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15/12/2020 às 08h00min - Atualizada em 15/12/2020 às 08h00min

No tempo dos aviões da Varig

ANTÔNIO PEREIRA
Nós, míseros rastejantes idosos, usuários das velhas estradas raspadas na superfície dos relevos, cheias de buracos, lamas e encalhes, sabemos o que foi enfrentar, lá por 1961, 2, 3, calhambeques chamados ônibus que levavam, às vezes, nos maus tempos, até 12 horas daqui a Uberaba. Não era só a demora. Nos encalhes, descíamos e empurrávamos o carro porque, sozinho, ele não sairia do buraco. Sabíamos o que era fome e sede nessas ocasiões. Choros de criança, sujeira no corredor e fumaça de cigarro. Frio ou calor demais.
 
Pois os aviões não ficavam muito distantes disso, não. A gente vinha de São Paulo a Uberlândia em 4 horas vendo, lá de cima, as estradinhas e os carros movendo-se lentamente. As pistas eram de terra em alguns aeroportos e, nas decolagens, era um poeirão lascado que se levantava.
 
Se algum emperrava e não conseguia pegar, os passageiros desciam e, junto com a tripulação e empregados do aeroporto, enrolavam uma corda de uns 30 a 40 metros por traz da hélice e puxavam, puxavam, até a partida pegar. Igualzinho à partida que se dava nos velhos fordecos de bigode. Só que em vez de cordas, usava-se a manivela.
 
Nos aeroportos do interior (em Uberlândia especialmente) não havia energia, nem bombeiros, nem nada. Poucas peças de reposição. Quando algum avião atrasava muito, e chegava de noite, mas o aeroporto estava avisado disso, providenciavam lampiões a querosene que uma caminhonete ia distribuindo ao longo da pista para que o piloto pudesse fazer uma ideia dela.
 
Quando ocorria, no entanto, de uma descida não prevista, à noite, antes de pousar, a aeronave volteava sobre a cidade, como pedindo socorro à população. Os donos de veículos iam com seus carros para o aeroporto e estacionavam ao longo da pista e, os que iam para o seu final, engatavam de ré, com a luz vermelha do breque acesa, para indicar o seu fim.
 
Não havia comunicações entre aeroporto e aeronaves. As comunicações eram feitas via rádio ou Morse entre os aviões e os serviços de radiotelegrafia da Prefeitura ou da Fundação Brasil Central. Em seguida, a Prefeitura, ou a Fundação, comunicava os informes ao aeroporto por telefone.
 
Apesar de tantas dificuldades, eram raros os acidentes e, em Uberlândia, havia filiais de dez empresas aeroviárias.
 
Difíceis...
...mas bons tempos.
 
Fontes: Antônio Pereira da Silva e entrevista de Moacir (da Varig) Marques do Prado ao Celso Machado


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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