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06/11/2021 às 08h00min - Atualizada em 06/11/2021 às 08h00min

Perder um voo pode ser vantagem

DÉBORA OTTONI

No dia 04 de dezembro de 2020, estava com um voo marcado para São Paulo às 12:40h, para participar de um curso para Psicólogos clínicos. Tentei fazer o check in pelo aplicativo um dia antes por várias vezes e não consegui. Cheguei no aeroporto às 11:40h, mas não me deixaram embarcar e, para piorar a situação, me disseram que me liberariam se eu tivesse feito o check in pelo aplicativo! Uma senhora que estava à minha frente, também foi impedida de embarcar, pelo mesmo motivo. Tivemos que pagar por outra passagem cujo voo estava previsto para às 17:30h. 

Como ré confessa, assumo, não contive minha raiva, fui impulsiva, briguei, tentei argumentar, reclamei e expressei para todos que estavam por perto a minha indignação. Como se não bastasse, abri meu WhatsApp e “desabafei” com amigos e familiares. 

Enquanto isso, notei que aquela senhora estava extremamente calma e me olhava com um certo ar de “vergonha alheia”. Eu não me orgulho nem um pouco do que fiz neste dia, da minha reação e forma de agir mediante a situação. Eu realmente explodi.

Porém, uns dias depois (graças ao querido professor que ministrou o curso em SP), consegui dar um sentido para tudo o que me havia acontecido. 

Precisamos aprender a olhar para o mundo e entender que existe uma conexão entre todas as coisas, que elas não estão soltas ali, que não existem e nem se correlacionam por um acaso. Assim como nós e as circunstâncias que nos são dadas. 

É como se Deus “brincasse” conosco, nos colocando em diferentes lugares e situações para nos “testar”, nos usar. Quando conseguimos enxergar todos os momentos que vivenciamos através desta perspectiva, os problemas passam a ter um significado diferente para nós. Por isso, devemos observar com um olhar de curiosidade, de encantamento para os contextos e pessoas envolvidas na situação a que estamos postos. Assim, nossas ações deixam de ser egoístas, imaturas e impulsivas. Passamos a abrir mão do que sentimos e desejamos, para ser para o outro o que ele precisa naquele instante.

Infelizmente, quando nos deparamos com problemas, tendemos a nos centrar apenas em nossas dores, a agir tão automática e instintivamente, que não nos abrimos para a possibilidade de pensar no outro e no que podemos ser para ele. 

Aquela senhora, foi colocada naquela cena para me ensinar sem precisar abrir a boca, para me confrontar através de seu domínio próprio e para me mostrar que as nossas ações podem marcar a vida de alguém.  

Hoje, dia 04 de novembro de 2021, quase um ano depois, fui levar meus filhos no mesmo aeroporto para viajar pela mesma companhia aérea. Um filme me passou pela minha mente pois estávamos aguardando o horário do embarque dos meninos no mesmo saguão em que tudo tinha acontecido. Em pensamento eu me indagava: “Quantas pessoas será que eu deixei de marcar de forma positiva naquele dia por causa da minha imaturidade e egoísmo? ” 

Assim que meus filhos embarcaram, um senhor com roupas simples e semblante humilde, veio em minha direção olhando para mim com um olhar assustado, via-se nitidamente o desespero em seus olhos. Percebi que estava suando e suas mãos tremiam. Ele segurava um celular em uma mão e alguns papéis na outra. 

“Moça, a senhora pode, por favor me ajudar? Estou até tremendo aqui, moça...”

Em fração de segundos eu lembrei do diálogo interno que acabara de ter. Não existem acasos! E, inevitavelmente, me coloquei sensível à situação e disposta a ajudar aquele homem. 

Ele precisava preencher um formulário online pois estava indo viajar pela primeira vez para o exterior e não sabia como fazer. Estava angustiado porque estava quase encerrando a hora do embarque e corria o risco de perder o voo.  

Aquele homem não foi colocado naquela cena para que eu o ajudasse apenas. Uma vez que meus olhos se abriram para a compreender que os encontros dessa vida não acontecem por um acaso, eu vejo que uma simples ajuda é, na verdade, mais um passo para me aproximar daquilo que fui chamada a ser.  

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.




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