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02/04/2020 às 08h00min - Atualizada em 02/04/2020 às 08h00min

Coronavírus e os casos de suspeitos contaminados

CLÁUDIO DI MAURO*
Em bela elaboração gráfica, o Professor Doutor Nilton Pereira Júnior, da Faculdade de Medicina da UFU, postou um gráfico que apresenta os dados oficiais da Prefeitura de Uberlândia, relativo ao número de casos de pessoas com suspeita de estarem contaminados pela COVID-19, coronavírus.

O gráfico referido mostra o crescimento enorme, dia a dia dos casos das pessoas que estão com suspeitas de serem portadoras da doença, tais como: 

- No dia 21 de março eram 188 casos suspeitos; 
- Em 24 de março os casos de suspeição chegaram a 306;
- Em 26 de março saltaram para mais do que o dobro em 2 dias atingindo 697 casos.

Impressiona o crescimento em 24 horas, pois em 27 de março os números eram 973. E, no dia 28 de março, o número registrado é de 1.019 casos suspeitos; no dia seguinte, 29, registraram 1029 suspeitos nos dados oficiais. E no dia 31, somam-se 1081 casos suspeitos com 57 pacientes internados.

É crescimento exponencial.

Embora com 1081 casos suspeitos de contraírem coronavírus, apenas 105 tiveram resultado negativo, ou seja, foram diagnosticados com outras doenças que não o vírus tão temido.  Nessa mesma data, 50 pacientes estavam internados em unidades de saúde e sendo tratados de coronavírus.

Temos uma evolução no número de suspeitos sem confirmação ou sem serem descartados de estarem contaminados. Diante dessa realidade, resta uma indagação: quando chegarão os resultados de confirmação ou de retirada desses casos suspeitos no quadro elaborado?  Ficarão definitivamente como suspeitos?

Nos resta uma interpretação para justificar tal incerteza, Uberlândia não tem efetuado os exames que permitam identificar a doença, ou seja, não são feitos os testes necessários.

Nota-se assim uma negligência do sistema que não adquiriu os kits que permitiriam a realização de tais exames. Recentemente, o executivo municipal se manifestou dizendo que contratará laboratório privado local para realização dos testes. Mais uma demonstração de despreparo e não antecipação das ações que seriam indispensáveis.  Deixar 1029 pessoas em situação de suspeição é de uma crueldade sem limites para elas, seus familiares, bem como colocar em risco aqueles que com quem elas se relacionam.

Afinal, existem instrumentos capazes de livrar a cidadania e a comunidade dessa dúvida tão eloquente. A confirmação ou o descarte do risco garantiria a orientação para que os contaminados entrem em tratamento medicamentoso e quarentena mais radical. O trabalho desenvolvido no WhatsApp pelo COLETIVO CORONA UDI deve ser levado em conta. São dezenas de ações indispensáveis e que estão disponibilizadas para os Poderes Públicos e para a imprensa em geral. Demandas que merecem ser divulgadas. 

Apesar dessa situação que aponta para recrudescimento dos casos de contaminação pelo coronavírus e aumento significativo das indicações de suspeita, tendendo para situação catastrófica de contaminações, a Prefeitura Municipal de Uberlândia flexibilizou as normas de quarentena urbana. 

Em 20 de março, eram 12 as modalidades de estabelecimentos destinados a comércio e serviços que poderiam permanecer abertos, atendendo seus clientes. Em 27 de março, por decreto, o Prefeito Municipal aumentou abruptamente o número de atividades que podem abrir seus negócios sem as mesmas restrições. Foram autorizadas a abrir pelo menos mais 22 modalidades de atividades, se constituindo em 34 tipos de comércios e serviços.

Essa flexibilização demonstra um relaxamento no processo de contenção para retardar a evolução do crescimento exponencial da propagação da doença.

Este procedimento adotado pela Prefeitura de Uberlândia vai no mesmo caminho do que foi realizado em Milão e Bergamo, na Itália. Tais municipalidades italianas entenderam que os casos de doenças contraídas por contaminação pelo coronavírus estavam evoluindo de maneira lenta. Por isso, relaxaram nas modalidades permitindo a concentração de pessoas com a abertura de modalidades de serviços, levando a vida ao retorno do que entendiam como normalidade. O resultado, em poucos dias, foi desastroso. A contaminação de pessoas cresceu em níveis do insustentável.

Recentemente, o Prefeito de Milão foi a público pedir desculpas e demonstrar que erraram na decisão. Sem a infraestrutura adequada para atender as pessoas infectadas, Milão se tornou uma cidade da morte. Até mesmo o cemitério foi fechado, pelo fato de não haver como enterrar os corpos das pessoas que foram a óbito. Cerca de mil pessoas morrendo em 24 horas.

É importante que Uberlândia não deixe tais fatos se repetirem por aqui. É indispensável que o Poder Executivo, em companhia do Legislativo e do Ministério Público, adote medidas de contenção, exigindo o recolhimento, o isolamento das pessoas em suas residências. Isolamento horizontal, completo.

Para isso, será indispensável que os poderes constituídos atendam as pessoas que estarão em quarentena. É uma providência de curto prazo, devendo durar cerca de 2 meses. Para isso, o poder público deve prover as pessoas com alimentos, energia elétrica, água e afastamento de esgotos e moratória para os aluguéis e prestações que precisariam ser pagos. É preciso compreender que a situação exige esse tipo de solidariedade.

* Participação de Jhenifer Gonçalves Duarte, discente do Curso de Jornalismo da UFU.


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.









 
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