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12/10/2021 às 08h00min - Atualizada em 12/10/2021 às 08h00min

Puxando o tapete do entreposto

ANTONIO PEREIRA
Em abril de 1940, a interessante revista carioca “O OBSERVADOR” publicou um artigo de Luis Pinheiro Paes Leme em que o Triângulo e, mais especificamente Uberlândia, são responsabilizados pelas dificuldades do desenvolvimento goiano tanto pelos preços baixos aplicados às matérias primas e produtos agropecuários saídos de Goiás, como pelos altos preços das manufaturas subidas de São Paulo e destinadas ao grande estado central. Culpa o nosso comércio e a estrada do Fernando Vilela, por sinal, construída por um parente do articulista, o engenheiro dr. Ignácio Pinheiro Paes Leme.
                            
Seus argumentos são válidos, mas refletiam apenas as leis do mercado. O financiamento da produção agrícola goiana, mediante adiantamentos (e não apenas os lucros pela intermediação), realmente impunham um preço menor ao produtor.
                            
Os pedágios cobrados pela Companhia Mineira Auto Viação Intermunicipal eram o preço cobrado pelo uso de um bem particular. O estabelecimento do preço fica mais cômodo para o único explorador de um determinado serviço.
                            
Se podia haver um caminho mais curto e sem pedágio, com frete mais perto de um preço justo, era construí-lo. Entretanto, ninguém quis fazê-lo.
                            
As comissões e consignações cobradas de terceiros destinatários finais de mercadorias enviadas de São Paulo eram o custo da prestação do serviço de armazenagem e despacho na ocasião oportuna. Por quê se concentrava aqui esse tipo de negócio? Porque não havia outro caminho, embora o articulista tenha provado que se poderiam construir estradas mais curtas. É verdade. Só que, reafirmo, ninguém quis construir, nem os governos.
                            
Luis Pinheiro oferece soluções interessantes:
                            
1. Construção de estrada de São Simão a Colúmbia, no norte de São Paulo, onde já chegavam os trilhos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Verdadeiramente ocorreria uma diminuição enorme na distância. Era necessário construir uma ponte sobre o Paranaíba em São Simão. Goiás construiu. A Companhia Paulista aprovou a ideia e chegou a oferecer uma compensação financeira ao Estado de Goiás se conseguisse construir a estrada de rodagem de São Simão a Colúmbia. A construção da ponte assustou o comércio uberlandense, mas Deus estava meio triangulino nessa época e derrubou-a. Os goianos reconstruíram-na, mas não se fez a estrada de rodagem, nem Goiás podia construir em Minas.
                            
2. Goiás troca a parte norte do Estado por um pedaço de Mato Grosso, uma faixa insignificante, mas que permitisse estabelecer uma divisa direta com São Paulo e negociar com os paulistas sem intermediários nem pedágios mineiros. Também não deu certo.
                            
3. Construção de estrada de rodagem de Uberaba a São Simão, que também reduziria um pouco a distância, mas manteria o comércio goiano subordinado a intermediários, não mais de Uberlândia, mas de Uberaba. Era trocar de subordinação apenas.
                            
Como nada se fez e o único caminho prático para Goiás continuou sendo a Mogiana, a Companhia Auto Viação (de Uberlândia) e a ponte Afonso Pena, Uberlândia manteve-se na intermediação do comércio entre São Paulo e Goiás.
                            
A partir de Itumbiara, que era o ponto final da estrada uberlandense, novas rodovias formavam larga ramificação, como tentáculos que buscavam lucros distantes. Eram estradas para Bananeiras, Rio Verde, Morrinhos, Jatahy, Burity Alegre, Capelinha, Rio Branco e outras que se subdividiam tocando mais para a frente.
                            
Os caminhões cobravam frete, a partir de Uberlândia, de 200, 300, 400 e até 500 réis por quilo. Luis Pinheiro se bate pela construção da estrada São Simão/Colúmbia como melhor saída para a solução do desenvolvimento goiano. Infelizmente, para os goianos, e para sorte dos uberlandenses, não lhe deram ouvidos e a cidade continuou sendo um entreposto e mantendo a tradição que vem do João Severiano Rodrigues da Cunha (o Joanico) que em 1907 se bateu para a que ponte a ser construída sobre o Paranaíba ficasse em Santa Rita do Paranaíba (Itumbiara) para carrear produtos primários goianos e manufaturas paulistas para o entreposto que era a velha Uberabinha; pensamento semelhante ao de Fernando Vilela, em 1912, que apostou numa distância mais curta entre a ponte Afonso Pena e a linha da Mogiana.
                            
Esses alicerces mais os caminhos que se construíram no correr dos anos, transformaram Uberlândia no maior atacadista distribuidor da América Latina.
 
Fontes: Luis Pinheiro Paes Leme, jornais da época.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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