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22/08/2020 às 14h34min - Atualizada em 22/08/2020 às 14h34min

Síndrome de Talidomida, sentimentos e preconceito

TÚLIO MENDHES
Já ouviu falar sobre Síndrome de Talidomida? Não? Pois bem, hoje é o que vamos discutir a respeito. Trago discussão sobre a síndrome em si, o sentimento de quem a tem e o preconceito enfrentado – mesmo em pleno século XXI.

Pra começar, precisamos compreender o que é essa terminologia que é conhecida como "Amida Nftálica do Ácido Glutâmico", ou seja, é um medicamento desenvolvido na Alemanha em 1954 na época o objetivo era funcionar como um sedativo. Entretanto, desde sua colocação no comércio em meados de 1957, aumentou-se gradualmente milhares de casos de Focomelia, que por sua vez, trata-se de uma síndrome caracterizada pela aproximação ou encurtamento dos membros junto ao tronco do feto – tornando-se semelhante aos de uma foca – justamente por interferir a sua formação ultrapassando a barreira placentária.

Quando uma mulher ingerisse esse medicamento em período gestacional, era grande a chance do surgimento de graves deficiências na coluna vertebral, auditivas, visuais e, em casos mais raros, deformidades no tubo digestivo e problemas cardíacos. Percebida tal ocorrência pela Sociedade Médica, a Talidomida foi retirada do mercado de consumo – a nível mundial. Sabendo que ciência não perde o apetite na descoberta do “novo” ... Proibida há quatro anos a venda dessa medicação, os cientistas descobriram que quando administrada de modo regulatório, a fórmula da Talidomida era benéfica no tratamento dos pacientes com Hanseníase. Com a descoberta racional da fórmula, hoje a fórmula é prescrita pra o tratamento de doenças crônico-degenerativas como o câncer e o transplante de medula. Deixando bem claro: não existem pesquisas sobre o período seguro para eliminação da droga pelo organismo. Assim é recomendado o prazo de no mínimo 1 ano após o tratamento para então decidir pela gravidez.

Entretanto, o foco de hoje é fazer um resumão entre os sentimentos e características físicas das pessoas com a Síndrome de Talidomida. Vamos lá... Quais são os sentimentos vivenciados por essas pessoas tão normais quantos os “normais” impostos pela sociedade? Por exemplo, eu e todas as pessoas com Fanconi achamos supernormal vivermos com nossas deformidades.

Olhando o aspecto anatômico, o denominador comum entre todas as pessoas com a síndrome, são as deformidades físicas bem visíveis e que causam inquietude (nos outros). Por outro lado, os “talidomizados” também têm em comum a riqueza da resiliência que faz o diferencial em suas vidas. Lembrando que para qualquer pessoa sair de uma crise ilesa, deve decidir superar seus traumas e simplesmente construir-se apesar das feridas. As pessoas “norrrrrmais” têm o hábito de amenizar o preconceito quando lidam com a pessoa com deficiência, instituindo-o através de um olhar como seres dotados apenas de direitos – sem responsabilidades. Esse olhar julgador faz questão de inviabilizar   qualquer possibilidade manter um diálogo saudável sobre as diversas deficiências, por exemplo, a Talidomida.

Por isso escrevo com segurança sobre a exclusão travestida de inclusão, por claramente promover condições de possibilidade para o acontecimento de uma relação verdadeira, o que acaba banindo o deficiente para uma situação digamos como “exílio relacional”. É fato que em diferentes épocas  e  culturas, sempre   existiu   uma constante   histórica:   a marginalização. Por exemplo, o uso de termos como   idiotas, imbecis, excepcionais, dementes, deformados são algumas das nomeações utilizadas para tentar definir o deficiente ao longo o curso da história. É inacreditável, mas em pleno século XXI, pessoas incomuns ainda são designadas por muitos desses termos, legitimando-se o preconceito.

Bom... Então pensar a inclusão da pessoa com Talidomida identificada como deficiente, ultrapassando a barreira do preconceito, é um mega desafio.  Entretanto não é impossível enfrentá-lo. Basta interesse e prática na discussão repensando a ética, responsabilidade e o compromisso entre os seres humanos. Concluindo, a exclusão sempre será e é considerada como a negação da diversidade humana.  




Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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