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19/06/2021 às 08h00min - Atualizada em 19/06/2021 às 08h00min

Você tem umbigo, mas o mundo não gira ao redor dele

IARA BERNARDES
Hoje eu queria escrever um texto soft, bem leve, sem polêmica, mas sabe quando bate aquele comichão com peso de responsabilidade que não lhe permite simplesmente fingir demência e seguir em frente? Então, hoje é o dia, vou disparar e desabafar.

Nos últimos meses eu tenho ouvido muitas pessoas me falarem: eu sei que você é amiga da fulana; sicrana disse que vocês são muito amigas, de dentro da sua casa; amiga... amo seus filhos como se fossem meus. Meu povo! Caiam na real, eu tenho a quantidade de amigos que cabem em menos dos dedos de uma única mão. Parem de achar que por sermos simpáticos com alguém isso nos faz melhores amigos. O nome disso é educação, não amizade. 

Percebo pessoas tão desesperadas por amizade, querendo estender sua lista de relacionamentos interpessoais aos embalos dos versos de Roberto Carlos: “Eu quero ter um milhão de amigos/ E bem mais forte poder cantar...”, que simplesmente perdem a noção da verdadeira premissa da amizade: construção de confiança. Ou seja, não significa estar disponível 24 horas por dia, ou o outro poder contar contigo para absolutamente qualquer coisa, mas sabermos que contaremos com nossos melhores amigos na direção do que é certo, do que edifica e da verdade.

Além disso, os reflexos nas crianças e adolescentes é massacrante, pois os mais tímidos ou menos populares se sentem vendidos à própria sorte por não estarem rodeados de colegas idiotas que os aplaudam em qualquer sandice, e os mais populares normalmente são alimentados pelo ego que os levam a se exporem das maneiras mais ridículas e absurdas.

Lá vem eu ter que explicar, novamente, que isso não é uma regra, mas uma constatação cotidiana.

Ahh, e tem isso também, temos que explicar tudo, ficar cheios de dedos no que vamos falar, “para não dar margem a interpretação”. Jesus Amado! Que tirania da autoexplicação sem medida. Que necessidade de tudo estar bem claro, pois nossa imagem será manchada. Quero mais é que as pessoas interpretem e que se não estiverem satisfeitas que se satisfaçam com mais diálogo e abertura a entender que não somos obrigados a aguentar a imaturidade alheia e mimimi desenfreado. 

E tem mais, abri a porteira, agora vou soltar tudo que está entalado aqui: vocês sabiam que as pessoas mudam? E mais, vocês sabiam que nem sempre a impressão que você tem de alguém não é nada mais que a SUA impressão? E mais... já falei sobre isso: um joinha no Whatsapp pode não significar nada além de um joinha, ou uma pessoa te apontar o dedo do meio no trânsito não deve ser capaz de tirar do sério a ponto de acabar com seu dia, não receber um sorriso na porta da escola pode ser apenas que você mudou o formato da máscara e o outro não te reconhece, ou, quem sabe, ele só está com a cabeça cheia mesmo e não está afim de sorrir para ninguém. Por favor, parem de achar que tudo é a seu respeito e que alguém está sempre disposto a te ferir, pois na maioria das vezes o outro nem lembra mesmo que você existe.

Enfim, saiba que esse comportamento infantilizado e vitimista vai acabar é por não fazer com que qualquer pessoa te ajude, mas tenha apenas uma piedade tóxica e destrutiva em você e nos que te cercam e deixar tudo assim tão detalhadinho, temendo más interpretações, irá só aumentar as “desconfianças” acerca do que você fala, mesmo que suas reais intenções não sejam ruins. 


Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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