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20/11/2021 às 08h00min - Atualizada em 20/11/2021 às 08h00min

Devemos mesmo cobrar o passaporte vacinal?!

JOÃO LUCAS O'CONNELL

A campanha de vacinação contra a covid no Brasil avançou de maneira muito positiva ao longo de 2021. Milhões e milhões de brasileiros foram vacinados nos últimos 6 meses. Segundo os dados oficiais divulgados nesta semana, 127 milhões de pessoas (60% da população brasileira) já estão completamente imunizadas. Mais de 157 milhões (mais de 70%) já tomaram, pelo menos, uma dose da vacina. Mais de 10% das pessoas já tomaram, inclusive, uma terceira dose (o que aumenta muito o poder da imunização). Somando todas as vacinas dadas, temos mais de 300 milhões de doses já aplicadas. Aos trancos e barrancos, foi uma vitória muito positiva da ciência e do Programa de Imunizações do Brasil. 

 

Independentemente de qualquer posicionamento político, precisamos reconhecer a competência do Ministério da Saúde em garantir a aplicação de 300 milhões de doses em 11 meses. 

 

Entretanto, todo esse sucesso não foi fácil de ser atingido. Foram levantadas várias dúvidas em relação à eficácia e também em relação à segurança das vacinas. Autoridades do próprio governo, políticos, médicos e “cientistas” colocaram sistematicamente o poder de imunização das vacinas em dúvidas, o que poderia ter comprometido seriamente a eficácia da campanha. Sorte nossa que a luz venceu as trevas! 

 

Entretanto, sabemos que, infelizmente, apesar de termos várias vacinas desenvolvidas nos últimos 20 meses, nenhuma delas pode ser considerada esterilizante. Ou seja, nenhuma delas é capaz de evitar totalmente a ocorrência de uma gripe em decorrência do novo coronavírus e, muito menos, evitar a ocorrência de casos graves e óbitos. Assim, infelizmente, algumas poucas pessoas, mesmo já tendo adquirido a doença ou tomando a vacina, continuarão em risco de desenvolverem uma doença grave ao entrarem em contato com o vírus. Mas, por outro lado, existem inúmeros estudos científicos já publicados que comprovam que todas as vacinas distribuídas no Brasil diminuem (em pelo menos 50%) o surgimento de sintomas gripais. E, mais importante ainda, em mais de 80% a ocorrência de casos graves ou de óbitos por covid. Assim, se não surgir uma nova cepa do vírus, capaz de driblar o poder imunizante das vacinas atuais, estaremos seguros de novos transtornos aos sistemas de saúde e à economia!

 

Como tudo mais na vida, nada vem de graça! Infelizmente, apesar do sucesso coletivo das vacinas, é certo que, para algumas pessoas, elas podem causar algum tipo de dano. Sintomas como dor no braço, mal estar e febre podem acontecer em uma parcela razoável de imunizados. Para nosso bem, estes sintomas são, em geral, leves e passageiros. Mas, algumas pessoas podem desenvolver inúmeros sintomas e reações mais duradouras, inclusive reações graves! Doenças neuromusculares e miocardites são os efeitos mais temidos. É preciso destacar que estas reações graves são extremamente raras e muito menos frequentes que o benefício trazido para o indivíduo e para o coletivo. Mesmo para crianças e adolescentes... 

Apesar do bom controle da pandemia trazido pela vacinação em massa em nosso meio, algumas discussões polêmicas tomaram conta da mídia e das redes sociais. Uma das mais picantes diz respeito à necessidade da obrigatoriedade da vacina para aqueles que decidiram não se vacinar e a obrigatoriedade da apresentação do “passaporte vacinal” para a entrada em empresas, locais públicos e grandes eventos. Se a pandemia já não gera mais a preocupação quanto a uma crise nos sistemas de saúde, é justo manter a obrigatoriedade do uso de vacinas não esterilizantes? Ainda, como existe a chance de efeitos colaterais graves (mesmo que raros) é justo cobrar a vacinação de quem não quer se vacinar? Por outro lado, o empresário é obrigado a aceitar em sua empresa um colaborador que pode colocar a segurança de outros em risco ao não se vacinar? É justo você (que optou por não se vacinar) ter o mesmo direito de ir a um evento público liberado para grandes aglomerados do que quem aceitou se vacinar para se proteger e aumentar a chance de proteger ao próximo? 

 

No fim das contas, apesar das discussões calorosas relacionadas ao direito individual (de não se vacinar), o que deveria prevalecer são as orientações oficiais do Ministério da Saúde (que visam proteger o coletivo). Numa situação de ameaça à segurança nacional provocada pela pandemia (aos sistemas de saúde e à economia), a obrigatoriedade da vacinação e a exigência do passaporte vacinal devem permanecer válidas. Assim, que a ameaça da pandemia à segurança nacional for considerada controlada (o que deve acontecer em poucos meses) esta discussão não fará mais sentido, uma vez que a exigência da vacina ou do passaporte em território nacional passará a ser desnecessária. Esta discussão só fará sentido para viagens internacionais. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.



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