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16/08/2021 às 14h38min - Atualizada em 16/08/2021 às 14h38min

Tenho colesterol elevado: por que devo me preocupar?

JOÃO LUCAS O'CONNELL

A dislipidemia é caracterizada pela presença de níveis elevados de lipídios (gorduras) no sangue. Dentre estas gorduras, o colesterol e os triglicérides são aquelas mais discutidas pois estão associadas a alterações no risco cardiovascular do indivíduo. O colesterol tem papel fundamental na construção de membranas celulares, hormônios esteroides, ácidos biliares e, quando convertido em bile pelo fígado, ajuda na absorção intestinal de moléculas de gordura e de vitaminas solúveis em gordura (Vitamina A, D, E, K). 

 

Já os triglicérides são um tipo de gordura que o organismo utiliza para armazenar energia. As calorias ingeridas em uma refeição que não são utilizadas imediatamente pelos tecidos, são convertidas em triglicérides e transportadas para as células adiposas para serem armazenadas e utilizadas como energia no futuro. 

 

Existem inúmeros estudos científicos, analisando grande número de pessoas com o seguimento de vários anos, que mostraram que o excesso de colesterol e triglicérides no sangue circulante se correlaciona a uma série de complicações. A principal delas é a aterosclerose - uma doença caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura (ateromas) na parede das artérias e que infelizmente é umas das principais causas de morte no Brasil e no mundo. 

 

Assim, a presença de dislipidemia coloca o indivíduo em um risco mais elevado de apresentar, principalmente, um infarto ou um acidente vascular cerebral (AVC).

 

A aterosclerose é uma doença cada vez mais prevalente nos dias atuais, especialmente nas populações que convivem com elevados índices de obesidade, sedentarismo, alimentação rica em gordura e açúcar, estresse, tabagismo, diabetes e hipertensão arterial. Apesar de que o risco de aterosclerose aumenta com o passar da idade, vários estudos têm mostrado que as placas de gordura nas artérias (circulação) podem começar muito cedo. 

 

A estimativa é a de que, aos 20 anos, cerca de 20% das pessoas já estarão afetadas de alguma forma pelo depósito de gordura nos vasos sanguíneos. Como o processo de acúmulo é contínuo, a progressão da doença é constante e a sua incidência aumenta progressivamente com o envelhecimento do indivíduo. 

 

Apesar de a dislipidemia, por si, não levar a sintomas, sabe-se que o risco de aterosclerose coronariana (depósito de gordura nos vasos que levam sangue para irrigar o coração) aumenta, significativamente, em pessoas com níveis de colesterol total e LDL acima dos patamares da normalidade (risco bastante elevado se níveis maiores que 240 mg/dl e que 160 mg/dL respectivamente). 

 

Para o colesterol HDL (o colesterol “bom”), a relação é inversa: quanto mais elevado seu valor, menor o risco de doenças cardiovasculares. Assim, níveis de colesterol HDL maiores do que 60 mg/dL caracterizam um importante fator protetor. Já os níveis de triglicérides maiores do que 150 mg/dL também elevam um pouco o risco de doença aterosclerótica coronariana. Níveis maiores que 250 mg/dL, especialmente em diabéticos, têm uma relação mais evidente. 

 

Além do aumento significativo da possibilidade de o paciente portador de dislipidemia enfrentar algum evento cardiovascular ao longo de sua vida, algumas formas de dislipidemia também podem predispor à ocorrência de pancreatite aguda.

 

Existem dois tipos básicos de distúrbios do colesterol: as dislipidemias primárias e as secundárias. As primárias são de causa genética e têm um padrão de acometimento familiar. Estes distúrbios dependem muito pouco do tipo de alimentação e nível de atividade física dos indivíduos, o que acaba gerando alguma dificuldade de entendimento do problema por parte de alguns pacientes que acabam insistindo em não aceitarem a necessidade do uso de medicamentos para o seu controle. 

 

As dislipidemias secundárias podem ser provenientes de outros quadros patológicos, como o diabetes e o hipotireoidismo; secundários a estilo de vida inadequado (obesidade, sedentarismo, etilismo, por exemplo) e também podem ser originadas por medicamentos – diuréticos, betabloqueadores, anabolizantes e corticosteróides. Nestes pacientes, a mudança do estilo de vida pode levar a uma mudança até significativa nos níveis de colesterol. Entretanto, em pacientes de alto risco cardiovascular, mesmo a mudança dos hábitos de vida pode não ser suficiente para atingirmos a “meta” ideal dos níveis de colesterol. 

 

Para evitar o aparecimento de dislipidemia é importante alimentar-se corretamente, evitando exagerar no consumo de açúcares e alimentos gordurosos. O ideal é optar por uma dieta rica em verduras, legumes, frutas e carnes magras e praticar atividade física regularmente. A atividade física moderada, realizada durante 60 minutos, pelo menos quatro vezes por semana, também auxilia na redução dos níveis de colesterol e triglicérides. Mesmo assim, ainda pode ser necessária a administração de medicamentos para boa parte dos pacientes, em especial, para aqueles de maior risco cardíaco.

 

Existem várias medicações que podem ajudar na intenção da redução dos níveis de colesterol e de triglicérides. A escolha da necessidade do uso e do tipo de medicação a ser utilizada vai depender de um conjunto de fatores como: a presença de doença aterosclerótica já manifesta, a associação de outros fatores de risco (como o tabagismo, o diabetes, a hipertensão arterial), o nível de colesterol atual e a meta de nível do colesterol a ser alcançado pelo paciente e outros. 

 

De todas as medicações que surgiram nos últimos anos prometendo o aumento do tempo de vida útil de pacientes aparentemente saudáveis, a que mais é acessível para promover a diminuição do risco cardiovascular são as estatinas. Procure o seu cardiologista para avaliar o seu risco cardiovascular atual e avaliar se é necessário um tratamento específico para o controle dos níveis de seu colesterol.


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