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29/05/2017 às 14h19min - Atualizada em 29/05/2017 às 14h19min

O machismo e suas outras facetas

ALEXANDRE HENRY ALVES* | COLUNISTA

Faz tempo que eu defendo uma mudança de comportamento das mulheres como forma de combater o machismo. Minha sugestão não é para que levantem a voz contra comportamentos inadequados e sexistas. Isso é essencial, claro, mas é preciso ir além. É preciso que as próprias mulheres parem de perpetuar condutas evidentemente machistas.

A primeira delas, a meu ver, é parar com o massacre autodestrutivo no campo da estética. Quem impõe um corte de cabelo feminino impecável não são os homens. E aquela falta de maquiagem? O salto que não caberia naquele tipo de vestido? As unhas que não veem um esmalte há mais de uma semana? A celulite que começa a aparecer? As leves estrias nos seios? A sobrancelha descuidada? Gente, quem fica reparando tudo isso, na maioria esmagadora dos casos, não é nenhum marmanjo machista. Quem destrói a menina que não passou batom é a colega dela de trabalho, é a mãe, a irmã, a vizinha. E, claro, são as revistas “femininas”, quase todas com conselhos editoriais e repórteres femininas, que impõem um padrão de beleza impraticável para a maioria das mortais. Em resumo, adaptando a célebre frase de Thomas Hobbes, a mulher é a loba da mulher.

Vejo esse massacre todos os dias. Há pouco tempo, uma amiga postou uma foto da Renata Vasconcellos, apresentadora do Jornal Nacional, brincando com a sobrancelha torta dela e sugerindo uma depilação. Seguiram-se comentários femininos dizendo que aquilo era obra de um botox errado, criticando o delineador torto, a falta de brincos, chamando o penteado dela de “capacete de laquê” e por aí vai. Era tudo brincadeira, certo? Eu não sou a favor da ditadura do politicamente correto, especialmente no humor, mas a verdade é que esse tipo de “brincadeira” comum entre as mulheres não difere muito, em termos de capacidade de perpetuação do machismo, das brincadeiras sexistas masculinas.

Outro ponto importante, e já falei disso algumas vezes, é a crítica quanto ao comportamento sexual feminino. Mulheres defendem o direito à livre disposição do corpo, à escolha sem amarras da quantidade de parceiros, a querer e não querer ir para a cama quando bem entenderem. Perfeito. Até que outra mulher cruze o caminho. Sabe aquela menina da sua escola que já beijou um monte de meninos? Sabe aquela colega de trabalho que já transou com boa parte dos homens da empresa? Pois então, aposto que você já ouviu alguma amiga sua chamando a moça de vagabunda. É incrível a contradição de boa parte das mulheres brasileiras, as quais defendem a liberdade sexual feminina, mas ao mesmo tempo condenam uma saia curta ou a quantidade de parceiros da vizinha. As mães, quando se trata da criação de meninos, exacerbam esse viés machista ao extremo, por meio da destruição da imagem das futuras “noras” que são mais liberais no tocante à sexualidade. Parecem fazer a velha e machista separação entre “mulheres para o prazer” e “mulheres para o casamento”.

Eu sou contra o machismo, desde muito antes de ser pai de uma menina.

Até outro dia, eu o fazia simplesmente porque não achava certo que uma mulher fosse oprimida simplesmente por ser mulher. Ninguém deve pagar por algo que, além de não ser errado, escapa à sua capacidade de decisão – nascer homem ou mulher se enquadra nesse contexto. Mas, conversando com uma amiga que vive na Europa e tem interessantes visões feministas, meus olhos se abriram para outra faceta do machismo: a opressão que ele exerce sobre os próprios homens. Como? Bom, pense apenas na hipótese de uma mulher não exercer nenhuma atividade profissional, cuidando apenas do lar, fazendo academia, indo ao salão de beleza e ao shopping. Agora, pense em um homem vivendo assim: a esposa sustentando sozinha o lar, enquanto ele cuida de alguns afazeres domésticos, com a ajuda de um(a) funcionário(a), dedicando boa parte do dia a atividades de lazer. O que você diria de um homem assim? No mínimo, chamaria de vagabundo, safado, preguiçoso, imprestável etc. Mas, se uma mulher pode viver uma vida doméstica, enquanto o marido faz o papel de provedor da casa, por que um homem não pode fazer o mesmo?

Esse é apenas um pequeno exemplo de como o machismo afeta tanto as mulheres quanto os homens. Pensar no machismo por todos os ângulos tem me provocado um desejo ainda maior de combatê-lo, algo que passa, como eu disse, por uma mudança de comportamento não apenas dos homens, mas também das mulheres. Chega de opressão sexista, não importa sua origem.

(*) Juiz Federal e Escritor (www.dedodeprosa.com)

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