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13/05/2020 às 10h25min - Atualizada em 13/05/2020 às 10h25min

Enfermagem agora

SEBASTIÃO ELIAS DA SILVEIRA, ENFERMEIRO
Quando a Organização Mundial da Saúde - OMS - lançou a Campanha Nursing Now, definindo que 2020 seria o ano de reconhecer e re-valorizar a enfermagem como categoria estratégica para os objetivos de saúde no mundo, não poderia prever que, quando a este chegássemos, a humanidade habituada a tragédias individuais e catástrofes coletivas pontuais, redescobriria os horrores de uma pandemia.

A princípio, o mundo negligenciou a COVID-19 e foi surpreendido.  Diariamente a doença tem causado sofrimento e dado provas contundentes e globais de sua letalidade. Na maioria dos países, o dilema imoral entre escolher a economia ou a saúde escancarou as contradições governamentais, atrasou procedimentos técnicos, confundiu a população, exauriu os sistemas de saúde e potencializou a exposição dos profissionais da saúde. O Brasil, atrapalhado, seguiu o mesmo curso.

Neste contexto de impressionante avanço no Brasil do flagelo planetário que se tornou a COVID -19, a Enfermagem representa o maior efetivo mobilizado para a assistência. Lidando diretamente com os efeitos dos desarranjos econômicos e institucionais, exemplificados pela falta de insumos e Equipamentos de Proteção, encontra-se diretamente exposta ao risco de contágio. O número de profissionais adoecidos vem aumentando significativamente e de acordo com o Conselho Nacional de Enfermagem-COFEN, pelo menos 76 trabalhadores da Enfermagem já morreram pela COVID -19 no Brasil.

A Semana da Enfermagem é comemorada nesta semana, entre 12 e 20 de maio, lembrando o aniversário de 200 anos de Florence Nightingale, matriarca da profissão. O lema é “Onde há Enfermagem, há cuidado com a vida”, destacando que estes profissionais estão presentes nos espaços de liderança e gestão, na pesquisa científica e no ensino, no desenvolvimento tecnológico e no empreendedorismo. Mas, majoritariamente, na assistência direta à saúde.

Na assistência, o maior efetivo da Enfermagem é composto por mulheres com formação de nível médio, provedoras de suas famílias e recebedoras de baixos salários. Vivem no anonimato, trabalhando com carga horária excessiva, em múltiplos vínculos, geralmente em condições insalubres e apesar de merecerem, em raras instituições recebem integralmente o adicional de insalubridade. Nas demais áreas de atuação, existem outras grandes dificuldades.

A dedicação, o romantismo e a paixão com as quais a Enfermagem vem atuando na assistência às vítimas do COVID-19 têm chamado a atenção da população e gerando justas homenagens. Contudo, é necessário que este reconhecimento momentâneo leve à percepção das necessidades crônicas da categoria e converta-se em medidas efetivas de valorização dos profissionais de Enfermagem.

A sociedade representada nos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, assim como em cada instituição de saúde, precisa produzir decisões oficiais que levem à melhoria das condições de vida e trabalho da Enfermagem. Entre elas, o pagamento dos adicionais de insalubridade em grau máximo; a definição de um piso salarial justo e a aprovação, com celeridade, do mais antigo pleito da Enfermagem, a carga horária semanal de 30 horas.

O COVID-19 está totalmente fora de controle no Brasil e ainda vai demandar muito da Enfermagem. Mas vai passar. Estas medidas são importantes para que sigamos com uma Enfermagem digna, agora e sempre, em condições de servir ao povo brasileiro em todas as circunstâncias.



O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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