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25/07/2020 às 15h42min - Atualizada em 25/07/2020 às 15h42min

Ser Humano

IARA BERNARDES
O significado da palavra Humano, descrito acima, mostra apenas o que o Homem é denotativamente. Porém, o que nos torna realmente seres humanos, vai muito além que a dotação de inteligência e linguagem articulada, ou, pelo menos, deveria ser. A meu ver, o que nos faz humanos se trata muito mais sobre como empatia, respeito, cuidado, solidariedade e responsabilidade com o próximo é empregado diariamente nas nossas atitudes. Talvez por acreditar tanto nisso, esteja muito decepcionada com as pessoas.
Há alguns dias, João* foi submetido a cirurgia cardíaca e teve que permanecer hospitalizado por aproximadamente uma semana. A estrutura do hospital é impecável, acredito que atualmente seja o maior complexo hospitalar da cidade. No entanto, para alguns profissionais da equipe, falta o básico: respeito!

Me impressiona como as pessoas escolhem profissões que envolvem cuidados especiais, principalmente em um ambiente de pessoas doentes e/ou convalescentes, e são incapazes de se sensibilizar com a dor do outro. E não digo a dor física apenas, mas, principalmente, a dor mental. Vou citar o caso de João, pois foi quem estava acompanhando, mas se coloque no meu lugar, cuidando de alguém que ama muito, numa situação extrema de dor que você ou um ente querido já tenha passado e assim, com essa paixão, leia o meu relato.

João foi internado para um procedimento altamente invasivo, teve sua carne cortada, seu osso do peito fraturado, seu coração e pulmões foram parados por mais de 4 horas enquanto manipulavam o órgão vital. Depois seu Externo foi amarrado com arame, sua pele costurada, drenos, tubos, acessos, retorno do bombeamento sanguíneo e funcionamento dos pulmões retomado. Tudo isso em menos de 5 horas. Seu corpo saiu completamente do ritmo de funcionamento, causando altíssimo estresse ao seu organismo. Isso sem contar o esgotamento psicológico: o medo da cirurgia, da morte, do pós-operatório, dos cuidados que deveria tomar, enfim, nada estava no lugar, fosse fisicamente ou emocionalmente.

Agora, você deve estar pensando que depois de tudo isso, ele estaria bem. Eu também quis acreditar nisso, mas infelizmente não foi o que aconteceu. Na UTI o barulho dos aparelhos a ele conectado, equipamentos de monitoramento dos outros pacientes e as luzes não o deixaram dormir. Além disso, indo para o quarto, na internação pós-cirúrgica, presenciei logo ao chegar no andar, praticamente uma festa da equipe: conversa alta, risadas avolumadas, trocas de brincadeiras que pareciam mais comentários de um baile funk, ou seja, um total descaso e falta de respeito com pacientes e familiares que estavam naquele lugar para receber além de cuidados médicos, também o mínimo acolhimento. Com isso, ficou claro que alguns profissionais não compreendem que o doente precisa descansar, luzes podem ser reduzidas, conversas paralelas sem necessidade silenciadas e quando há, num ambiente onde pessoas convalescem, o tom precisa ser mais calmo. Além disso, gavetas não precisam ser batidas, bandejas de procedimentos não devem ser largadas bruscamente em bancadas, gargalhadas e tons comemorativos podem ser contidos não porque não possam fazer isso normalmente, mas sim porque existem lugares e momentos adequados para tudo nessa vida: risos agudos podem ser dados no horário de almoço e talvez durante uma reunião descontraída na empresa de marketing; conversas ao longo do expediente são saudáveis em qualquer ambiente, porém, num hospital, deve-se vigiar o volume, simplesmente porque ali existem Seres Humanos em sofrimento profundo.

Enfim, o que percebi com toda essa experiência é que devemos educar nossos filhos a olhar o outro, a dor do outro, as necessidades, tristezas, medos, inseguranças e com isso fazê-los aprender a respeitar o espaço de alguém além daqueles que ama e enxergar além do círculo íntimo de sua redoma, pois, apenas quando aprendermos a cuidar do outro na simplicidade que a empatia exige, teremos profissionais da saúde aptos a zelar de pacientes além de sua doença física,  uma vez que esse tipo de cuidado não pode ser suprido por nenhum treinamento técnico se essas pessoas sequer são capazes de compreender que dentro de um hospital há aqueles que precisam de acolhimento afetivo e psicológico, além, é claro, de medicamentos, suturas, injeções e aferição de pressão e temperatura.

Por isso, eu te peço, faça imediatamente, ensine seus filhos a se sensibilizar com aquilo que não diz respeito a ele, mas que também será importante para os que cruzarem seu caminho. E, por fim, agora pegue tudo isso que leu e aplique a todos os ambientes da sua existência, no seu trabalho, escola, igreja e entenda que sua vida diz muito mais a respeito do que você faz para os outros do que a si mesmo.
 



Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.



 
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