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09/04/2020 às 10h37min - Atualizada em 09/04/2020 às 10h37min

O planeta terra de hoje até o Dia das Mães

CLÁUDIO DI MAURO*
Na concepção do excelente professor e pesquisador Noam Chomsky, o coronavírus é um ataque suficientemente sério contra a vida humana e suas relações sociais, econômicas. Mas há outros riscos de grandes magnitudes representados pelas ações de personagens como Trump e no Brasil pelo bolsonarismo, que não se fixa apenas na figura do Bolsonaro. O sistema está em crise muito profunda e correndo para o abismo com risco de levar o planeta para uma guerra nuclear, também proporcionando o aquecimento global.  Mas o coronavírus também abre uma porta para a humanidade caminhar em outras direções.
Há para discussão a concepção desenhada pelo professor José Carlos Mota, da Universidade de Aveiro, que retrata assim a realidade, a partir de sua experiência com o coronavírus em Portugal, “Pela primeira vez nas nossas vidas, ainda que obrigados, pudemos experimentar um «mundo novo», há muito desejado e anunciado, mas nunca ensaiado a esta escala...”
Para o pesquisador português é impressionante o despertar da cidadania com solidariedade que “...foi possível fazer em Portugal em menos de 30 dias, mobilizando a energia cívica, empreendedora e institucional e os inúmeros recursos disponíveis, normalmente invisíveis, inativos e nem sempre valorizados...”
Diante disso, conclui José Carlos Mota “...Esta será, pois, uma nova oportunidade de recomeçar e fazer melhor, de construir um país diferente e do qual nos orgulhemos de fazer parte. A segunda chance.
Provavelmente, não teremos outra!”
No caso brasileiro, estamos decidindo entre as alternativas: poderemos construir o Brasil vislumbrado pelo pesquisador de Aveiro ou abriremos mãos dessa alternativa?
A frágil e tenra democracia que se estava sendo construída no Brasil tem passado por momentos de abalo em seus alicerces.
O governo Bolsonaro, desde o primeiro momento, demonstrou que não tem afeição pela democracia e que prefere a implantação de um autoritarismo que pode passar pelo extermínio de 30 mil pessoas, elogiando torturadores e em diversos momentos se referindo com apreço pela ditadura militar que assolou o Brasil, a partir de 1964, bem como elogiando sanguinários torturadores.
Neste momento, os arroubos de Bolsonaro estão em fase de contenção por uma junta militar liderada pelo general do Exército Braga Neto.  O Brasil está sob intervenção militar, sem previsão constitucional. Trata-se, portanto, de uma chamada “ditadura branca”.  Até onde seguirão os militares, sem uma reação das instituições civis e judiciárias?
Os acontecimentos nos quais Bolsonaro tentou demitir o ministro da Saúde Mandetta foram para entendimento absoluto. Os militares demonstraram quem está mandando no Brasil.
Aproveitando-se que Mandetta está com maior aprovação popular do que Bolsonaro, os militares assumiram o lado da opinião registrado pelas “pesquisas”. Mandetta não sai do Ministério da Saúde, mas terá que se submeter às novas regras. Algo que já faz parte do currículo do ministro da Saúde que tem histórias controvertidas e de muito risco para sua integridade moral e administrativa. Não se pode esquecer que ele até aqui era ministro do governo Bolsonaro e para participar desse “esquema” tinha que acatar as bobagens proferidas pelo “líder maior”. Mas, sua manutenção teve preço alto e terá que suportar mudanças metodológicas. Isso possivelmente implicará em assumir o isolamento vertical no combate à pandemia.
Como afirmam minhas brilhantes companheiras do COLETIVO CORONAVÍRUS de Uberlândia Iara Helena Magalhães, Neide Mattar e Tânia Martins, em conjunto com Wilson Shimizu  “...até hoje não foram realizados os levantamentos de leitos hospitalares gerais e de UTI existentes  e necessários para  atender a pandemia que está iniciando e assolando o Brasil...”. 
Mandetta participou ativamente, como representante dos Planos Privados de Saúde, com “...Cancelamento do Mais Médicos, ficando sem capacidade de reposição dessa imensa força que foi literalmente expulsa do país; restrição no custeio da máquina com o teto de gastos de custeio e, no investimento em equipamentos...”. Será esse o Mandetta que ficou com os generais, comandados por Braga Netto?
Como disse Ulysses Guimarães ao entregar o texto constitucional de 1988, “temos ódio e nojo de ditadura”. E agir fora da Constituição é atuar como ditadores.
Mas, nos cabe refletir com o professor José Carlos Mota, ao final poderemos ter “uma nova oportunidade de recomeçar e fazer melhor, de construir um país diferente e do qual nos orgulhemos de fazer parte.”?
A segunda e derradeira chance, seremos capazes de aproveitá-la?
 
 
*Texto com participação de Jhenifer Gonçalves Duarte, discente do Curso de Jornalismo da UFU.


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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