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30/05/2020 às 08h29min - Atualizada em 30/05/2020 às 08h29min

O novo SARS-COV2: pouco letal, mas, muito transmissível

JOÃO LUCAS O'OCONNELL
Os coronavírus (CoV) compõem uma grande família identificada na década de 1960. São vírus que infectam pessoas e animais e causam infecções respiratórias semelhantes aos resfriados comuns e à diarreia. Em 2002, foi localizada uma variante mais agressiva desse vírus, o SARS-CoV, responsável pelo aparecimento da síndrome respiratória aguda grave (SARS), na China. A infecção por este vírus levava 10% dos indivíduos à morte.

Em 2012, uma outra variedade do coronavírus (o MERS-CoV) foi isolada pela primeira vez em humanos e apresentava uma forma grave de pneumonia e complicações renais atingindo populações da Arábia Saudita, de outros países asiáticos, da Europa, da África e nos Estados Unidos. Este vírus trouxe grande preocupação mundial à época, pois a taxa de letalidade da doença era muito alta: cerca de 40% das pessoas que entravam em contato com o vírus faleciam! Mas, por sorte, nem a infecção pelo SARS-COV e nem pelo MERS-COV impactaram na saúde global,  pois ambas acometeram apenas uma pequena parcela da população de alguns países.

Agora, no fim de 2019, o SARS-COV2 foi identificado no interior da China. Este novo vírus respiratório, também da família dos coronavírus, não é mais letal que os outros agentes da mesma família que haviam gerado preocupação nos anos de 2002 (SARS-COV) e 2014 (MERS-COV), respectivamente. Acredita-se, por exemplo, que, se conseguíssemos diagnosticar todos os casos que realmente entraram em contato com o vírus no mundo, verificaríamos que a mortalidade por ele é menor que 1%. Mas, se a mortalidade é tão baixa, por que então ele causou e causa ainda tantos transtornos entre nós? Por que não paramos de ouvir tantas notícias de novos casos e novos óbitos no Brasil todos os dias?

Infelizmente, apesar da taxa de letalidade ser muito baixa, o poder de transmissibilidade do vírus é muito alta. Acredita-se que, em média, cada indivíduo infectado transmite a doença para cerca de 3 a 5 outras pessoas. Desta forma, o poder de alastramento do vírus entre a população é bem mais alta que a dos outros dois vírus mais letais anteriormente descritos. Assim, mesmo que apenas 1% das pessoas que adquirirem a infecção irão morrer, e mesmo que apenas 5% população brasileira entre em contato com o vírus nesta primeira onda de infecção, teremos aproximadamente 100.000 óbitos pela doença até o final do inverno. Infelizmente, isso é muita coisa!!!

Sabemos também que as estatísticas oficiais sobre o número de contaminados e o número de óbitos que ouvimos diariamente nos noticiários, apesar de estarrecedoras, ainda está bastante subestimada em relação ao número real de casos e de óbitos que realmente aconteceram. Estima-se que, devido à subnotificação, o número real de casos de pacientes infectados seja, pelo menos, 7 vezes maior que o número que aparece nas estatísticas oficiais e o número de óbitos pela doença seja, pelo menos, duas vezes maior do que o notificado.

Assim, apesar de ser muito bom repetir e tentar tranquilizá-los de que a infecção pelo novo coronavírus não é nada mais do que uma síndrome gripal comum para mais de 90% da população (ou seja, uma doença benigna e de baixa letalidade), não podemos deixar de orientar que sejam mantidos todos os cuidados possíveis (especialmente de manutenção do distanciamento social máximo possível, da intensificação dos cuidados de higiene manual e respiratória) pois, apesar de que uma parcela pequena da população vai se contaminar pelo vírus, e de que poucos que adquirirem a infecção irão morrer em decorrência dela,  temos que lembrar que: um pouco de muito, pode acabar sendo demais!!!



Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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