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24/04/2020 às 16h31min - Atualizada em 24/04/2020 às 16h31min

Capotraste

WILLIAM H. STUTZ
Nossa língua é uma viagem. Já observaram quantas palavras soam como uma coisa e na verdade é outra totalmente diferente? Pensei aqui algumas que sempre me levavam a outro lugar e as compartilho com você, que tem a paciência de ler minhas elucubrações. Pronto, aí já está uma das recolhidas na tarrafa da curiosidade. Tá certo que ela significa exatamente o que quer dizer, mas pense que louco, se você passou a noite estudando, você elucubrou pra caramba. Sabia? Porém, essa é um nadinha de nada.
Ando com uma “osfresia” danada. Meu Jesus Cristim, já procurou um médico? Isso é grave!  Tenho um amigo que quase morreu disso. Ainda mais se for acompanhada de “iscnofonia”, aí, lascou. É, acho que você tem razão, vou ligeiro. Será que isso pega? Vou avisar o pessoal do trabalho, pois vai que passei isso para alguém, quero carregar culpa não. Ouvi contar que chá de “ginge” é bom para esse trem. Ponha umas gotinhas de “abléfaro” que passa em dois tempos.
Bom, estimo melhoras. Vou aproveitar o bom tempo e ver se aproveito o manso do rio para um “náfego” tranquilo. Cuidado com o “Zafimeiro”, dizem que em agosto ele anda solto pelos cantos, um perigo.
Vale puxar reza, senão novena. Esse agosto é de agouro marrento, redemoinho e sacis a solta, é de tomar cuidado, vigília.
Vou-me antes do acainhar dos cães no trecho e, se tiver sorte, ainda pesco meia dúzia de “Hoplias”, já que o tempo está no jeito. Dá uma fritada de lamber beiço.
Pois, não é? Cada palavra no seu galho. Só não entendo os motivos pelos quais elas me levam a pensar longe coisa que não é, mas lembrança faz nascer. Tem língua mais repleta de histórias e passagens de Marias-Fumaça do que a nossa? Querida e rica língua pátria. É “acontista” de nascença.
Outro dia, meu filho me apresentou uma. Ao sair apressado para buscar um capotraste, perguntou a passadas se eu queria alguma coisa. Pensei ligeiro, pois estava mesmo com fome e, ainda sentindo o vento de sua saída, respondi: traz um pra mim também. Pode ser mal passado! Atentei que ele parou. Quietou alguns segundos e voltou de fasto. Colocou só a cabeça pra dentro e, com sorriso armado, perguntou: como é que é? Aí, falei: uai, pode não? Estas coisas se não forem malpassadas perdem o gosto.
Pai, capotraste não é de comer, é para o braço do violão, como se fosse uma pestana.
Aí, parado fiquei eu. Certo, respondi, mas que tem som de comida e boa tem. Se não é, deveria ser. Já pensou um capotraste ao molho de cebola e pimenta!  E outra, pestana pra mim é fio de cabelo da pálpebra ou, quando muito, é puxar uma palha, de preferência em rede depois do almoço, numa deliciosa preguiça mineira.
É cada uma! Outras estranhices que mostrei vou contar significado não, deixo buscar no dicionário, mas só vale o de papel, aquele livrão grosso e com aroma de muita coisa contatada. Fica de presente para você. Enquanto isso, tome um belo “Cabotino”, acompanhado de deliciosa “viscacha”, não há quem resista. É isso meus amigos, minhas amigas, às vezes sou um escritor de minúsculas Cucurbitas.


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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