24/04/2021 às 08h35min - Atualizada em 24/04/2021 às 08h35min
A militância pelo próprio umbigo
DÉBORA OTTONI
Divulgação Ao observarmos a dinâmica que envolve a vida de uma criança percebemos que tudo gira em torno dela. Se ela tem sede, fome ou está suja, basta chorar que alguém aparece para aliviá-la. Nesta etapa da vida somos totalmente dependentes, pois as nossas necessidades mais básicas só podem ser supridas através dos cuidados de alguém. Assim, a autorreferência é característica marcante da infância, cujo fator condicionante é o egocentrismo. Portanto, é válido afirmar que o sujeito imaturo só enxerga o próprio umbigo.
O indivíduo em processo de aperfeiçoamento precisa sair dessa camada de imaturidade. Essa transição exige FORÇA para aceitarmos que não somos mais o centro das atenções, que dependemos de nós mesmos e que a rejeição é uma realidade. Esse é o mundo real, desconhecido pelo olhar do sujeito infantilizado. Desconhecido, portanto, pela nossa geração “umbigo de ouro”.
Uma geração formada por pessoas que recusam essa realidade, pessoas que adotam o discurso egocêntrico do amor próprio, que não se esforçam, se revoltam quando contrariadas e só vivem para satisfazer suas vontades primárias (comida, sexo e conforto). Transcender? Imagina. Não sabem o que isso significa. Odeiam a religião, desprezam os limites das leis divina e social, banalizam a tradição e a moralidade. Só querem a autossatisfação e o prazer.
E na tentativa de transpor sua inexpressividade, levantam bandeiras e militam por causas.
Porém, nunca foi sobre lutar por amor às mulheres indefesas e seus bebês em seus ventres, ou sobre levantar bandeiras por amar os negros, homossexuais e obesos, ou ficar em casa por zelo ao grupo de risco.
O sujeito que ainda não se permitiu passar pela dor do amadurecimento (sair de dentro de si e olhar para fora) é incapaz de se entregar a um propósito genuíno, cuja motivação primeira é O OUTRO.
É sobre querer validar suas fraquezas e egoísmo sem se sentir mal. É sobre ter respaldo para sua imoralidade sem parecer transigente com o erro. É sobre desejar apenas o seu bem estar, rejeitando o desconforto e as responsabilidades da vida adulta. É sobre deturpar a realidade para construir um universo utópico imaturo: um mundo sem rejeição, sofrimento, competitividade e frustrações.
É mais fácil criar argumentos para defender o aborto, do que confessar que não se quer é assumir as consequências do sexo livre (faça, mas faça sabendo de TODAS as possibilidades!).
É mais fácil culpar o outro e chamá-lo de homofóbico ou racista, do que assumir a própria fraqueza, vitimismo e incapacidade por não ser bem sucedido através de mérito e esforço (gênero e cor não definem capacidade e inteligência de ninguém).
É mais fácil falar de gordofobia, preconceito e aderir a grupos que relativizam a beleza e a diligência, do que assumir a sua intemperança e preguiça que te impedem de buscar a excelência de bons resultados.
É mais fácil defender a bandeira “toda forma de amor e diversão é válida” e viver como Peter Pan, do que reconhecer que você só quer prazer, sem a responsabilidade e constância que exige a vida comum e ‘sem graça' de um adulto.
Como pode dizer ser por amor a alguém que nem conhece, se mal consegue amar, conviver e cuidar dos que estão dentro da sua própria casa? Se nunca fez questão de perguntar ao vizinho se está precisando de alguma coisa? Se menospreza o andarilho e nunca cuidou de UMA pessoa realmente necessitada do seu entorno? Se sequer dobra os joelhos de madrugada para interceder pela dor destes desconhecidos que diz defender?
O sujeito imaturo e autorreferente é incapaz de olhar para além do seu próprio mundo. É tudo sobre como ele se sente, a respeito do que ele deseja e para o seu próprio bem-estar.
Crianças apenas brincam de ser heróis justamente por não saberem o verdadeiro significado de abnegação.
Nunca foi sobre amar o próximo ou sobre amor às causas nobres da humanidade. Sempre foi sobre paixões e causas próprias.
SEMPRE FOI SOBRE AMAR O PRÓPRIO UMBIGO!
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