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12/09/2020 às 08h30min - Atualizada em 12/09/2020 às 08h30min

O dissabor no tratamento da saúde mental

TÚLIO MENDHES

Em geral, os termos podem parecer confusão. Mas basta lê-los com cuidado, pois são autoexplicativos. O primeiro refere-se à saúde e, os outros, à ausência dela. Não existe, porém, uma definição oficial para o conceito de saúde mental, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
 

Não precisamos ser especialistas para afirmar que nessa fase em que estamos enfrentando a pandemia da Covid-19, houve sim o aumento no número de casos de depressão e sintomas relativos à ansiedade e ao estresse. Eu pratico e acredito, que deveria ser lei que cada leitor, telespectador ou ouvinte checasse a fonte da notícia antes de divulgar quaisquer afirmações. Assim, garanto o que escrevi nas primeiras linhas desse texto, pois verifiquei a autenticidade da informação e constatei que o Ministério da Saúde, na ultima quarta-feira (9), divulgou uma pesquisa realizada pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde (SGTES) em parceria com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e com a Universidade de Minas Gerais (UFMG). Os questionários elaborados foram respondidos por mais de 185 mil profissionais voluntários, entre maio e julho de 2020, caracterizando o maior banco de dados do mundo em relação à saúde mental durante a pandemia da Covid-19. 
 

O primeiro ponto que precisa ser compreendido sobre esse tema de enorme relevância é que a saúde mental não é simplesmente a ausência de transtornos mentais. Ela envolve fatores que representam um completo estado de bem-estar mental. Fatores externos correlacionados ao estado de bem-estar mental pode ser abalado, como rápidas mudanças sociais, condições de trabalho estressantes, discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida não saudável, violência e violação dos direitos humanos. 
 

Essa fase em que vivemos, aliás, sobrevivemos, trouxe uma perspectiva de indagação. Ela indaga a nossa vida cotidiana, as formas como estamos nos relacionando conosco e com o outro, questiona nossas relações afetivas, sexuais e reprodutivas; aponta questões que eram negligenciadas e provoca questões latentes como abandono, solidão, violência, vulnerabilidades de gênero, raça e idade ou aquelas trazidas pelas perspectivas das orientações sexuais.
 

O fim do preconceito com doenças mentais, como ansiedade e depressão, é fundamental para a prevenção ao suicídio. O preconceito faz as pessoas não buscarem ajuda. Muitas vezes elas escondem a doença porque o amigo ou familiar vai interpretá-las como uma pessoa que é fraca, que deveria reagir, quando, na verdade, ela está adoecida. Portanto, ao diminuir o preconceito com essas doenças e o tabu sobre o assunto, pessoas que estão passando por algum sofrimento se sentirão mais à vontade para procurar ajuda profissional e ter um diagnóstico adequado, prevenindo possíveis tentativas de autoextermínio. Seja por razões religiosas, morais ou culturais, ainda há medo e vergonha em falar abertamente sobre o tema, que é um problema de saúde pública.

É importante ressaltar que a partir desses fatores, através de indicadores sérios e reais, conseguimos sim traçar estratégias eficazes para intensificar o cuidado com a nossa saúde mental. 
 

Enfim, de fato, 2020 não tem sido um ano fácil para a população num todo e sob diversos aspectos como econômicos, sociais e psicológicos, entretanto, há formas de evitar o estresse e a ansiedade gerados pelo momento. O bem-estar pode ser conquistado a partir do cultivo de virtudes e potencialidades pessoais, focos do trabalho na psicologia positiva. Por isso, promover a saúde mental significa trabalhar com ações que permitam às pessoas adotar e manter estilos de vida saudáveis, além de combater situações que possam ameaçar este estado de bem-estar. Acredito, não existir a possibilidade de existir uma rede de saúde mental bem equilibrada, com seus CAPS [Centro de Atenção Psicossocial] e RAPS [Rede de Atenção Psicossocial] trabalhando de forma equânime, se a gente desconhece a diversidade da população brasileira.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 

 
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