas registraram um voto de louvor a Fernando Vilela.

Apesar de toda essa celeuma final, a construção das estradas do Fernando Vilela foi o fato econômico mais importante da época, com seu desdobramento, sua profundidade de ação e o fundamental carreamento de todo o movimento comercial de Goiás e norte do Triângulo para a velha Uberabinha.
 
Fontes: jornais da época, Atas da Associação Comercial. 


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