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16/04/2020 às 13h05min - Atualizada em 16/04/2020 às 13h05min

Pisando no cadarço

IVONE ASSIS
Aquele que pisa no cadarço do próprio sapato, que tem aos pés, leva a certeza da queda ao chão, e de bônus pode ganhar fraturas, escoriações e outros dissabores, próprios de situações de queda.
O jornalista Alfredo Sirkis, aos 17 anos, durante uma passeata esquerdista de enfrentamento à infantaria de 1968, ao pisar no cordão do sapato, estatela-se ao chão, depois relata, conforme registro em seu livro “os carbonários: memórias da guerrilha perdida” (1980): “Por cima de mim passou o tropel revolucionário em retirada. Voltei pra casa todo dolorido e machucado, como se meia manifestação tivesse desfilado pelas minhas costelas: meu primeiro ferimento de guerra”.
Parece que governos do mundo todo pisaram nos cadarços de seus sapatos durante a plenária, neste 2020, e o tropel revolucionário do coronavírus pisoteou as nações. Porque as nações não estavam preparadas para a guerra; porque ninguém havia tomado medidas preventivas contra “gases”; porque ninguém imaginava que os sapatos de seus representantes estivessem desamarrados. Do contrário, poderiam ter colocado leite de magnésia em torno dos olhos. Teriam, quem sabe, tapado o nariz com o lenço. Mas não, todos os caminhos estavam abertos. De repente, todas as fronteiras são, literalmente, cessadas, fechadas. Apaga-se o fogo, mas o leite já derramou. A brasa já está acesa, o fogo se alastrou. A “bomba de gás” foi lançada. O caminhão pipa espargiu pó de mico por todos os rincões da terra. E agora, José?
Ivan Angelo, em sua obra “A festa” (1978), na figura de uma mãe angustiada, escreve: “Quem sabe o que deu nesses meninos. Uma coisa tão perigosa, sem quê nem pra quê. Cada vez que ele sai de casa é essa aflição que me dá. Essas bombas de gás decerto machucam, não têm só gás. Na correria leva uma paulada na cabeça ou um cavalo passa por cima, Deus me livre, livre Carlinhos”... Lucas, joões, pedros, marcelos, anas, augustas, martas, marias...
Temos vivido tempos difíceis. São mármores nas mesas de um certo grupo de velhos e mármores nas lápides de certo um grupo de jovens. Em uma espécie de batalha, esses velhos se emperram em suas ambições pelo poder, enquanto esses jovens investem no crime. No relatório final, os velhos estão ocupados demais, portanto não podem ensinar. E os jovens, desocupados demais, não querem aprender, então perdem seu tempo com vícios, desconhecimento, falta de bons propósitos, falta de amor... Neste duelo da ambição contra a preguiça, é preciso acordar para a vida, sair da zona de conforto. Se as crianças não forem preparadas, a juventude será desatinada, e não alcançará a velhice.
O que justifica a multidão de jovens habitando as ruas e superlotando hospitais e clínicas psiquiátricas, de psicólogos e outras? Que educação social está sendo oferecida à juventude que formará o amanhã? Blá-blá-blá de redes sociais não é preparo para ninguém. Likes não são sinônimos de competência. E agora, José?
Os velhos vão morrer, e os jovens também. Se um CEO tem apenas a teoria, a gestão não tem como dar certo. O sucesso é composto de teoria, prática e sentimento.
O americano Bruce Barton escreveu: “Nada de esplêndido jamais foi realizado a não ser por aqueles que ousaram acreditar que algo dentro deles era superior às circunstâncias”. Existem milhares de boas literaturas, elucidando sobre as trilhas que levam ao sucesso, em todas elas o sentimento (o amor) é protagonista enamorado pela determinação, vislumbrando transformações (o conhecimento).
As mudanças não são feitas de notoriedade e poder de persuasão, mas, sim, de crescimento mental, começando por saber lidar com as dificuldades do plantio. Primeiro, elevamos nossa autoconfiança e, só assim, poderemos contagiar, positivamente, o outro, na trilha do sucesso. A fraqueza mora dentro de cada um, mas a força também habita o mesmo espaço, por isso, o resultado depende da escolha. Por mais difícil que seja uma jornada, desmorona somente aquele que pisa no cadarço do próprio sapato.


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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