Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
05/03/2021 às 10h38min - Atualizada em 05/03/2021 às 10h38min

Furdunço

WILLIAM H. STUTZ

Pronto, chegamos ao ponto mais extremo de se tentar conter essa tresloucada pandemia, além dos lockdowns meia boca, que surgiam com mudanças, se não engraçadas pelo menos estranhas, como a restrição em vender bebidas alcoólicas após as 18 horas. Prestou atenção? Nunca se vendeu tanta cerveja e tais como nesse período. Se você, por necessidade como quase todo mundo, foi a um supermercado na sexta, por volta das 17 horas, presenciou a tragicômica cena de ver em sua maioria homens com seus carrinhos lotados de cerveja, todos ao celular, em longas filas do caixa.

Nós brasileiros somos estranhos até nessas horas. Me explique. Se você sabe que só pode comprar sua cerveja até às 18 horas e que sábado e domingo nem pensar, qual o motivo, em nome de Deus, de ter de ir todo mundo na última hora, quase na prorrogação do segundo tempo? Temos a segunda, terça, enfim, a semana toda, com horários ótimos de encontrar a venda vazia, sem aglomeração para fazer isso, mas não. Tem que ser no último dia, próximo da tal hora H (já ouvi uma “autoridade” usar essa expressão). Não tem jeito. É o preço que pagamos por não termos sido colonizados por franceses ou holandeses, só pode. Agora decretaram o tal toque de recolher, como medida sanitária louvável. Mas aí proibiram o pessoal de comprar bebida a qualquer hora do dia ou da noite e em todos os dias da semana.

Sabe o que deve acontecer? Se tirarmos por base a lei seca americana implantada nos EUA nos anos 1920, vamos assistir a um aumento louco de consumo de álcool jamais visto. Além de enormes estoques domésticos já adquiridos, não imagino como fiscalizar tal determinação. Talvez as bocas de fumo sejam substituídas por bocas de cerveja ou bocas de pinga, sei lá.

Expia só este parágrafo extraído do site “Mundo Educação” https://mundoeducacao.uol.com.br/historia-america/lei-seca-dos-eua.htm

“Do ponto de vista prático, o fracasso da Lei Seca mostrou que a criação de leis que atingem a liberdade individual é um assunto de grande delicadeza. Segundo alguns estudiosos, a violência ligada ao contrabando acabou ocupando e alargando o espaço de todos os crimes ligados ao consumo de álcool. Além disso, ficou claro que nenhuma imposição jurídica tem autonomia para banir hábitos já instalados em uma cultura.”

Concordo plenamente com a proibição total de festas rave, aglomerações de qualquer tipo, fechamento de bares, imposição de horários e tais. Mas, pensar que a cultura tropical de tomar uma gelada vai ser barrada acho muita ousadia. Tudo pelo combate ao vírus. Porém, leis que não são possíveis de serem fiscalizadas é um pouco demais. Só faltou proibir de beber em casa sozinho, com sua televisão, uma playlist no spotify ou, para aqueles que como eu adoram um som, ouvir uma coleção de discos de vinil e nostalgicamente brindar (com cerveja ou suco) fazendo reverência em respeito a todas as vidas levadas precocemente por tão terrível e imprevisível doença. Cada um em sua fé, com cânticos de paz e esperança. Se for ateu não tem problema. Faça sua homenagem silenciosa.

De toda forma as medidas restritivas são louváveis e necessárias. Vamos torcer para que deem certo e a curva de casos e mortes caia vertiginosamente, mas principalmente que toda nossa gente seja vacinada o mais rápido possível.

Vacina sim e urgente, não importa se é da China, da Índia, da Rússia. O importante é que se pare de politizar os imunizantes e eles estejam logo aqui. Todas as vidas importam, repetindo um jargão popularizado, adaptado para situações trágicas desde o assassinato de George Floyd por um policial de Mineápolis, nos Estados Unidos #BlackLivesMatter. Acrescento #TodasVidasImportam, #VacinaJá, #UseMascara #AglomerarNão #DistanciamentoSim #SePuderFiqueEmCasa.

Um epílogo, um arremate em nossa prosa sobre a proibição geral da venda de bebidas. Me veio à cabeça Eliot Ness agente do Tesouro Americano, famoso por seus esforços para fazer cumprir a Lei Seca em Chicago e seu arqui-inimigo Al Capone. Vamos precisar de muitos “Intocáveis” em nossa cidade para segurar mais essa onda. Boa sorte.


Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90