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15/05/2020 às 08h02min - Atualizada em 15/05/2020 às 08h02min

O sentimento, força existencial da natureza humana

LOGOSOFIA
Entre os múltiplos aspectos que configuram a psicologia humana, o que diz respeito à sensibilidade é um dos mais importantes e que mais influem durante o curso da vida.

O estudo a fundo desta questão, dada a sua peculiaridade íntima, merece uma discriminação de seu conjunto. Assim, e para obter uma mais clara e precisa compreensão dos valores que representa, será necessário classificá-la em duas categorias. A primeira abarcará tudo o que diz respeito ao próprio sentir nas relações do ser consigo mesmo; a segunda, toda a extensão que transcende a órbita da primeira. Em ambos os casos a sensibilidade costuma se aguçar, seja por aquilo que afeta o ser de modo íntimo e pessoal, quer dizer, pelo que o afeta diretamente, seja pelo que afeta exclusivamente os demais. O mesmo se dá com os acontecimentos felizes, de grata repercussão para a vida.

Uma circunstância, um acidente, uma desgraça, seja pela perda de seres queridos ocasionada por distanciamentos ou falecimentos, seja por perda de bens, etc., produz lógicos abalos sensíveis em quem é atingido por tais coisas, sendo sua própria consciência a que registra o fato que o comoveu. Mas, quando o que ocorre afeta a outro e igualmente se sente uma profunda comoção, o fato então assume um caráter diferente. Este é o caso que motiva nosso estudo, pois o consideramos o mais importante, e o que mais vivo interesse desperta, por sua especial particularidade.

Quando se chega a sentir ou, melhor dizendo, quando se experimenta um sentir de tal natureza por outro ser, estabelece-se de fato um vínculo existencial, ou seja, conectam-se duas existências sensíveis: sendo assim, produz-se uma espécie de prolongamento da vida de um em outro, pois tudo o que acontece com aquele a quem se estende o sentir é como se acontecesse com o próprio que experimenta o efeito sensível, adquirindo este maior intensidade ao manifestar-se pela força de um afeto, e mais elevada condição quanto maior for a pureza e o desinteresse que o inspire.

A natureza humana costuma reagir por meio da expressão dos próprios sentimentos, quando outros seres sofrem injustiças. Neste caso, sente com a humanidade e experimenta a angústia que sua própria sensibilidade exterioriza como sinal inconfundível de solidariedade para com seus semelhantes. Agora, quando o sentir se circunscreve a seres determinados, estabelece-se, como ficou dito, uma vinculação existencial, ou seja, a extensão do sentimento de um ao sentimento do outro. É a vida que se amplia, experimentando o ser em si mesmo os sofrimentos, contrariedades ou alegrias que se promovem na vida daqueles que estão conectados a seu sentir. Daí que seja tido em grande apreço tudo que se refere ao sentimento.

Também se podem estabelecer vinculações intelectuais, porém estas não passam de meras formas de convivência comum; não obstante, a vinculação intelectual pode criar a vinculação simpática, o que significa que se haveria dado, por influência da simpatia mútua, um passo mais em direção ao ser interno, com o que se pode condensar um sentimento de afeto cuja expressão sensível é o laço existencial que une e prolonga a vida de um em outro.

O exposto dá a pauta para julgar a importância de que se reveste o sentimento no ser humano e, ao mesmo tempo, mostra que o sentimento é uma força existencial que deve ser considerada como parte da própria vida. Se tal força é afetada, a vida sofrerá em idêntica proporção a repercussão da alteração produzida.

Portanto, quem preserva seus sentimentos de qualquer perturbação estranha a sua sensibilidade preserva, também, sua paz interna e a felicidade que a existência deles oferece a quem os cultiva com amor e conhecimento. A destruição de um sentimento implica a destruição de uma porção de vida, a qual teria sido animada pela força de um afeto que por si mesmo faz parte da própria vida.
 
 
Revista Logosofia – Tomo 2 – páginas 209 a 210 – Autor: Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)



Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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