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11/07/2020 às 10h13min - Atualizada em 11/07/2020 às 10h13min

No hoje ou no amanhã: onde mora a tal felicidade?

ANGELA SENA PRIULI
Para começar nossa conversa positiva e científica de hoje, ironicamente vou trazer mais um texto da série #notíciastristesde2020 para dar sequência a partir da última coluna Ciência Pop. Vejamos: qual a chance de em apenas um mês você perder dois entes queridos (no caso mãe e padrasto)? Baixa! mas acontece. Sim, hoje recebi a notícia sobre meu padrasto de 80 anos que faleceu de um infarto fulminante. Ele não tinha diabetes, nem pressão alta, “apenas” estava idoso. 

Como estou encarando tudo isso? Para que não seja apenas dor, estou vendo como uma oportunidade de aprender algo, repassar esse aprendizado para você e embasá-lo com a ciência para ter crédito na minha argumentação ;) O que eu entendi disso tudo? Que devemos viver plenamente o momento presente com nossos entes queridos, por exemplo, prestar atenção pra valer em cada minuto para termos momentos de felicidade. Como vi no reflexivo filme Na Natureza Selvagem (2007): “a felicidade só é real quando compartilhada”. Vamos ver o que a ciência diz sobre isso?

Um estudo de 10 anos atrás, mas atual, publicado na Science, diz que a felicidade é encontrada ao “viver o agora”. Mas o estudo também descobriu que as pessoas passam quase metade do tempo (46,7%) pensando em algo diferente do que estão realmente fazendo.

O grupo de psicólogos da Universidade de Harvard coletou informações sobre as atividades diárias, pensamentos e sentimentos de 2.250 voluntários para descobrir com que frequência eles estavam concentrados no que estavam fazendo e o que os deixava mais felizes. Para o estudo, Killingsworth e seu supervisor, Daniel Gilbert, autor do livro Stumbling on Happiness, de 2006, desenvolveram um aplicativo que contatava os participantes em horários aleatórios durante o dia. Quando recebiam uma mensagem, os participantes tinham que responder com informações sobre o que estavam fazendo, selecionando em uma lista de 22 atividades, como fazer tarefas domésticas, fazer compras ou assistir TV. Eles avaliavam sua felicidade em uma escala de zero a 100 e diziam se estavam concentrados ou sonhando acordados com algo positivo, negativo ou neutro.

Eles descobriram que as pessoas se sentiam mais felizes ao fazer sexo, se exercitar ou conversar; enquanto eram menos felizes ao trabalhar, descansar ou usar um computador em casa. E, embora a mente dos sujeitos estivesse vagando quase metade do tempo, isso sempre os deixava menos felizes. Os cientistas concluíram que relembrar, pensar com antecedência ou sonhar acordado tende a tornar as pessoas mais infelizes, ainda que estejam pensando em algo agradável.

Mesmo as tarefas mais envolventes não conseguiram prender toda a atenção das pessoas. Os voluntários admitiram pensar em outra coisa (90% pensava em trabalho) pelo menos 30% do tempo enquanto realizavam essas tarefas, exceto quando estavam fazendo sexo - que pareceu ser uma atividade que exigiu mais atenção, segundo os pesquisadores.

"Os seres humanos têm essa capacidade única de se concentrar nas coisas que não estão acontecendo no momento. Isso lhes permite refletir sobre o passado e aprender com ele; permite que eles antecipem e planejem o futuro; e que eles imaginem coisas que podem nunca ocorrer ", disse Matthew Killingsworth, principal autor do estudo. Mas esse “poder” pode ser destrutivo para nossa desejada felicidade.

Assim, o estudo revela que a mente humana é uma mente errante e uma mente errante pode ser uma mente infeliz. A capacidade de pensar sobre o que não está acontecendo é uma conquista cognitiva que tem um alto custo emocional para nós.

O que você leva para vida com essa leitura: esteja presente enquanto come, trabalha, toma banho, cozinha, lê, reza, se exercita. É o que se chama Atenção Plena. Ainda que tenhamos as dificuldades da vida, ela é o que está acontecendo agora e isso é valioso, especialmente quando pensamos em nossos relacionamentos. A resposta ao título é que a felicidade real e compartilhada mora no HOJE. Três, dois, um, valendo.
 
Fontes:
 
A Wandering Mind Is an Unhappy Mind
By Matthew A. Killingsworth, Daniel T. Gilbert
Science12 Nov 2010: 932

https://www.theguardian.com/science/2010/nov/11/living-moment-happier



Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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