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01/01/2021 às 08h00min - Atualizada em 01/01/2021 às 08h00min

Eternidade quântica

WILLIAM H STUTZ

Perdi muitos amigos pelo caminho, a maioria por excessos. Observando flor de orquídea, desde o broto até sua exuberância total e lento murchar, concluí que ela ainda estaria ali, na realidade ali ficaria eternamente. Seria como se ninguém morresse mesmo, apenas passaria para uma dimensão a um décimo de um nanomilímetro (existe tal denominação?) da nossa atual.

Isso talvez explicasse o infinito espaço. Precisaríamos de algo assim para caber tanta energia. Adianto que esta observação nada tem a ver com teologias, talvez sejam de fundo mais filosófico ou puramente poético e é apenas fruto de mente tranquila e com tempo em um pleno domingo de manhã. Talvez alguém até já tenha desenvolvido esta ideia ou a tenha explicado matematicamente. Mas eu, em minha isolada Macondo interior, como o cigano Melquiades, do nada lucubrei este fantasioso teorema indemonstrável, talvez seja simplificação da teria do centésimo macaco, a “ressonância mórfica” do biólogo Rupert Sheldrake, sendo aplicada ao pensamento e não apenas ao conhecimento prático, tipo quebrar casca de marisco com pedra.

Se bem que, apesar de ser um devaneio nascido da pura observação de uma flor, essa hipótese bem que poderia explicar muitas religiões. Os reencontros com os que já se foram, os tiradores de espíritos que suam mais do que tampa de marmita e até os tais exorcismos, vá se lá saber.

Uma das conclusões loucas a qual cheguei seria que, sendo o espaço físico limitado no planeta, não daria para a turma toda ficar por aqui. Mas em dimensões nanomilimétricas (hummm talvez exista apalavra), umas das outras teríamos espaço de sobra para todas as almas desde o começo dos tempos e aí me refiro a incontáveis mundos paralelos, harmoniosamente convivendo no quase mesmo espaço/tempo.

Na prática, seria mais ou menos assim. Certa pessoa estaria cuidando de seu jardim em um feriado. Por mal dos pecados, um avião cairia exatamente sobre ela. Obviamente tanto nosso jardineiro quanto os passageiros do avião, em tese, morreriam, certo? Pela minha teoria, errado. Para os que vissem, acudissem, noticiassem a tragédia haveria vítimas, mas na realidade o que aconteceria ali longe dos olhos do universo seria algo que poderia ser descrito mais ou menos assim: o jardineiro continuaria sua atividade em dimensão vizinha, no máximo levantaria a cabeça, pois pensou ter escutado um barulho no céu, e o avião, depois de turbulência, seguiria seu voo normalmente em outro céu que não esse.

Todos nós nascemos com prazo de validade. Este mistério do relógio biológico e seu funcionamento está longe de ser completamente explicado. Enfim, temos que aprender a conviver com perdas por mais que estas nos façam sofrer.

Bom, fico por aqui com meus pensamentos, mesmo sabendo que muitos vão pensar: será que esse cara não tem mais nada o que fazer em um domingo de sol? Para estes, respondo: tenho sim, observar flores, daí nascem as loucuras que fazem a vida valer a pena.

Deixa eu correr e tirar a roupa do varal, que no fim do mês vem chuva, ouvir uma boa música ou ler um bom livro. Até imaginação fértil deve ter limites, pois pode beirar insanidade, deixa eu voltar ao eixo.

Vai que eu acabo dando forma a estes pensamentos livres e crio uma seita? Deixe eu pensar em algo mais útil, por exemplo… novela? Mas, como disse o eterno Guimarães Rosa, “Não morremos, ficamos encantados”.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 

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