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29/07/2021 às 18h41min - Atualizada em 29/07/2021 às 18h41min

Barata

Esta é uma crônica machista, SQN!

Concordo, estão quase todos certos. O assunto aqui abordado pode ser para a maioria das pessoas, em particular as mulheres, asqueroso. Portanto, como o Ministério da Saúde faz, aqui deixo o alerta: A leitura deste texto pode fazer mal à saúde e até embrulhar o estomago. Pois é, vamos falar de um forte aliado dos homens: A barata. Essa mesma. Aquele bicho cascudo e que algumas espécies dominam a arte de voar, como a grandona, a senhora dos esgotos, conhecida nos livros pelo pomposo nome de Periplaneta americana. Nome este que lhe confere um certo ar galáctico, até romântico. Posso imaginar o torcer de narizes, aí do outro lado do papel.

Mas a mais pura verdade: para nós homens, a barata é uma das nossas maiores aliadas, deveria ser o símbolo máximo da libertação masculina, este ser tão oprimido por uma sociedade que nos jogou a segundo plano. As mulheres estão dominando o planeta e nós, assim seguindo, seremos apenas figuras de decoração e divertimento, um brinquedinho na mão das déspotas de saias. Saias? Que nada, foi-se o tempo.

Os serviços secretos, de inteligência – leia-se CIA e KGB, desde o século passado, já percebendo esta tragédia, em conluio com a indústria química, resolveram boicotar a produção do potente Rodox. Aquele da propaganda onde a pobre baratinha ao final, em desespero, gritava:

— Não, por favor, Rodox não, é covardia!

Esta terrível arma química conspirava contra a supremacia masculina, pois municiava as mulheres com mais um instrumento de libertação. Calma senhoras, não me condenem ainda à lapidação, não atirem ainda vossas pedras, não merecemos tamanho martírio.

O plano não sei se deu certo, mas começou a surgir na sociedade uma nova espécie de mulher: A baratofóbica.

Vocês já presenciaram a cena de uma mulher matando uma barata? Não sei se todas, mas a maioria se arma de spray, chinelo, lanterna led, convoca os filhos, amigos e vizinhos e promove um verdadeiro cerco ao pobre inseto, que por azar voou janela adentro. Joga veneno, pula metro para trás, solta um grito. Se não tiver veneno, vai o desodorante do filho mesmo. Alguém aproveita que a já intoxicada está meio zonza e senta chinelada certeira. Outra série de gritos, agora bem altos, não do dono do chinelo, mas da mãe que, a esta altura, está em pé no sofá, com a lata de veneno na mão, dirigindo o feixe de luz da lanterna bem no rosto de quem se propôs a ajudar, irritantemente cegando-o. Pergunta apavorada em alto tom:

— Matou? Matou? Matou direito? Essa horrorosa é esperta! Confere, vê se ela não está fingindo!

A luta continua e quem passa pela rua pode até pensar que está acontecendo o maior barraco doméstico da história.

Agora o melhor de tudo. Depois do massacre e retirada do corpo, não conformada, ela promove a maior limpeza. Afasta móveis e esvazia gavetas de cômodas por onde a barata “poderia” ter passado. Álcool gel, detergente, vassoura, rodo e em pouco tempo a área do confronto está um brinco de limpa e cheirosa, higienizada, como se sala cirúrgica fosse.

Nas casas, onde as tarefas domésticas são divididas entre todos os membros da família, desde as faxinas semanais até limpeza dos banheiros ao quintal. Bolei um truque sacana para ajudar os homens. Em segredo crio baratas em meu laboratório, com a desculpa de alimentar meus escorpiões. Assim, quando eventualmente bater aquela preguiça de agarrar ferramentas de trabalho do lar, me liga. Empresto baratas. Assim você leva uma escondida e solta na sala, no quarto ou no banheiro. Tem coisa mais chata do que lavar banheiro? Faça jeito para que a companheira veja o inseto e o extermínio à invasora recomeça. De quebra, providencialmente, limpa cada cantinho da área. E você, com a mais angelical das posturas, fico quietinho a ler um bom livro ou jornal. Adoro as baratas, elas são um barato.
Este é um texto de ficção, qualquer semelhança com fatos reais provavelmente não será coincidência.
 
 
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