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29/03/2020 às 08h30min - Atualizada em 29/03/2020 às 08h30min

Depois que tudo passar

ALEXANDRE HENRY

Ainda estamos apenas no começo da crise, pode ter certeza. Pelo histórico dos outros países, o sobrecarregamento do sistema de saúde ainda virá daqui a algumas semanas. Por outro lado, os efeitos econômicos da pandemia somente desaparecerão em alguns anos, qualquer que seja o cenário. Se a doença demorar a ir embora, o custo da área de saúde, das perdas de vida e da redução do consumo, ainda que não haja confinamento, serão sentidos por muito tempo. Mais do que isso, os desarranjos nas contas dos governos de todo o mundo demandarão anos de austeridade para que os cofres públicos não entrem em colapso. Com ou sem confinamento, repito. E se a doença passar rapidamente? Bom, aí os trilhões de dólares que os governos estão colocando nos mercados provocarão efeitos deletérios como aumento de inflação, excesso de crédito e, em determinado momento, poderá aparecer uma nova crise financeira. Dinheiro demais no mercado gera bolhas e bolhas, como se sabe, são sementes de catástrofes econômicas.

De qualquer maneira, a crise passará algum dia. E o que é preciso fazer? Bom, em primeiro lugar, é preciso investir pesado nos centros de pesquisa de doenças epidemiológicas. Não que doenças que não são infectocontagiosas, como é o caso da diabetes, hipertensão, vários males coronarianos etc., não precisem de investimento em pesquisa. Não é isso. A questão é que doenças infectocontagiosas, como estamos vendo agora, podem evoluir de uma forma absurdamente rápida e pegar o mundo – literalmente – de surpresa. Qual é a solução? Investir em tecnologia capaz de produzir vacinas em uma velocidade bem maior do que a atual. Investir em pesquisas de medicamentos antivirais. Deixar de prontidão centros de produção de vacinas em escala massiva. Enfim, é preciso investir nos cientistas de forma gigantesca, para que eles consigam encontrar soluções para barrar crises como a atual logo no começo. Além das pesquisas, como eu disse, é necessário contarmos com parque industrial capaz de produzir o que for necessário para controlar a doença.

Não é só isso. É preciso que se tenha, de antemão, uma estrutura de laboratórios capaz de realizar testes em massa em poucos dias. Não temos isso agora, como ficou claro. Fazendo testes em uma quantidade gigantesca de pessoas, fica muito mais fácil de você isolar o problema e diminuir os efeitos deletérios de um isolamento social completo. Só que, para isso, há a necessidade de você ter uma estrutura pronta, uma estrutura que pode até custar caro por eventualmente ficar parada durante anos, mas que mostrará seu valor assim que outra pandemia surgir. Juntamente com a estrutura de exames patológicos, é preciso entender que a maior necessidade do ser humano é o oxigênio. Você pode ficar vários dias sem comer, mas não fica cinco minutos sem respirar. Como doenças infectocontagiosas que atingem o sistema respiratório costumam ser bem comuns, o sistema de saúde tem que estar preparado para atuar nessa área. Respiradores artificiais e outros equipamentos devem estar à disposição quando a praga aparecer, assim como tudo o que é necessário para proteger da contaminação quem trabalha nos hospitais. Há que se ter estoque de luvas, máscaras, desinfetantes e por aí vai.

Enfim, é preciso ter um plano pronto. Exércitos do mundo inteiro são muito bons nisso. O país pode estar vivendo uma época de paz absoluta, mas lá estão eles simulando cenários de guerra, pensando em como poderiam colocar a máquina de batalha para funcionar em poucos dias caso isso fosse necessário. A mesma atitude tem que ser feita (pelos civis, já adianto) com a questão epidemiológica. Se no dia 16 de fevereiro de 2023 aparecer outro vírus ainda mais mortal no leste asiático, em quantos dias conseguiremos equipar nossos hospitais e criar leitos extras com tudo o que é necessário para enfrentar a pandemia? Em quantos dias seremos capazes de disponibilizar para a população milhões de testes para isolar apenas aqueles que estão contaminados? Quantos cientistas teremos à disposição para mergulhar em pesquisas buscando uma resposta rápida ao novo vírus?

A pandemia de agora não será a última, assim como não foi a primeira. É preciso aprender com ela e planejar exaustivamente como faremos quando uma nova praga aparecer do nada. Isso é o que precisa ser feito. Infelizmente, tenho a impressão de que tudo o que a atual pandemia deixará se resumirá a mais combustível para mais polarização nas redes sociais e, claro, nas próximas eleições. Triste, muito triste.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.












 

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