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05/05/2020 às 11h16min - Atualizada em 05/05/2020 às 11h16min

Os primeiros campos de futebol

ANTÔNIO PEREIRA
Hoje possuímos um dos mais belos elefantes brancos do futebol, o internacional estádio Municipal Parque do Sabiá, com gramado da melhor qualidade, instalações para nenhum atleta cinco estrelas botar defeito e lugares para mais de 50 mil espectadores! Geralmente vazio e apresentando espetáculos que não condizem com a sua grandeza.

É... mas a bola rolou mesmo, pela primeira vez na cidade, entre os túmulos abandonados do velho cemitério que havia na praça Clarimundo Carneiro, nos fins da primeira década do século passado século. O rapazinho Avenir Gomes saiu dando bicudas numa bola velha que trouxe de Uberaba, cidade onde nasceu o futebol para o Triângulo, no Colégio Diocesano.

Em 1911, montou-se o primeiro esquadrão uberabinhense, o União Foot Ball Club que não fez jogo nenhum. Logo no primeiro encontro público, entre equipes formadas dentro do próprio União, os atletas ficaram com vergonha de colocar calções e mostrar as pálidas canelas para as senhorinhas e mães de família que estavam em volta do campo. Naquele tempo, é preciso lembrar sempre, o futebol importado recentemente da Inglaterra, era esporte da elite. As famílias, arrumadinhas, estavam no campo. E os rapazes nem trocaram de roupa. O jogo seria na praça da República (Tubal Vilela). Se não se pode considerar o cemitério velho como o primeiro campo de futebol, vamos eleger a praça Tubal Vilela como o nosso primeiro “ground” – como se dizia na época. Era o “ground” dr. Duarte. Um campo de areia.

Várias equipes se formaram na segunda década, muitas delas usando a velha praça. Entre eles, o Uberabinha Foot Ball Club, o Uberabinhense, o Collegial, o Commércio Foot Ball Club, o Rio Branco, o Spartano. O Uberabinhense transformou-se no Rio Branco, um dos mais regulares e duradouros da época. O Rio Branco, mais o Spartano (fundado pelo Américo Zardo), juntaram-se e formaram, em 1918, o Uberabinha Sport Club, que a História insiste em dizer que foi fundado em 1922, com Livro de Atas e tudo. Mas em 18 já existia um... ou seria outro?

O segundo campo foi atrás da Santa Casa de Misericórdia, construída na segunda década do século XX, na avenida Floriano Peixoto, demolida nos anos 60. Ficava onde está a empresa Uberlândia Automóveis. Foi o primeiro campo cercado. Várias equipes utilizaram-no. O citado Uberabinha Sport Club fez, nesse estádio, o seu jogo inaugural, contra o Palestra Itália, de Uberaba, empatando em um a um. Acredito que a recuperação dos internados na Santa Casa não fosse das melhores com a gritaria e a músicas das “furiosas” que infalivelmente compareciam aos campos para destacar os gols e as jogadas mais interessantes. Era o “Campo da Misericórdia”. O terceiro foi atrás da chácara do coronel Virgílio Rodrigues da Cunha (um “cocão” de cerne), pouco acima da atual Vila dos Oficiais do Exército. Não confundir com o Estádio Municipal construído muitos anos depois pelo prefeito Tubal Vilela exatamente onde é a Vila. Pela primeira vez um time de futebol tinha o seu próprio Estádio: a Associação Esportiva Uberabinha. Campo cercado. De areia ou de terra, não sei, mas que não era gramado, não era. Apesar de ser do partido “cocão”, sendo o time da cidade, a Associação aceitava de bom grado torcedores “coió”. Para manter uma neutralidade dissimulada, as bandas dos partidos políticos se revezavam. Uma para cada jogo. Certa ocasião, era vez da banda “coió”, mas como o jogo era muito importante os “cocão” não a deixaram tocar. Indignados, os “coió” abandonaram o estádio, e, no mesmo dia, capitaneados por Agenor Bino e Gil Alves dos Santos, subiram para os altos da cidade onde escolheram uma área que o Gil, proprietário da mesma, vendeu a preço baixo para a criação (ou renascimento) do glorioso Uberabinha Sport Club (hoje Uberlândia Esporte Clube). Era 1922.

O futuro Estádio Juca Ribeiro foi, portanto, o quarto campo de futebol da cidade. E o mais duradouro. Se houve outros, não é do meu conhecimento.

OBS: Coió e Cocão eram os apelidos dos dois partidos políticos da época: o PR-Municipal e o PR-Mineiro. O povo não usava plural para citá-los.
 
Fontes: Ramiro Pedrosa e jornais da época


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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