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20/03/2021 às 09h01min - Atualizada em 20/03/2021 às 09h01min

Geração Peter Pan

DÉBORA OTTONI
Foto: REPRODUÇÃO/CASULE.COM
Você sabia que a fase da adolescência só foi reconhecida pela sociedade ocidental no final do século XIX? Antes disso, a criança “pulava” essa etapa direto para a fase adulta. O indivíduo encarregava-se, desde cedo, de responsabilidades que o amadurecia precocemente. E, sinceramente, não vejo isso com maus olhos!

O livro O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, é um clássico da década de 50, no qual o personagem principal, Holden Caulfield, era um adolescente de 17 anos que vivia os conflitos dessa fase. Ele exprime em todo o tempo angústia e rejeição ao adultescer. Demonstra revolta através de discursos e pensamentos rebeldes. Para ele, o adulto é um sujeito fraco que precisa se adequar aos padrões exigidos pela sociedade/sistema.

É triste saber que em 2021 ainda prevalece uma geração de adolescentes tardios de 20, 30, 40 anos. Adultescentes que criam subterfúgios para driblar as responsabilidades que a vida adulta exige. Pessoas que tentam impor ao mundo uma força inexistente em suas personalidades através de “bons discursos” e “boas ideias” apenas. São Holdens Caufields, que demonstram covardia em suas ações, revelando identidades masculinas débeis, fragilizadas e amedrontadas pela necessidade de crescer.

A antiga geração de jovens do sexo masculino se dedicava ao trabalho, casava e assumia uma família ainda quando não se via pelos em seu rosto. Ao comparar essa geração com a atual, me recordo dos pensamentos do psicólogo canadense, Jordan Peterson, sobre a síndrome de Peter Pan (adultos que não querem crescer), quando frisa que “Para o homem maduro, o sacrifício é inevitável”.

Porém, o discurso atual é: SIGA A SUA FELICIDADE ACIMA DE TUDO. Essa narrativa alimenta egocentrismo e imaturidade, pois coloca o indivíduo no centro do mundo, onde os seus afetos, prazeres e desejos são prioridades. Diante dessa prerrogativa que estimula a pessoa a permanecer em sua zona de conforto, que homem estaria disposto a se sacrificar?

O egocêntrico nunca se sacrificaria por um relacionamento ou por uma família. Tampouco, seria maduro o suficiente para renunciar o comodismo e buscar seu próprio sustento para sair mais cedo da casa dos pais. Também, não abriria mão de seu egoísmo a ponto de se doar pelo trabalho. Ele é incapaz de passar por cima de sua insegurança e se render ao sacrifício de assumir responsabilidades, pois está sempre evitando se expor às dores e dificuldades da vida adulta.

O homem corajoso sabe que o sacrifício é inevitável e acata sem medo o que a vida lhe impõe. O homem leal não se guia pelo prazer da autossatisfação e compreende que, acima de tudo, ele deve se sacrificar pelo outro. O homem forte é aquele que abomina o comodismo e busca um ofício. O homem maduro se incomoda com a possibilidade de permanecer na meninice e, por isso, procura abraçar compromissos e responsabilidades.

Apenas homens virtuosos reconhecem que seus afetos, desejos e vontades, quando colocados acima da razão, são expressões de imaturidade e egoísmo. A maturidade de um homem está na sua capacidade de basear suas escolhas no que é perene e estável em oposição ao efêmero e passageiro.

Uma moda hoje dita aos homens que cultivem cuidadosa e simetricamente suas barbas. Eles gastam horas nutrindo um visual másculo através de seus pelos, mas são incapazes de sacrificar as mesmas horas buscando o que realmente trará solidez e maturidade para suas vidas.

São esses barbudos que se desorientam quando contrariados, que trocam suas calças por saias subjugando sua força a qualquer ideologia que reforce sua imaturidade, que abandonam o relacionamento na primeira dificuldade. Querem mudar o mundo, mas não arrumam a própria cama. Não abdicam do videogame, não querem sair do conforto da casa dos pais e só querem trabalhar se for em algo que lhes dê prazer.

Alguém, por favor, avisa para estes mocinhos, que os pelos sozinhos não transmitem a mensagem de que eles realmente cresceram!

 
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