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29/05/2020 às 08h40min - Atualizada em 29/05/2020 às 08h40min

Quem você está alimentando?

CELSO MACHADO
Para muitos isso pode ser chamado de comodismo, para outros serenidade e pode ser que, eventualmente, sejam ambos, mas admiro quem procura em todos os momentos enxergar o outro lado dos fatos.

Sair da posição em que se encontra ou do lado que sempre esteve para tentar ver aquilo que está além do aparente. Analisar possibilidades que serão sempre maiores para os curiosos, os realistas e os criativos.

Sair da zona de conforto, avaliando e enfrentando a realidade com seus desdobramentos, consequências e não apenas ficar esperando que a normalidade volte.

Ainda que não seja fácil encarar a realidade, muitas vezes dura e pesada, toda pessoa tem o poder de decidir qual caminho tomar diante dela: lamentar e reclamar ou agir para amenizá-la e modificá-la.

Por razões de crença pessoal não tenho afinidade com quem é apenas crítico, especialista em apontar erros, equívocos, falhas e incapaz em apontar soluções. Principalmente assumir a responsabilidade de incrementá-las. Esse tipo tão comum de indivíduo que sabe de tudo, opina e palpita e quer que os outros façam o que apregoam, mas não tem a menor disposição em botar a mão na massa.

Sintonizo com os irrequietos que demonstram sua falta de comodismo, agindo, participando, atuando.

Para mim, esses são os autênticos agentes de mudanças, os transformadores. Já os que ficam apenas apontando feridas sem tomar nenhuma atitude concreta para curá-las, classifico como aborrecidos e frustrados.

Prefiro sempre o erro diante de uma iniciativa que não foi bem sucedida do que as avaliações negativas de quem nunca parte para a ação, para a transformação. Acredito que só não erra quem não faz. Se bem que a omissão não deixa de ser um erro por essência.
Gosto demais e me marcou para sempre uma história sobre sabedoria indígena que escutei ainda na juventude, portanto há bastante tempo.

Segundo ela, quando os pequenos índios começavam a ganhar consciência de partir para a luta da sobrevivência o pajé narrava para eles que todo ser humano carrega dentro de si dois cachorros que duelam constantemente. Um do bem e outro do mal. E não tinha uma vez sequer que não acontecia isso: os indiozinhos queriam saber quem ganhava essa luta. Pausadamente o velho guerreiro respondia: aquele que a pessoa alimentar mais.

Bela e simples lição que de uma forma singela transmite tanta sabedoria. Tão atual nos tempos atuais. Basta fazer uma analogia entre as feras que vivem brigando dentre de nós, a que crítica destrói e a que colabora e participa. Qual a que estamos alimentando mais.

Vou além, penso que todos os pais deveriam contá-la para seus filhos, mas incluindo outras feras que vivem dentro de nós duelando incessantemente: a da vaidade com a humildade; do poder com o servir; da ganância com a generosidade; da crítica com a construção; do egoísmo com a solidariedade e por aí afora.  

Como nos faz bem, constantemente avaliar como estão esses bichos incansáveis que vivem dentro da gente.

Quando digo que admiro quem busca olhar o outro lado das coisas, preciso acrescentar que mais ainda respeito quem é capaz de olhar para quem é, como está, refletindo sobre seus gestos, atitudes e intenções. Com a coragem de mudá-los sempre.

Porque quem é capaz de mudar a si próprio, não tem a menor dúvida, consegue mudar o mundo. Ou pelo menos fazê-lo melhorar, nem que seja um pouquinho só.

Por falar nisso, já alimentou seu cachorro hoje? Qual deles?



Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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