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07/01/2021 às 11h48min - Atualizada em 07/01/2021 às 11h48min

Será em breve

IVONE ASSIS
Abrir a escrita desta coluna no sétimo dia do ano novo pode ser bastante curioso, se considerarmos que o sétimo dia é muito representativo na história, seja da bíblia sagrada, seja do cotidiano da humanidade, seja para aqueles que perderam alguém querido, ou tantas outras possibilidades. Mas, aqui, quero fazer uso da significação para ilustrar o sétimo dia de sepultamento de um ano que se foi... um ano que rompeu o fio da vida de tantos. Um ano que deixou as ruas com cheiro de morte. Um ano que apagou a luz de tantos olhares.

Mas, também, um ano que reacendeu a luz da união e da esperança. E esta luz abriu a terceira década deste terceiro milênio. Chegamos ao ano do Urso, sabendo que o urso representa um mercado promissor, com ascensão financeira. Todavia, de que vale a riqueza, quando se perde a vida? Queremos uma nação rica, contudo, primeiro, queremos uma população saudável.

“O capital é o sangue que flui através do corpo político de todas as sociedades que chamamos de capitalistas, espalhando-se, às vezes como um filete e outras vezes como uma inundação, em cada canto e recanto do mundo habitado” (HARVEY, David. Preâmbulo, p. 6). Quando Harvey publicou “O enigma do capital: e as crises do capitalismo”, ele trouxe uma reflexão interessante sobre o capitalismo e sua influência sobre os povos. O fato é que o capitalismo promove o progresso e convida as pessoas ao trabalho e à disputa de mercado. Entendo o capitalismo como uma espécie de “mal necessário”.

Capitalismo à parte, porque este já tem o mercado a seu favor, quero pensar em como será a realidade dos “peões do tabuleiro”, no pós-primeiro ano pandêmico. Ainda estamos vivendo dias difíceis, dias ameaçados não apenas pela Covid-19 e pela Cepa, que são moléstias recentes (e muito perigosas), e isso exige muita cautela e, por certo, ainda irá impedir o andamento natural do trabalho por algum tempo. Apesar dessa gravíssima ameaça, não há como fechar os olhos para os demais seríssimos problemas de saúde que existem, como os Acidentes Cérebro Vasculares, Infartos, Meningite e tantos outros. Os hospitais estão sempre lotados e a Saúde pede investimento de capital, para que ela subsista.

A vida é um circuito, e somos as peças dessa rotatividade, por isso, jamais devemos nos esquecer do valor que temos. Saímos de um ano delicado, entramos em um ano novo cheio de expectativas, mas entendemos que o período ainda é o mesmo, portanto, faz-se necessário se proteger e também proteger o outro. Isso é um ato de amor. As palavras não bastam, é preciso ação.

Antonin Artaud, em sua “Carta aos reitores”, escreve: “Basta de jogo de palavras,/ de artifícios de sintaxe, / de malabarismos formais; / precisamos encontrar – agora – / grande Lei do coração, / a Lei que não seja uma Lei, uma prisão, / senão um guia para o espírito perdido / em seu próprio labirinto. / Além daquilo que a ciência jamais poderá alcançar, / Ali onde os raios da razão se quebram contra as nuvens, / esse labirinto existe, / núcleo para o qual convergem todas as forças do ser, / as últimas nervuras do espírito”.

É nesse propósito de fé e atuação que eu quero viver, em que eu possa estar consciente de que o capitalismo existe e, de momento, é o que se tem de mais interessante, mas posso e devo agir com mais compreensão e cautela, a fim de que sobre fôlego até atravessarmos o vale, com a bandeira da vitória hasteada, e que, segundo governos e outros, será em breve.


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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