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21/08/2021 às 08h00min - Atualizada em 21/08/2021 às 08h00min

A Telemedicina chegou! Mas, por que tanta resistência?

JOÃO LUCAS O'CONNEL
A Telemedicina pode ser didaticamente definida como a ciência que estuda e desenvolve a troca de informações clínicas por meio de recursos tecnológicos. Trata-se, portanto, do uso de tecnologias de comunicação e de informação para a prestação de serviços e/ou treinamento em saúde, seja para provedores de assistência médica ou para pacientes. O seu campo de atuação envolve basicamente 3 aspectos principais: a teleassistência, a teleducação e a emissão de laudos à distância.
 
A teleassistência é a monitorização do paciente em seu próprio domicílio ou em um centro de saúde local. Até aqui, deve, obrigatoriamente, ser feita por um médico que se comunica com outros profissionais à distância, buscando uma segunda opinião com especialistas para tentar resolver o problema do seu paciente.
 
A teleducação envolve a capacitação e atualização do médico ou de outros profissionais de saúde por meio de videoconferências, programas de reciclagem e seminários de maneira remota.
 
Quando falamos de emissão de laudos à distância, estamos falando do envio de exames realizados em qualquer lugar do mundo para alguns centros de referência... Os exames são então laudados por especialistas e reenviados ao centro clínico inicial por meio da internet.
 
Apesar dos inúmeros benefícios advindos da aplicação destes recursos tecnológicos na assistência ou na educação médica, apenas durante a pandemia da COVID estas inovações tecnológicas passaram a ser implementadas na prática médica regular. Entretanto, apesar da liberação recente da prática da assistência da telemedicina pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) do Brasil (válida pelo menos até o fim do período da pandemia), a maioria dos profissionais de saúde de nossa região acabou aderindo pouco a esta prática.  Mas, se a Telemedicina é considerada um grande avanço na assistência médica, ampliando o seu limite e a oportunidade de acesso das pessoas, por que esta revolução não teve tanta penetração entre os profissionais médicos de nossa cidade e região?
 
Creio que, entre os profissionais médicos da região, não restam dúvidas sobre os potenciais benefícios da telemedicina. A expansão da Telemedicina pode ser uma boa estratégia para ampliar o acesso aos serviços de saúde, principalmente para aqueles que moram em cidades menores ou de difícil acesso. Quando bem aplicada, ela pode permitir um diagnóstico mais rápido (especialmente em situações de urgência), mais preciso (laudos médicos feitos por especialistas ou por análise computacional), e pode permitir um melhor controle clínico de pacientes (ao serem monitorizados à distância por equipamentos e médicos experientes)... Pode-se, por exemplo, acompanhar rigorosamente a pressão arterial, a frequência cardíaca, a glicose, a temperatura, o grau de retenção de líquidos nos pulmões de pacientes... E de longe! Sem um contato direto com o paciente! Isto permite uma taxa maior de sucesso com o tratamento que será bem melhor acompanhado com as novas ferramentas que estão surgindo. Além disso, ainda há os enormes benefícios da educação à distância... Hoje é possível levar as grandes novidades do mundo aos profissionais que trabalham em áreas de pouco desenvolvimento científico, sem que eles precisem se deslocar de lá. Tudo isto faz parte de uma revolução que não pode ser mais freada! Mas, se há tantos benefícios, por que o maior braço da telemedicina, a teleconsulta, ainda não é tão comum quanto as consultas presenciais?

Muito provavelmente, a dificuldade de crescimento importante do número de consultas feitas online (crescimento ainda tímido) se deva, entre outros: 

1- Maior dificuldade para a obtenção de uma boa história clínica e realização de um bom exame físico: A ausência de exame físico adequado pode, em inúmeras situações, comprometer uma avaliação adequada do paciente.

2- Dúvidas em relação ao resguardo do sigilo médico (é preciso dispor de ferramentas certificadas que preservem a segurança da informação trocada entre médicos e pacientes);

3- A maior possibilidade de processos jurídicos contra os médicos envolvidos com a prestação de serviços via teleconsulta. A ausência de exame físico numa teleconsulta poderá ser considerado num processo de erro médico como majoração da pena se o promotor ou juiz definirem que isso significou ausência do devido cuidado e gerou o nexo causal entre o ato e o dano.

Por fim, vale destacar que, atualmente, a telemedicina já é praticada em hospitais e instituições de saúde de todo o país, que buscam outras instituições de referência para consultar e trocar informações. Uberlândia continua tendo um papel importantíssimo no cenário nacional nesta revolução tecnológica que tem transformado a Medicina. A telemedicina é uma prática clínica que aliou os recursos tecnológicos existentes a uma demanda de pacientes que estão distantes geograficamente de centros de referência ou que não querem estar presencialmente num ambiente ambulatorial ou hospitalar, especialmente durante a pandemia. Suas ferramentas têm propiciado outras vantagens igualmente importantes, tais como a tele-educação, consultas virtuais, emissão de laudos a distância e facilidade de comunicação entre profissionais de saúde e destes com os seus pacientes. A telemedicina é hoje, provavelmente, uma nova ferramenta de uso no atendimento em saúde que chegou para ficar e deve ser bem aproveitada.
 
 


Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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