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23/06/2020 às 09h46min - Atualizada em 23/06/2020 às 09h46min

A PRIMEIRA MISSA

ANTÔNIO PEREIRA
João Pereira da Rocha girou pelas terras do futuro município de Uberlândia escolhendo terras e apossando-se das que achou melhores. Fixou-se, entretanto, no lugar onde instalou a fazenda São Francisco, por razões estranhas à qualidade da terra (que também era boa). Ele queria ficar perto da Aldeia de Sant’Anna do Rio das Velhas (Indianópolis), que tinha igreja, católico praticante que era, devoto de São Francisco. Em todas as oportunidades lá estava ele, na Aldeia, cumprindo suas obrigações de fé. Outros moradores, que chegaram depois, no entanto, não tinham essa facilidade por residirem mais distante.

Depois que chegou, Felisberto Alves Carrejo, na fazenda da Tenda, puxava o terço nas ocasiões festivas, mas era pouco para o tanto de fé daquela gente. Eles queriam uma proteção maior e conseguiram que o “Vizitador Ordinário” acatasse uma petição que fizeram através de seus Procuradores, o próprio Felisberto mais o Francisco Alves Pereira (filho do João, o primeiro) para a construção de uma Capela Curada que atendesse à maioria dos residentes no lugar. Capela Curada é aquela que possui padre cura, vigário. Ou seja, o povo não queria uma igrejinha que ficasse fechada, só abrindo de vez em quando. Queria a regularidade dos ofícios, a presença constante de um sacerdote. Autorizados, puseram mãos à obra. O local escolhido foi no alto da encosta, à direita do rio Uberabinha, à margem de um grande capão de mato, onde começava a região dos campos. Em termos atuais, onde é hoje a Biblioteca Pública Municipal.

Para se fazer a construção, puxou-se um longo rego d’água que veio das cabeceiras do córrego São Pedro. Marcou-se o chão. Um retângulo de apenas sessenta metros quadrados. Marcou-se também pequena área em torno que serviria para o Campo Santo. Era costume, naquela época, fazer o cemitério em torno da igreja. O espaço mais largo era em frente à porta de entrada.

Começaram as obras. Os tijolos de adobe eram feitos no próprio local. Conforme se erguiam as paredes, erguiam-se também, em torno da pequena construção e ao longo do rego d’água, as primeiras edificações rudimentares, de pau a pique, cobertas por palhas, que constituiriam o início da cidade. Começada em 1846, a construção da igreja só terminou em 1853. Estando tudo pronto para que a capela iniciasse suas atividades caritativas, ainda sem padre, a comunidade foi surpreendida pelo falecimento de dona Maria Eufrásia de Jesus, esposa de Antônio Alves Carrejo, irmão do Felisberto.

O que fazer?

Correu-se a Indianópolis e se buscou o vigário Antônio Martins. E, assim, funebremente, ao contrário do que se queria, foi inaugurada a nossa capelinha de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião, pois foi a missa de corpo presente que o padre Martins oficiou foi a sua primeira atividade piedosa. Dona Maria Eufrásia não só inaugurou a Capela, como também foi o primeiro corpo enterrado intramuros.

Após a primeira missa e enterro da falecida, o vigário Antônio Martins voltou para a Aldeia e nossa igrejinha aguardou mais um pouco até que, em outubro de 1853 chegou o seu primeiro vigário, o padre José Martins Carrijo, filho do Felisberto, ordenado sacerdote em Goiás, possivelmente em 1850.

Nossa igrejinha, cujos oragos mais os rios nomearam a comunidade que se formou à sua volta (Arraial de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra do São Pedro de Uberabinha), custou cento e dezoito mil e quinhentos e quarenta réis.
 
Fonte: Cônego Pedro Pezutti



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