Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
05/03/2020 às 09h42min - Atualizada em 05/03/2020 às 09h42min

Doenças e mais doenças

ANA MARIA COELHO CARVALHO

É impressionante como as pessoas adoram falar de suas doenças. Daquelas que têm, das que imaginam ter e das que estão se preparando para ter. Dor de cabeça, de dente, de ouvido, de barriga. Dor no peito. Até dor de cotovelo. Sem falar nas competições para saber quem teve mais pedras nos rins ou na vesícula biliar.

Só para exemplificar: dia destes estava eu caminhando feliz na piscina de um clube. Uma conhecida passou a caminhar comigo e relatou minuciosamente os seus problemas com o joelho: a operação, as dores, a fisioterapia. Depois encontrei outra, que contou em detalhes seus suplícios com a coluna. As duas estavam caminhando na água para melhorar. Por último, uma contou os seus dramas da menopausa: vontade de chorar, nervosismo, insônia, ondas de calor. Estava na piscina para refrescar, revoltada porque ninguém tinha avisado a ela que passaria por tudo aquilo. Saí da piscina com dor de cabeça. Por pouco não saí também com dor no joelho, dor na coluna e ondas de calor, pois a mente humana pode ser influenciada e passar a sentir o que está ouvindo ou vendo, como na comédia “Apertem os cintos que o piloto sumiu”. Nesse filme, os passageiros do avião comeram peixe estragado na comida de bordo e o médico começou a descrever, para o comandante, todos os sintomas que apareceriam nos passageiros: coceira, cegueira, espasmos musculares, vômitos e, por fim, a morte. O comandante, que nem tinha comido peixe, foi ouvindo e sentindo tudo, até que caiu morto na cabine. E o avião também quase caiu.

Imaginem como as pessoas devem contar suas doenças para os médicos... De acordo com meu filho médico, alguns, por exemplo, se vão relatar uma indigestão, começam desde o convite para a festa, a festa em si e a comilança, até chegar aos sintomas. Também há respostas vagas sobre onde e como dói: “ah, doutor, dói muito, dói tudo”. “Ah, é uma dor doída”.

Mas de todas as descrições de doenças que já ouvi ao longo da vida, a que mais me impressionou e chocou foi a do meu irmão. Relatou-me em estilo trágico-cômico o problema da sua hérnia, com as seguintes palavras: - “A minha hérnia estava com um carocinho evidente e procurei um cirurgião. Voltei para casa me arrastando, dormi e sonhei que a hérnia tinha explodido e os pedacinhos colaram na parede, com o sangue saindo de dentro de mim. Agora ando assim, com minhas tripas saltando para fora, pelo peritônio rompido. A hérnia pode ficar saindo e voltando, até o dia em que não volte mais e terei que ser operado com urgência. Poderá ser com o bisturi tradicional, como no tempo da Cleópatra, Roma e Marco Antônio, ou por laparoscopia. A anestesia é geral e se eu morrer ou entrar em coma, problema meu (aliás, sabia que existem seis tipos de coma, uma palavra grega, que é a mesma em todas as línguas, inclusive chinês e japonês, pode isso?). O cirurgião explicou que minha hérnia pode ir descendo e se transformar em hérnia escrotal. Daí pensei que só o suicídio pode resolver isso. Acho que vou preferir o Haraquiri, aquele praticado no Japão, e cortar bem em cima desta bendita hérnia (só para esclarecer, o Haraquiri é um golpe só, do lado esquerdo para o direito, feito com a mão direita e com o punhal da família, que sempre tem mais de 1.000 anos). Enquanto decido se opero ou não, posso dar um espirro mal dado e minha “Hérnia Ingnal Unilateral em Túnel” pode ir parar no saco escrotal. E eu aqui sozinho, sozinho. Vou avisar ao zelador do prédio para ir ao hospital buscar o corpo, se eles, o cirurgião e a equipe, me abotoarem”.

Cruzes, espero não ouvir mais relatos como esse.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.













 

Tags »
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90