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25/08/2020 às 12h53min - Atualizada em 25/08/2020 às 12h53min

Os respiros da inspiração

LUCIANO FERREIRA
Quando se trata de charges políticas ou temas comportamentais, os cartunistas têm munição variada para recarregar seus trabalhos. Mas e quando o recurso de fazer quadrinhos a partir do mundo real, não é suficiente ou adequado para o cartunista realizar seu trabalho? Onde buscar recursos?

Muitas vezes não se trata só de falta de referências, podemos encontrar exemplos onde os retratados em charges, acabam sendo vistos pelo público com tolerância em relação às suas falhas de conduta e de caráter. Esse fenômeno provavelmente está relacionado com a dificuldade que alguns artistas têm em perceber que dar espaço para essas pessoas na mídia, é o resultado de autopromoção, é uma peça publicitária.

O cartunista Angeli relatou à Playboy que o ex-ministro Delfim Netto emoldurou uma charge que o satirizava, e então Angeli notou que celebridades ironizadas nas charges estavam tirando proveito do prestígio que era ‘aparecer’ nos jornais.

Apelar para uma ‘poupança’ de ideias, também pode ser problemático. Um  cartunista que trabalha em  Uberlândia já me relatou que em suas primeiras semanas de trabalho na profissão, esgotou o seu baú de ideias e foi necessário repensar o seu processo de criação, possivelmente menos focado em intuição e mais em pesquisa.

E como ficam os artistas quando estão presos entre a falta de assunto, armadilhas de autopromoção e esgotamento de ideias?

Uma das saídas é escolher um tema que tenha caráter universal, como reflexões sobre a condição humana, pecados e similares, pois além de permitir releituras,  também ajudam  a refletir sobre o próprio modo de produção, e ao trabalhar com esse tipo de tema, podemos fazer escolhas que iluminem nossos pontos fortes, seja traço, narrativa, inventividade e etc.

Muitas vezes ao trabalhar no dia a dia sem refletir sobre o processo de transformar uma notícia em charge, podemos automatizar esse procedimento sem nos dar conta das armadilhas que isso pode gerar. Não são só os exemplos que estão nessa coluna, também existe a possibilidade de que isso legitime uma série de problemas que deveriam ser evitados por cartunistas, como ignorar questões éticas e a pluralidade dos pontos de vista, e problemas que surgem dentro de determinados contextos.

É preciso notar que temos a concorrência quase desleal dos memes, cujo procedimento de reutilizar elementos previamente existentes, garante rapidez de produção e permeabilidade de público, fatores que nem sempre um cartunista tem a seu favor.

Não se trata aqui de criar um manual de instruções, mas refletir sobre o nosso momento histórico, onde o processo de criação precisa de uma imediata pesquisa para evitar cair em um plágio acidental.
 



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