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07/08/2021 às 08h00min - Atualizada em 07/08/2021 às 08h00min

Por que os casos de Covid na região voltaram a aumentar?

JOÃO LUCAS O'CONNEL
Infelizmente, segundo o último Boletim Epidemiológico de Uberlândia (BEUDI), a segunda quinzena do mês de Julho apresentou um importante crescimento do número de novos casos (+54,1%) e de óbitos (+42,1%) em relação aos primeiros quinze dias de julho. Nas últimas semanas, estivemos sempre com mais de 95% de ocupação de leitos de UTIs das redes pública e privada. Apesar da vacinação de boa parte da população (pelo menos com a primeira dose), e apesar da queda do número de novos casos e óbitos verificados no Brasil, em Uberlândia e região os números continuaram a subir durante todo o mês de julho!
 
Muitos médicos, agentes públicos e até cientistas ficaram indignados e surpresos com este crescimento do número de novos casos. Era realmente de se esperar que, com uma boa parte da população com mais de 40 anos vacinada, observássemos uma queda progressiva dos números da pandemia, assim como o observado no restante do país e do mundo.
 
Assim, como explicar o crescente aumento dos números? Há algumas semanas, nesta coluna, chamamos a atenção para a possibilidade de uma terceira onda de disseminação da doença por aqui (assim como estamos verificando agora). Ao levantarmos esta possibilidade, havíamos sugerido algumas possibilidades que poderiam levar à retomada deste cenário preocupante e à possibilidade da necessidade de novo fechamento de comércio e de outros ambientes de possível aglomeração (que deve, infelizmente, acontecer nas próximas semanas).
 
Esta pandemia tem nos mostrado que é sempre muito difícil fazer projeções e também muito difícil explicar os motivos dessas variações do número de novos casos e óbitos entre diferentes cidades, regiões e países. Tudo fica na base da especulação e teorias... Existem várias teorias que podem tentar explicar o crescimento de casos. Uma delas é a de que, assim como aconteceu no ano passado com a Covid e assim como acontece com a maioria das doenças causadas por vírus respiratórios, durante o inverno existe um aumento natural no número de novos casos e óbitos. Isto acontece devido a uma maior transmissão do vírus entre as pessoas (que convivem mais em ambientes fechados e pouco arejados) e também por uma redução da imunidade causada pelo tempo mais frio e mais seco.
 
Uma outra teoria que ajuda a explicar este aumento de casos verificada em Julho foi a maior liberação das atividades de comércio, a reabertura de escolas e, principalmente, a reabertura de ambientes que permitem a aglomeração de muitas pessoas no mesmo local. Toda esta maior circulação de pessoas, associadas a prováveis descuidos com os protocolos de higiene manual e respiratória - intensivamente divulgados - também possa ter contribuído para uma maior disseminação do vírus entre a população.
 
Mas, os dados oficiais apontam que menos de 15% das pessoas (provavelmente muito mais) já foram oficialmente diagnosticadas com Covid nos últimos 18 meses. Estes teriam uma imunidade relativamente alta contra o coronavírus e dificilmente vão se infectar novamente (pelo menos dentro de um mesmo ano após a infecção inicial). E mais, boa parte dos outros 85% da população (que estaria vulnerável à agressão pelo coronavírus) também já foi vacinada. Pelo menos a maioria dos pacientes com mais de 60 anos... Sendo assim, boa parte da população adulta já teria adquirido a imunidade contra o vírus ou pela doença ou pela vacina. Assim, por que o aumento do número de casos mesmo com a vacinação de parte razoável da população?
 
Um dado que chama muita atenção na divulgação das estatísticas e poderia ajudar a explicar parte da elevação, é que a maioria dos novos casos da doença, e boa parte dos óbitos, está acontecendo em indivíduos mais jovens (com menos de 60 anos de idade) e muitos destes ainda não teriam tomado as duas doses da vacina ainda, estando assim ainda vulneráveis ao desenvolvimento de sintomas da gripe, em especial, de infecção com sintomas mais leves ou moderados, uma vez que a vacina protege mais contra o desenvolvimento da forma grave do que contra o desenvolvimento de sintomas de gripe, em si.
 
Por fim, uma outra teoria para explicar o aumento dos números da pandemia estaria no fato de que o coronavírus tem apresentado constantes transformações e várias variantes (ou cepas) diferentes têm sido identificadas. Algumas delas (como a variante P1 – Manaus – ou variante delta - indiana) já se mostraram muito mais transmissíveis do que as variantes originais (que circularam por aqui em 2020). Assim, da mesma forma que a variante Manaus levou ao caos dos sistemas público e privado de saúde no início do ano, não há como desprezar a possibilidade de que a variante indiana esteja sim presente em boa parte de nossos pacientes contaminados recentemente e que os altos números verificados nas últimas semanas possam estar relacionados a um aumento da proporção de variantes mais transmissíveis dentre a população.
 
Infelizmente, como já discutimos aqui há algumas semanas, quanto mais transmissível for a variante, mesmo que ela não seja mais letal, ela leva a um novo aumento do número de casos e também de óbitos porque ela acaba levando a contaminação de um número bem maior de pessoas. Como se já não bastasse, existem evidências que as vacinas (em especial a Coronavac) possam não ser tão eficientes para frear a disseminação destas novas variantes do vírus quanto são eficientes contra as variações mais iniciais do vírus. Os números da pandemia mundo a fora têm demonstrado que, infelizmente, por onda a chamada variante delta chega, ela traz consigo uma nova onda de terror e desestruturação dos sistemas público e privado de saúde. Isto tem acontecido, principalmente, em localidades que ainda não vacinaram 60% da população com as duas doses (como é o nosso caso). Vamos torcer para que esta nova onda de disseminação que se iniciou nas últimas semanas seja menos importante e mais curta do que a onda verificada no início do ano. E vamos esperar que retomemos rapidamente uma situação mais tranquila em nossos Hospitais e UTIs, para que novas medidas restritivas à circulação não sejam necessárias.


Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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