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30/06/2020 às 18h42min - Atualizada em 30/06/2020 às 18h42min

O CARNAVAL DA CATIRA

ANTÔNIO PEREIRA
Nosso Carnaval já foi reluzente e famoso. Por razões que não identifico bem, atualmente encontra-se frio, ou pelo menos morno, com os clubes vazios e a rua admitindo apenas o entusiasmo das Escolas de Samba - que é fugaz como as grandes alegrias da vida.

O Carnaval brasileiro começou em meados do século XIX e aqui, em Uberlândia, na primeira década do século XX com bailes domésticos, batalhas de confete nas praças e pequenos blocos na rua.

A partir dos anos 20, depois que João Severiano Rodrigues da Cunha, mais conhecido por Joanico, um dos melhores, senão o melhor Prefeito que a cidade já teve, calçou a avenida Afonso Pena, o Carnaval deixou de ser uma festa restrita a grupos e tornou-se popular, reunindo naquele logradouro gentes de todas as classes e raças num dos mais belos momentos da história da alegria em Uberlândia. A nota destoante era a discriminação racial que separava, em plena avenida, brancos de negros. Cada um ficava do seu lado na rua.

Como as emissoras de rádio nacionais não tinham alcance e as músicas carnavalescas eram arranjadas por aqui mesmo, o jeito foi produzir um Carnaval com as armas que se possuíam. As bandas de música tinham seu repertório para as retretas domingueiras e, no princípio, era isso que se tocava durante as festas de Momo.

A chegada das músicas carnavalescas cariocas era tão demorada que só no Carnaval de 1919 chegou aqui a famosa polca “Pega na Chaleira”, sucesso das festas de 1909. Assim mesmo, com letra local. Era costume fazerem paródias sobre as músicas que chegavam brincando com as personalidades locais.                               

Além de dançarem e cantarem valsas, mazurcas e polcas, com letras feitas aqui mesmo, os uberabinhenses introduziram um aspecto caipira no seu Carnaval. Grupos de catira saíam dançando e cantando pelas residências e pelas ruas sua música “recortada”.

Na década de 1921, já havia um pequeno clube da elite local: o Selecto Club, que ficava nos inícios da avenida Afonso Pena.
No Carnaval de 1928, o conhecido professor e historiador Jerônimo Arantes organizou um grupo de catira chamado “Lenço Branco” que aprontou no Selecto e nas ruas. Jerominho era bom violeiro e bom improvisador. Em sua saída, o Lenço Branco, a exemplo dos grupos carnavalescos cariocas, parou à porta do jornal “A Tribuna” e cantou e dançou dois números: o primeiro, “Visita do Presidente Antônio Carlos a Uberabinha”, e o segundo, “Quem cortô a arve?” - quem sabe uma cantiga precursora dos movimentos ecológicos?

Dali saiu o Lenço Branco para a avenida para que todos admirassem seu canto, dança e as violadas. Depois foi para o Selecto que parou o baile. No meio do salão cantaram e retiniram as esporas. Por fim, encerrada a manifestação caipira carnavalesca, Jerominho Arantes e o dr. Pelópidas Fonseca, que era o Orador do Clube, iniciaram um desafio sertanejo que foi longe. Os foliões não se agastaram, pelo contrário, admiraram a peleja roceira.

A imprensa local da época perguntava maravilhada nas suas crônicas que sucesso não faria o Lenço Branco em plena passarela carnavalesca do Rio de Janeiro?
 
 
Fonte: jornais da época



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