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15/08/2020 às 08h54min - Atualizada em 15/08/2020 às 08h54min

Esta pandemia acaba? Como e quando?

JOÃO LUCAS O'OCONNELL
A curva de disseminação do novo coronavírus no Brasil tem se comportado de maneira única no mundo. O longo platô de pico observado por aqui não foi visto em nenhum outro país do globo! Nos países que sofreram primeiro com a pandemia, como a China e boa parte dos países europeus, a curva de disseminação teve uma fase de rápida expansão, atingindo milhares de pacientes muito rapidamente, levando os hospitais ao caos e a morte de milhares de pessoas simultaneamente. Com este rápido alastramento, a maioria dos países adotou medidas sérias e fortes de isolamento social. Em alguns países como China, Itália e Espanha, medidas muito duras de restrição à circulação de pessoas foram estabelecidas pelos governos locais. Comércios e indústrias foram fechados, o transporte público foi suspenso, ruas foram cercadas e vigiadas pela polícia e a circulação de pessoas pelas cidades foi controlada por várias semanas. Estas medidas de “lockdown” acabaram limitando a expansão da disseminação do vírus e as curvas de novos casos e óbitos sofreram grande queda a partir das medidas de restrição. A primeira onda da pandemia durou pouco tempo por lá.

Já, no Brasil, por suas dimensões continentais e por uma série de diferentes motivos (culturais, educacionais, econômicos, estruturais, políticas e outros), a curva de disseminação se comportou de modo bastante diferente. Como o isolamento social da população começou antes mesmo que o vírus chegasse a uma boa parte dos Estados e municípios, a curva de disseminação da doença foi muito lenta e progressiva, tendo se dado ao longo de vários meses. Este tão desejado “achatamento da curva de disseminação da doença” trouxe inúmeras vantagens como, por exemplo, permitir que muitas cidades e muitos Estados adequassem seus sistemas de saúde para suportar a eventual sobrecarga pelo alto número de casos da doença. Além disso, permitiu que o número de doentes acometidos simultaneamente fosse menor do que o previsto. Assim, assistimos a uma lenta e progressiva subida no número de novos casos e de óbitos diários entre os meses de março e maio.

Entretanto, a população não conseguiu manter o isolamento social necessário para a contenção mais efetiva da disseminação. Assim, a doença continuou se espalhando pelo país. Já no mês de junho, o número de novos casos e óbitos diários no país atingiu um pico de disseminação que, no entanto, não foi um pico clássico como o visto em muitos outros países. Como somente um terço da população manteve o isolamento, entramos numa fase de platô superior da curva e estamos convivendo com uma média diária de cerca de 1000 mortes há inúmeras semanas. Hoje, já são mais de 3 milhões de casos no Brasil e mais de 105.000 óbitos oficialmente registrados pela doença! Mas, agora que atingimos o pico de disseminação da doença, o que esperar mais da pandemia? Ela vai terminar? Quando ela vai terminar? Como ela vai terminar?

Infelizmente, não se pode prever exatamente quando a pandemia vai terminar. Pela projeção dos especialistas, uma pandemia só é seguramente controlável quando uma boa parte da população susceptível (que poderia desenvolver a doença) gera uma imunidade contra o vírus. Esta imunidade pode ser garantida de duas maneiras: pelo reconhecimento celular: as próprias células de defesa do organismo já reconhecem o vírus e o destroem; ou pelo reconhecimento humoral: onde a defesa do organismo contra o vírus é baseada na produção de anticorpos que vão impedir a sua multiplicação. Esta imunidade humoral (por anticorpos) pode ser dada tanto pelo contato prévio com o vírus quanto pela exposição a vacinas.

Um grande problema com o SARS-COV2 é que não sabemos estimar, ao certo, quantas pessoas desenvolveram a chamada imunidade celular, pois não há como contabilizar estes pacientes. Nós não sabemos quem e quantos eles são. Acredita-se que, se uma parte da população (20%, 30%) tiver entrado em contato com o vírus e desenvolvido anticorpos contra ele, uma outra parcela da população possa ter também desenvolvido uma imunidade celular contra o vírus.  Se isto for real, não precisaríamos aguardar que 60%, 70% da população desenvolvesse anticorpos contra o vírus para atingirmos a chamada imunidade de rebanho (aquela que garantiria um bom controle da pandemia). Com 20%, 30% de pacientes com anticorpos poderíamos desacelerar bastante o ritmo de contágio.

A outra esperança de controle da pandemia seria com a chegada de uma vacina eficiente, que pudesse garantir uma imunidade efetiva da maioria da população contra o vírus, acabando de vez com a sua propagação. É o que fez com que a grande maioria das outras epidemias por vírus fossem controladas até aqui (sarampo, caxumba, rubéola, difteria, poliomielite e outras).

Sejamos otimistas! Teremos mais poucas semanas de contágio e, após isso, os números de novos casos e de óbitos diários irão começar a cair progressivamente nos próximos meses e a pandemia vai acabar antes do fim do ano! De um jeito ou de outro! Com vacina, ou sem vacina! 
 



Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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