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31/07/2021 às 08h00min - Atualizada em 31/07/2021 às 08h00min

Aspirina e Ômega 3 para a prevenção de doenças do coração: mito ou verdade?

JOÃO LUCAS O'CONNELL
PEXELS
Mesmo com todo o terror e mortes trazidos pela pandemia da COVID, as doenças cardiovasculares (Infarto, AVC, Hipertensão, Arritmias e outras) ainda são as doenças que mais matam hoje, no Brasil e no mundo. Ao todo, são mais que 300.000 óbitos cardiovasculares no Brasil! Número maior, inclusive, que os causados pela COVID em 2020. Apesar do aumento progressivo do número de óbitos por câncer, doenças infecciosas, acidentes, homicídios, mais de um terço dos óbitos no país ainda estão relacionados às doenças do coração e dos vasos sanguíneos.
 
Há algumas décadas, cientistas têm estudado o impacto de várias substâncias e medicações em promover benefícios ao coração e aos vasos sanguíneos. Apesar de muita especulação que surgiu ao longo das últimas décadas, pouca coisa foi realmente comprovada como benéfica em relação à proteção cardiovascular. Entende-se por prevenção, medidas que podem ser tomadas pelo indivíduo, ou por um grupo populacional, para diminuir o risco de eventos cardiovasculares graves (infarto, AVC) ou de morte provocada por um destes eventos.
 
Dentre inúmeras substâncias já sugeridas como benéficas pela comunidade médica, pela comunidade científica, e também pela comunidade leiga em geral, população, o uso da Aspirina (nome comercial mais conhecido do Ácido Acetil Salicílico - AAS) e da gordura insaturada Ômega 3, estão entre as substâncias mais propagadas nos últimos anos como potencialmente benéficas para promoverem uma melhora na qualidade de vida e para prolongar a quantidade de vida das pessoas.
 
Entretanto, mesmo após décadas de estudos científicos acerca destas duas substâncias, a real eficácia delas ainda não é um fato incontestável. Pelo contrário, a maioria das evidências científicas fala mais contra algum potencial benefício no seu uso para a prevenção de doenças do coração dos e vasos sanguíneos.  
 
Assim como foi extensivamente debatido em relação a eventual eficácia do “tratamento precoce” para a COVID, também para a prevenção de doenças cardiovasculares, os médicos não deveriam defender recomendações de dieta ou suplementação baseadas em achismos pessoais ou observações de algumas dezenas de pacientes. As recomendações formais devem, idealmente, se embasar em estudos científicos bem conduzidos, acompanhando, pelo menos, algumas centenas de pacientes.
 
Assim, nos últimos anos, alguns estudos bem conduzidos falharam em detectar qualquer benefício do uso do ácido acetil salicílico (AAS) em diminuir a ocorrência de eventos cardiovasculares em pacientes diabéticos (estudo ASCEND) ou portadores de risco cardiovascular intermediário (estudo ARRIVE). Sendo assim, atualmente, o uso desta medicação como prevenção cardiovascular deve se restringir a pacientes de muito alto risco (que já tenham apresentado algum evento cardiovascular prévio) ou de alto risco (pacientes que tenham documentação de doença aterosclerótica que possa se instabilizar).
 
Em relação à eficácia do uso do Ômega 3 para a prevenção de doença cardiovascular, a maioria das pesquisas com menor número de pacientes também falharam em demonstrar qualquer benefício. Também mais recentemente, um grande estudo (estudo ASCEND) também falhou em demonstrar qualquer utilidade no uso do Ômega 3 para a diminuir a ocorrência de eventos relacionados à agravos ao coração e aos vasos sanguíneos.
 
Apesar da falha destas substâncias em proteger o coração e os vasos sanguíneos contra doenças relacionados a eles (em especial, doenças ateroscleróticas), devemos salientar que existem inúmeras medidas não farmacológicas (relacionadas à mudanças no estilo de vida do paciente) e várias outras medicações que conseguem promover sim uma melhora na saúde cardiovascular e diminuir a chance da ocorrência de doenças cardiovasculares e, inclusive, diminuir a chance de óbito em decorrência de alguma delas.
 
Assim, existem inúmeras medidas que comprovadamente melhoram a proteção cardiovascular: algumas dietas são sim, protetoras, assim como também são: a atividade física regular, a interrupção do tabagismo, o controle do estresse emocional, da pressão arterial, do colesterol e glicose sanguíneos. Dentre todos os medicamentos utilizados para o controle destas comorbidades, algumas têm se mostrado fortemente relacionados à uma boa proteção cardiovascular. Discutiremos sobre algumas delas nas próximas edições desta coluna.
 

 Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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