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28/11/2020 às 08h00min - Atualizada em 28/11/2020 às 08h00min

De volta para casa

ALEXANDRE HENRY
No ano de 1981, quando eu tinha apenas cinco anos de idade, meu pai passou em um concurso e fomos morar em Rio Grande, a cidade portuária mais ao sul do Brasil. Na foto tirada pouco antes de embarcarmos no aeroporto de Uberlândia, é possível notar a quantidade de familiares que foi se despedir de nós. Não era para menos: uma mudança para tão longe naquele tempo, apesar de já existir o telefone havia décadas, representava um distanciamento inimaginável para quem só conheceu o mundo com as facilidades de comunicação de hoje. Os telefonemas eram raros e feitos nas cabines da companhia telefônica de lá, pois ter uma linha em casa era quase impossível de tão caro.

Treze anos depois, eu me mudei para São Paulo e, apesar da distância bem menor, ainda era muito difícil manter contato cotidiano com quem havia sido deixado para trás. Naquele 1994, já havia telefone celular, mas era um artigo raríssimo e, claro, custava uma fortuna. Uma linha residencial fixa, por sua vez, chegava a custar cinco mil dólares. Quando voltei para Uberlândia, em 1998, o mundo havia mudado: instalei uma conexão de internet em casa, comprei um celular e comecei a viver algo bem próximo do que temos agora.

Bom, nem tão próximo assim. As ligações de longa distância ainda eram relativamente caras. Lembro-me de ter ido para os EUA em novembro de 2000 para passar alguns dias de férias por lá. Meu cartão de crédito prometia ligações internacionais facilitadas a partir de qualquer telefone público (os famosos “orelhões”). Aproveitei a propaganda e liguei diariamente para minha esposa, então apenas namorada. Quando chegou a fatura do cartão de crédito, tive que desembolsar quase 250 dólares só pelas ligações. Não pense que isso foi porque eu ficava horas papeando, de maneira alguma. Eram ligações diárias de, no máximo, uns dez ou quinze minutos. 

Em 2007, quando tomei posse como juiz federal em Aracaju, o mundo já tinha mudado mais um pouquinho. Os aparelhos móveis ainda não eram “smart”, mas o e-mail havia se disseminado e já ganhavam corpo algumas redes sociais, como o Orkut e o Facebook. Ainda em 2007, mudei-me para Uberaba com a esposa e a comunicação não se mostrou um problema tão grande, pois estávamos na mesma área de DDD de quase todos os nossos entes queridos e as ligações celulares não eram consideradas interurbanas nesse caso.

Porém, em 2009, nós nos mudamos para Porto Velho, Rondônia, já na divisa com o Amazonas. As ligações interurbanas ainda eram caras e, por isso, acabei adotando uma tecnologia recém disponibilizada: um tal de VOIP, sigla em inglês para voz sobre IP. Basicamente, era uma caixinha que eu ligava na internet, conectava um telefone a ela e tinha um número com o mesmo DDD de Uberlândia, só que lá em Porto Velho. Em resumo, pagava como ligação local. Acontece que o serviço ainda era precário, as ligações eram ruins e logo desistimos daquilo, até porque veio a grande revolução: uma companhia de telefonia móvel lançou um plano revolucionário, que cobrava apenas R$ 0,25 por ligação, sem limite de tempo, para qualquer outro número da companhia no Brasil.

Fiquei dois anos em Porto Velho, voltei para Uberlândia e me mudei novamente no início de 2014 para Jataí, onde passei sete meses, indo então para Ituiutaba. Tudo diferente. Celulares já eram inteligentes, aplicativos instantâneos de mensagens eram comuns e chamadas de vídeo haviam se disseminado, tudo a um custo absolutamente acessível. Basicamente, o que temos hoje.

Depois de tantas mudanças de domicílio e de tecnologia, finalmente volto a morar em Uberlândia, em definitivo, neste final de 2020. Voltar para casa depois de ter morado nas cinco regiões do Brasil me deixou muito feliz. Mas, mais feliz ainda tenho estado por perceber que toda essa evolução tecnológica, apressada pela atual pandemia COVID-19, está provocando uma nova revolução: a do trabalho remoto. Como sempre digo, é importante morar em outros locais para se crescer pessoal e profissionalmente. Mas, mesmo com as tecnologias mais modernas de comunicação, a distância física ainda machuca muitos casais, muitos pais e filhos, muitos amigos de longa data, os quais são separados por conta do trabalho. Que essas separações, como as que tive ao longo de toda a minha vida até agora, tornem-se mais curtas. Que as pessoas possam deixar a distância apenas para o trabalho, aproveitando de um cotidiano fisicamente conectado com familiares e amigos mais próximos. Não peguei a era que agora se inicia, a do teletrabalho, mas torço para que tenha vindo para ficar.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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