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06/03/2021 às 09h06min - Atualizada em 06/03/2021 às 09h06min

De crise em crise

ALEXANDRE HENRY
Completo quarenta e cinco anos de idade neste mês de março e, desde que eu nasci, o Brasil já passou por um monte de crises econômicas. É algo surpreendente mesmo.

Nasci em 1976 e, quando ainda era criança, o país teve talvez sua pior década na história. A gente costuma se lembrar do período militar como uma época de bonança, de crescimento, mas o fato é que a crise do petróleo na década de 1970 e o endividamento durante o governo Geisel levaram a um final melancólico da ditadura nas mãos do General Figueiredo, que entregou o poder aos civis sob uma monstruosa crise financeira. Veio então o governo Sarney e aquele monte de planos mirabolantes. Congelaram preços e a consequência foi o desaparecimento de muitos produtos da prateleira. Queria comprar carne, por exemplo? Não tinha. A década de 1980 é conhecida como década perdida por uma boa razão. Emendar dois governos – Figueiredo e Sarney – marcados por desastres econômicos não foi fácil.

Aí, veio o Collor e toda a esperança. De repente, ele toma posse e faz o sequestro dos ativos financeiros do país. Quem viveu aqueles meses se lembra bem do desespero. Em um dia, você tinha lá sua poupança guardada e, no outro, estava tudo bloqueado. Vieram outros planos mirabolantes, mais recessão, mais crise. Collor se foi prematuramente, entrou Itamar e, pela primeira vez na minha vida, após a entrada em vigor do Plano Real, eu passei a viver em uma sociedade na qual a inflação não era mais o assunto principal e não importunava todo mundo o tempo todo. Isso foi a partir de 1994. Porém, como já tinha ocorrido outras vezes em nossa história, nem tudo foi feito de forma correta. Juros ficaram nas alturas, dólar com cotação baixa de forma irreal, até que tudo estourou de novo em 1999. Não foi como antes, pois a inflação não subiu tanto e o desespero foi menor, por exemplo, do que quando Collor confiscou a poupança.

A nova penúria durou até 2004. O novo governo de esquerda não era o monstro na área econômica que tanto assustava o mercado, a China estava comprando tudo o que o mundo podia vender para ela de matéria-prima, a inflação estava sob controle, enfim, um bom cenário para crescermos. E foi o que aconteceu. Eu confesso que, naqueles anos, tive uma esperança boa em relação ao Brasil. Achei que finalmente tínhamos encontrado o caminho. Nem o soluço no final da década de 2000, com a crise financeira global de 2007-2008, foi capaz de apagar essa esperança, já que tivemos uma desaceleração da economia, sim, mas logo voltamos a caminhar bem. Não durou tanto. Em 2014, crise política se juntou com crise econômica, após uma série de erros nessa área, e tivemos uma recessão profunda, da qual estávamos deixando para trás quando veio a atual pandemia.

E agora? Agora, é quase certo que vamos ter ainda ao menos uns cinco ou seis anos de complicações. Provavelmente, viveremos por um período de crise econômica tão longo, se contarmos desde 2014, quanto tivemos com Figueiredo, Sarney e Collor.

Mas, de que serve fazer esse apanhado de tragédias? Serve para dizer que, no plano individual, certamente você não vai ficar imune ao ambiente nacional de dificuldades econômicas. Quando o país está bombando, a riqueza aparecendo e o PIB só crescendo, é muito mais fácil para cada um se dar bem financeiramente, pois as oportunidades são muito mais frequentes. Em meio a uma recessão, é menos porta que se abre, é mais dor que se sente.

Só que isso não é um atestado de óbito do seu presente e muito menos do seu futuro financeiro. Você percebeu quantas crises tivemos nas últimas quatro décadas? Agora veja ao seu redor e perceba que, mesmo com tantas crises, teve gente que conseguiu progredir na vida, que conseguiu fazer com que as finanças pessoais se descolassem dos números da economia nacional. Isso, deixo claro, de forma honesta, por meio do esforço pessoal, do trabalho. Ainda que uma economia organizada e pujante possa facilitar as coisas, a verdade é que, na vida particular de cada um, há um monte de fatores que acabam sendo muito mais relevantes, como ter uma visão das oportunidades (ainda que poucas) de trabalho e de mercado, estudar mais para poder progredir, dedicar-se mais ao trabalho, aperfeiçoar-se para conseguir um diferencial em relação aos concorrentes etc.

Em resumo, o Brasil vive de crise em crise, mas você não precisa ser assim. É fato que agora vivemos um momento dificílimo, mas há muito o que fazer para sua vida financeira pessoal ser bem diferente da realidade da economia brasileira.
 
 
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