Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
11/07/2020 às 10h06min - Atualizada em 11/07/2020 às 10h06min

Já não será mais do mesmo jeito

IARA BERNARDES
Estava pensando essa semana sobre as mudanças que aconteceram nas nossas vidas desde o início da pandemia Covid-19. O primeiro caso no Brasil foi notificado em 26 de fevereiro e a primeira morte em 17 de março, que foi quando tudo virou do avesso e o isolamento social começou. De um dia para o outro não podia mais ir para o trabalho, meus filhos para a escola e confesso que encaramos esse começo como férias, mas sempre com aquele pensamento que precisaríamos nos manter ativos de alguma maneira para que a nossa consciência não ficasse pesada quando tudo acabasse. Então, começamos a nos inscrever em cursos online, assistir palestras, estudar nossa vida financeira, fazer atividades recreativas, enfim, nos movimentamos muito rápido em busca de estarmos melhores no fim da quarentena.

Porém, o que não imaginávamos é que esse período se estenderia por mais de 100 dias e tudo ficaria diferente, bem como a expectativa de volta à normalidade já não pode mais ser cogitada. Isso porque, não vai mais existir quem éramos há 3 meses, nossa vida profissional mudou, algumas pessoas não retornarão mais aos seus postos fixos de trabalho, pois estes foram extintos e seus lares transformados em ambiente laboral; as aulas não serão as mesmas, muito possivelmente sistemas híbridos de ensino serão implementados após a pandemia, aulas online sendo ministradas junto a aulas presenciais serão parte do currículo, bem como, podemos nos preparar para a gravação das aulas presenciais, como a possibilidade de estas serem disponibilizadas remotamente e, provavelmente, transmitidas em tempo real para os que não estiverem na escola.

Enfim, não podemos afirmar quais outras mudanças ainda ocorrerão, no entanto, temos certeza de que nada será como antes e isso não é, necessariamente, ruim, pois a necessidade de mudanças faz parte da nossa vida e foi bem isso que aconteceu: um empurrão para que, mesmo aqueles felizes na inércia, saíssem do seu comodismo e começassem a se reinventar em algum aspecto da sua vida.

A mudança mais interessante a meu ver foi o resgate da convivência familiar. A necessidade de permanecer 24 horas por dia com nosso cônjuge, filhos, pais, mães e conviventes já não é mais facultativo. Não existe a possibilidade de escaparmos para o trabalho e despachar a criançada para a escola, nem deixarmos os filhos em período integral com as “tias” enquanto trabalhamos e resolvemos NOSSOS assuntos PARTICULARES cotidianos. Não existe mais o EU na rotina, agora somos NÓS. Muitas famílias precisavam dessa reviravolta. Pais, antes omissos à educação dos filhos, perceberam em que pé estão as malcriações e as birras, antes percebidas apenas pelas babás e professores. As lacunas emocionais desencadeadas pela falta de convivência com os pais estão sendo descortinadas e pontes construídas para que esses laços sejam atados, em muitos casos, pela primeira vez. E isso é magnífico! Pensem em quantas vidas foram impactadas positivamente graças a uma situação de  crise: pais sendo pais, filhos recebendo atenção e vínculos se concretizando.

Claro que coisas ruins também acontecem, mas não é o foco, não preciso ficar derramando lamúrias de como a vida financeira de milhões de brasileiros piorou, a da minha família inclusive, ou das mortes que podem ser consideradas prematuras por conta do vírus, da situação política do Brasil que está cada dia mais instável ou do isolamento dos velhinhos que antes tinham, por mínimo que fosse para alguns, a convivência com seus amigos.

Mesmo que assim seja, ainda é possível ver o lado bom das coisas, é preciso saber enxergar, sair um  pouco do negativismo e olhar com mais leveza para a situação, pois sempre tem aquele pedacinho que dá pra gente salvar.

Nesse momento, sugiro que tire o véu negro dos seus olhos e comece a ver seus filhos bagunceiros como crianças saudáveis que brincam e esparramam brinquedos, mas também as ensine a arrumar a tralha toda; perdoe quem te caluniou e tire o peso do rancor do seu coração, pois ele faz mal apenas para você; converse com seus pais, avós e entes mais velhos, aprenda com eles o que apenas a sabedoria da idade é capaz de nos trazer;  reflita sobre as dores que causou a tantos, mesmo que não intencional e busque um jeito de se desculpar, sem esperar o perdão de volta; tente não destilar a raiva e a inveja, pois para alguns isso é um passo tremendo rumo à melhoria.

Enfim, busque de alguma maneira, encontrar forças para se tornar alguém melhor, sem se incomodar com os julgamentos daqueles que falarão que você não o é, pois a mudança acontece diariamente e apenas nós somos capazes de julgar e medir as intenções das nossas atitudes.



Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.



 
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90