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18/04/2020 às 15h48min - Atualizada em 18/04/2020 às 15h48min

O mito dos pais perfeitos

IARA BERNARDES
Somos bombardeados diariamente com a imagem da família perfeita. Com certeza você já viu como é linda a propaganda de negócios imobiliários: pai, mãe e um casal de filhos naquele ambiente ensolarado, todos curtindo o dia na grama, no parquinho, sorridentes, corados, morando bem e em harmonia. Ou a propaganda de margarina, em que a família está reunida à mesa, pela manhã, tomando o café com calma, todos bonitos, penteados, roupas impecáveis.
Opa, peraí, de manhã é o caos na minha casa, crianças sendo arrastadas para fora da cama, rostos amassados, cabelos mal penteados, pais cansados por terem passado parte da noite em claro pensando nas contas ou cuidando de um pequeno com febre, toma banho, troca de roupa, caça o sapato perdido, escova dentes, procura a meia que estava separada, mas desapareceu, coloca o tênis, correria para escola, para o trabalho, chega atrasado, UFA!!!!! Olha no relógio, ainda são 7:15 e parece que já rolou cansaço para o resto do dia.
Mas e a família feliz da propaganda de margarina? Ela ficou nos estúdios, no rótulo e na nossa idealização de perfeição. O perfeito não existe no cotidiano, ele é construído dentro das possibilidades de fazer o nosso melhor, de acordar e saber que vamos ter aquela rotina pesada, mas não deixar com que isso nos desgaste a ponto de afetar o nosso dia inteiro, nos deixar irritadiços com os colegas de trabalho, com o cônjuge ou os filhos, a ponto de quando colocarmos a cabeça no travesseiro à noite, percebermos que desperdiçamos ótimas oportunidades de relacionamento interessante com as pessoas que dividem o dia-a-dia conosco.
Na família real, crianças fazem birra praticamente em toda ida às compras, elas acordam com remelas, despenteadas, irritadas e com preguiça. Algumas vezes não querem ir à aula de natação, nem mesmo à escola. Crianças normais e perfeitas choram e agarram nossas pernas na porta da creche, mordem e batem nos coleguinhas e nos irmãos. Pais perfeitos se irritam, se frustram, ficam com raiva, choram de emoção e de tristeza, sentem medo do futuro, trabalham muito, geralmente não têm tempo de almoçar em família ou tomar aquele café da manhã da propaganda. Eles também engolem um sapo por dia – alguns dias bem mais que um - para garantir o futuro dos rebentos, nem sempre conseguem brincar de bola e se cobram absurdamente quando não conseguem fazer o que a sociedade prega ser o melhor. E quer saber? Está tudo bem!
A perfeição consiste em saber dosar a bronca e o mimo, a quantidade de presentes e em saber que um NÃO na hora certa é o diferencial entre uma criança emocionalmente saudável e um mini tirano que tem tudo o que deseja. Perfeito é aquele que aprende que esse estado absoluto de felicidade e harmonia não existe e sábio é quem percebe que lidar com a rotina requer equilíbrio entre o berro e a calmaria, mas lembrando que eventualmente vai ter grito, mas que sempre precisa ter aconchego, abraços, conversas francas, olho no olho, tempo de qualidade e carinho.
Gente! Parem de cobrar a perfeição de pais que fazem tudo ao seu alcance para garantir o essencial aos seus filhos! Não seja aquela pessoa que elogia e logo em seguida solta um “mas”: “Você é uma mãe maravilhosa, mas podia trabalhar menos!”, “você é um ótimo pai, mas podia ganhar mais dinheiro.”, “seu filho tem muito potencial, mas você não coloca ele numa escola particular.” CHEGA!!!!!! Seja uma pessoa que, em primeiro lugar, cuide da própria vida. E não julgue a parentalidade alheia.
Pais, não sejam pessoas medíocres! Se percebe que não impõe limites aos seus filhos, mude: comece a dizer não na hora certa e não apoie comportamentos ruins. Caso não seja uma pessoa calorosa, demonstre seu amor com palavras de afeto e simples toques de amor: pegue na mão, faça cafuné, fique sentado lado a lado de ombros colados.
A perfeição acontece quando percebemos que estar de bem com o outro e com a gente mesmo, faz toda a diferença na criação dos filhos.


O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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