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28/10/2021 às 08h00min - Atualizada em 28/10/2021 às 08h00min

O Gigante Adormecido

IVONE ASSIS

No último domingo, durante uma estada em Araguari (MG), ganhei o interessante livro de contos “Nas asas da imaginação”, uma coletânea da GAEB (Grupo Associado de Escritores Brasileiros). Quando o abri, já em casa, deparei-me com a página 35 e, curiosamente, pela primeira vez, estava diante de uma escritora conterrânea. Assim como eu, a contista goiana Dill Ferreira nascera em Caiapônia (GO). Que surpresa! Coloquei-me a lê-la, de imediato. A biografia dela não deixa dúvidas quanto à sua produtividade literária.

Logo fui para a página 36, onde o conto “No topo do paraíso” me aguardava. A narrativa apresenta a história de amizade e amor de Thiago e Bela, um casal de desportistas ciclistas, que se aventuram na natureza e, no auge de seus 14 e 15 anos, respectivamente, juntos, escalam o Morro do Gigante Adormecido.

Caiapônia fica na mesorregião Sul de Goiás, sendo o terceiro maior município em extensão no estado, e abriga uma cidadezinha de quase 20 mil habitantes, de economia agropecuarista. Fundada no século XVIII, em 1 de janeiro de 1873, inicialmente se chamava “Vila do Divino Espírito Santo das Torres do Rio Bonito”, nome quase do tamanho da Vila, mas, em homenagem aos índios Caiapós, passou a ser Caiapônia. O Rio Bonito continua lá, bonito como sempre. O lugar ficou nacionalmente conhecido pela beleza e diversidade de suas quase cem cachoeiras, que convidam, a todo tempo, a uma descida de rapel, e a um bom banho. São cachoeiras para todos os gostos e tamanhos, cujas piscinas naturais, ao som da queda d’água, convidam ao descanso.

Uma cidade de agropecuaristas, sonhadores, artesãos, empreendedores e contadores de história. Dentre eles, Imbilino, personagem do artista Hugo Caiapônia, nome ficcional do cineasta caiaponiense Hugo Batista da Luz, que leva a alegria para seu público, por meio de seus satíricos longas-metragens e, igualmente, tantas vezes, despontou saudades em meu pai, que assistindo-o, revisitou estradas e lugares por onde passou, e suas lágrimas foram apagando a poeira e as lembranças.

Morro do Gigante Adormecido é um dos cartões-postais da cidade, sendo majestosamente visto ao longo da estrada. Aquele Gigante Adormecido, que a todos observa, é uma formação rochosa que convida às escaladas. Toda lente, que por ali passa, registra aquele Gigante. Meus olhos o registraram tantas vezes, que ainda sinto o cheiro da terra e do mato, ainda ouço o som do carro de boi e o sotaque baiano de meu pai, camponês que tanto lavrou aquela terra, banhando-a com seu suor, enquanto registrava, nos calos de suas mãos, a história de um povo.

Pelas picadas, o homem vai fazendo trilhas que, no amanhã, se tornarão estradas. Caiapônia é um lugar turístico no meio do cerrado goiano, com suas cachoeiras, cascatas, mirantes e grutas, e está há 520 km de Uberlândia (MG), uma cidade igualmente turística e pertencente ao cerrado, e que me abriga com carinho.

E, de algum modo, o conto de Dill Ferreira, “No topo do paraíso”, veio me convidar a uma visita àquele cantinho de céu goiano, que já se apagava em minhas lembranças. O conto me lembrou também uma cena do filme “Casa comigo?”, que ocorre na Irlanda, mas esta é outra história.

A contista zela para que elementos construtivos, como a amizade, o amor, o zelo, o respeito, o cuidado... estejam todo o tempo permeando a curta narrativa. Nela, Thiago vai adiante, enquanto protege a amiga, em sua aventura de bike. E, por mais difícil que sejam a caminhada e a escalada, eles não desistem, porque, cada um, em seu íntimo, sabe que, naquele instante, era a força motivadora do outro. Pois, desistindo um, impediria que o outro completasse sua jornada. A narrativa nos ensina que, pensar no outro é tão importante quanto pensar em nós mesmos, despertando assim, dentro de cada um, o cooperativismo, o Gigante Adormecido.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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