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23/01/2021 às 08h00min - Atualizada em 23/01/2021 às 08h00min

O descaso com as praças

ALEXANDRE HENRY
Em fevereiro de 2006, eu me mudei para o bairro Jardim Finotti, próximo da UFU, em Uberlândia. A poucos metros do meu prédio, havia uma rotatória com uma área vazia no meio que se assemelhava a um terreno baldio. Os únicos seres que aproveitavam do local eram as corujas, que faziam buracos na terra para servir de ninho.

Aquela área redonda era, desde então, uma praça, mais especificamente a Praça Alcides Borges de Oliveira, uma das menores da cidade. Posso estar enganado, mas acho que o diâmetro do local não passa de sessenta metros. Pois bem, quando cheguei por lá, acredito que o bairro já existisse havia pelo menos uns vinte ou trinta anos. Quando passei para outro apartamento, dois quarteirões mais distante, em 2012, o local continuava a ser apenas um amontoado de terra e mato. Nem a calçada exigida dos proprietários de lote havia. Por volta de 2013, a prefeitura, finalmente, fez o calçamento ao redor da praça, bem como cimentou uma passagem pelo centro dela, além de plantar um pouco de grama. Foi o que bastou para o local começar a ganhar inúmeros visitantes todo final de tarde. Com o tempo, a pequenina praça ganhou um parquinho para crianças, alguns bancos e, mais recentemente, aparelhos de musculação ao ar livre. Hoje, se você passar pela Praça Alcides Borges de Oliveira por volta das 18h em um dia de semana sem chuva, provavelmente encontrará mais gente por metro quadrado do que em qualquer outra praça da cidade.

Infelizmente, essa ainda não é a realidade de todos os espaços ao ar livre da nossa cidade. No bairro Santa Mônica, que é minha referência, temos a Praça Said Chacur que, apesar de já ter uma pequena infraestrutura e abrigar até uma feira durante a semana, ainda tem muito, mas muito mesmo a evoluir. Perto do Hospital Madrecor, há a Praça Espir Adib Attuch, que continua sendo um mero descampado sem infraestrutura. Outra praça do bairro Santa Mônica, a Fausto Savastano, tem uma pista de caminhada, algumas árvores e nada mais. E olha que estamos falando de um bairro bem antigo de Uberlândia, que é um dos mais populosos e conta com moradores, em sua maioria, de classe média. Acredito que essa situação se repita ainda com mais frequência em outros cantos da cidade.

Sim, eu sei, o momento é de crise extrema. A prefeitura tem dificuldades financeiras, a pandemia piorou as coisas e não é hora de ficar pensando em espaços de lazer. Mas, esse argumento pode até valer para janeiro de 2021, só que não vale para justificar a inação durante décadas seguidas. Será que nossos seguidos prefeitos não perceberam o bem que uma praça pode fazer para a população? Gente, é só olhar a pequenina Praça Alcides Borges de Oliveira! Cercada de prédios, ela é um oásis para pais e mães que ficam o dia inteiro presos dentro de pequenos apartamentos com suas crianças. É um ponto de socialização, é onde o vizinho conhece o outro vizinho, é um local no qual amizades são feitas e laços são estreitados. A praça representa, para muita gente, um dos mais agradáveis momentos do dia. É a hora em que a pessoa respira um pouco de ar fresco, que vê um mínimo de natureza, que toma um pouquinho de sol matinal ou do fim do dia.

A praça serve de válvula de escape para o estresse dos pais e das crianças. É nela que o menino tem a oportunidade de sair um pouco da frente da TV ou do celular. É ali que o cachorro aprisionado em apartamentos tem a oportunidade de ser um pouco mais bicho. Na praça, muitas crianças encontram o único contato que podem ter com uma árvore, aprendem a subir nela, colocam os pés na grama, jogam bola com outros amigos ou aprendem a andar de bicicleta. A função positiva das praças para a sociedade é gigantesca, algo que só as seguidas administrações municipais, com raras exceções (Eduardo Afonso, tenho que reconhecer seu esforço!), nunca conseguiram enxergar. Como pode um bairro antigo e populoso como o Santa Mônica ter tantos espaços livres sem qualquer infraestrutura? Será que os administradores não percebem a carência do povo por locais assim? Será que eles não veem as pessoas ocupando aqueles lugares mesmo quando eles têm apenas um mal cuidado gramado e algumas poucas árvores?

Eu sei que a cidade tem muitas carências e que o dinheiro é pouco. Mas, já passou da hora de dar uma infraestrutura adequada para todas as praças da cidade. A população precisa disso mais do que muita coisa que é colocada na frente pelos seguidos prefeitos. Praça é vida, praça é paz social. Praça é, acima de tudo, essencial para uma comunidade se manter sadia e equilibrada.


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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