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17/10/2020 às 08h00min - Atualizada em 17/10/2020 às 08h00min

Aromaterapia e Saúde

ANGELA SENA PRIULI
Hummm... que cheirinho bom! Se engana quem acha que os odores são só para “refrescar” o ar da sala. E para falar disso, recebo como convidada especial na Ciência Pop, a Dra Priscilla Duprat, médica pediatra de Uberlândia, que tem trazido para sua capacitação e prática clínica a linha da Saúde Integrativa.

O uso de aromas na saúde e no autocuidado tem descrição de civilizações antes de cristo, como no Egito. Durante o reinado do faraó egípcio Khufu, o escritor dos manuscritos de papiro da Grande Pirâmide (C.270 aC) registrou o uso de ervas aromáticas, óleos, perfumes e incenso do templo, além de  pomadas de cura feitas de resinas perfumadas. Dizia-se que a mais famosa fragrância egípcia, kyphi (que significa "bem-vindo aos deuses") induzia estados hipnóticos e hoje é recriada com frequência em várias receitas que incluem canela, zimbro, cedro e numerosas resinas.

O Dr. Jean Valnet, médico francês, foi altamente influenciado pelo químico francês, Dr. Rene-Maurice Gattefosse, que cunhou o termo aromaterapia em 1928. O Dr. Valnet começou a incorporar óleos essenciais para tratar lesões durante a Segunda Guerra Mundial e na década de 1960 estava escrevendo e promovendo o uso de óleos essenciais na assistência médica.

Segundo Dr. Valnet : ”O médico familiarizado com os óleos essenciais pode usá-los para tratar uma variedade de infecções pulmonares, hepáticas, intestinais, urinárias, uterinas, rinofaríngeas e cutâneas (feridas infectadas e dermatoses supurantes). O uso desses óleos geralmente produz resultados satisfatórios, desde que tenham sido prescritos com sabedoria e que, no caso de certas queixas de longa data, o tratamento seja seguido por um período suficientemente longo. A terapia aromática pode neutralizar enterites, colites e fermentações pútridas, além de aliviar a bronquite crônica e tuberculose pulmonar. O bacilo do cólon não resiste aos óleos essenciais.

Poucas coisas podem nos mover tão profundamente quanto as memórias evocadas por aromas que impactaram nossa psique no passado. Um perfume familiar pode nos levar de volta à infância, conjurar um amor perdido ou levar-nos às lágrimas por uma tristeza remanescente.

Embora a percepção do que cheiramos e a interpretação desse aroma possam variar, não há como negar que o sentido do olfato pode nos impactar emocionalmente. O sistema límbico é a sede da memória e da emoção; é responsável por processar o odor e traduzir as memórias de perfume em sensações e impressões muito reais. As moléculas voláteis que flutuam no ar são inaladas, atravessando nossas narinas e aderindo aos cílios olfativos, que o transportam para o bulbo olfativo localizado acima e atrás do nariz, na base do cérebro. Essas duas hastes, cada uma do tamanho e formato de um pequeno feijão, englobam células e neurônios que interpretam, amplificam e transmitem a mensagem química ao sistema límbico. 

Esta estação retransmissora envia informações para outras partes do cérebro, como a hipófise, que direciona mensagens químicas para: Corrente sanguínea, Córtex olfativo (ajudando a distinguir odores), Tálamo (conectando mensagens de odor com funções superiores de pensamento), Neocórtex (analisando as mensagens de odor e relacionando-as com outros sentidos e funções cerebrais superiores que estimulam o pensamento consciente). Tudo isso acontece em menos de um segundo.

E no decorrer da história, vários estudos científicos estão sendo realizados e descoberto inúmeros benefícios terapêuticos dos óleos essenciais. Um desses princípios terapêuticos é a capacidade antibiótica de alguns óleos essenciais. Os medicamentos aromáticos estão ganhando atenção no tratamento de muitos distúrbios de saúde, mas nenhum tanto quanto nas infecções em que os antibióticos perderam sua eficácia, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). Isso porque o microbioma vem ganhando destaque e o uso de antibióticos deveria estar cada vez mais restrito. Aprendemos que seu microbioma é um dos fatores ambientais que impulsionam a expressão genética, ativando e desativando genes, dependendo de quais micróbios estão presentes. Faz sentido então mantê-los em equilíbrio e considerar com cuidado o uso  dos antibióticos, que causam grandes perturbações ao nosso microbioma, se são realmente necessários e quando podemos substituí-los por outras terapias, como os óleos essenciais.

Outros estudos demonstraram que os óleos essenciais podem ser administrados facilmente através da inalação, com bom efeito na alteração do humor. Os óleos essenciais são utilizados há muito tempo para acalmar e relaxar. Um estudo realizado na Tailândia mostrou eficácia usando o óleo de lavanda angustifólia de baixo custo, fácil de adquirir e agradável para reduzir a ansiedade. A massagem, um dos principais sistemas de aplicação da aromaterapia, mostrou que os óleos essenciais oferecem benefícios imunológicos, mas também podem proporcionar melhora psicológica, incluindo alívio da depressão.

Um estudo também avaliou a eficácia de uma mistura de óleos essenciais (hortelã, manjericão e helichrysum) na exaustão mental ou desgaste moderado usando um inalador pessoal. Os resultados sugerem que a inalação de óleos essenciais pode reduzir o nível percebido de fadiga/desgaste mental.

Foi realizado também um estudo piloto em 28 mulheres pós-parto de alto risco para determinar se a aromaterapia melhora a ansiedade e/ou depressão. Os participantes com depressão ou ansiedade leve a moderada foram randomizados em dois grupos de tratamento: inalação ou técnica de massagem nas mãos da mesma mistura de óleos essenciais de lavanda e rosa em uma diluição de 2%. Houve melhorias significativas no pós-natal de Edimburgo Escala de Depressão (EPDS) e Escala de Transtorno de Ansiedade Generalizada (GAD-7) entre os grupos de tratamento em comparação ao controle grupo. Além desse estudo, uma revisão sistemática de 16 trabalhos de pesquisa, realizados de 1990 a 2010, mostrou que a aromaterapia poderia ser aplicada como uma terapia complementar para pessoas com sintomas de ansiedade.

Contudo, é importante salientarmos que a aromaterapia é uma ciência, com base no uso de princípios ativos de plantas de forma extremamente concentrada, uma gota de óleo essencial pode equivaler a 20-30 saches de chá da planta. Assim, como seus potenciais estão elevados os efeitos colaterais também podem estar, devendo ser uma terapia devidamente prescrita por um profissional treinado. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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