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04/03/2020 às 08h04min - Atualizada em 04/03/2020 às 08h04min

Domine esse jogo

FERNANDO CUNHA

Em visitas a um velho amigo, o filho dele sempre me convidava para jogar vídeo game. “Tio Fernando, joga comigo”. E eu dizia: “Não, eu não sei jogar esse jogo”. “Eu te ensino”, dizia ele. Primeiro, ele me mostrava como atirar num monte de sujeitos malvados que apareciam na tela. “Olha como é fácil, tio”. Pelo carinho àquela criança, eu sempre acabava cedendo: “Tudo bem, vamos lá”. Imediatamente, ele já me colocava na situação de aprendiz iniciante: “Você começa”. Em cinco segundos eu já estava morto com um tiro na cabeça. Aniquilado. Game over! Em seguida, ele jogava por uns 50 minutos. Na minha vez, eu sempre conseguia avançar um pouco mais. Se você já jogou vídeo game com uma criança sabe a humilhação que é. Quem ganha sempre? Ela, é claro! Mas, por que isso acontece? Por que ela é mais inteligente e mais rápida? Não! Ela sempre ganha porque já conhece o jogo. E por que eu continuava tentando, mesmo sabendo que iria perder? Pois eu também queria dominar o jogo.

Na vida e na política é do mesmo jeito. Quantos riscos você já evitou simplesmente por se tratar de um risco? Quantas vezes já teve medo de alguma coisa só por não conhecer essa tal coisa? Eu mesmo já perdi várias oportunidades por receio do resultado justamente por que eu não sabia qual seria o resultado. Mahatma Gandhi, o líder indiano, já dizia: “Tu nunca saberás os resultados que virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados”. O mesmo acontece diante da chance de falar em público, de gravar um vídeo ou fazer uma transmissão ao vivo pelas redes sociais. Talvez você não encara o desafio, pois acha que será massacrado, assim como no vídeo game. Dias atrás um aluno de oratória me disse: “O ‘não’ eu já tenho. Agora é partir para a humilhação”. Eu disse a ele que não é bem assim.

O que há de humilhante em tentar transpor uma barreira que impede a sua evolução? Ao contrário! Se você está pensando em mudar de emprego, começar um novo negócio, empreender, fazer uma apresentação, criar um canal no YouTube ou se candidatar nas próximas eleições, um primeiro passo deve ser dado. Malcolm Gladwell, no livro Fora de Série – Outliers (Ed. Sextante), defende a tese de que, para se chegar à maestria de uma atividade complexa, são necessárias dez mil horas de prática. “O caminho do sucesso está aberto a qualquer pessoa disposta a trilhar o árduo percurso do aprendizado”, diz o autor. Veja bem suas palavras: “árduo percurso do aprendizado”. Ou seja, antes de chegar à excelência, é preciso agir, mesmo sabendo que pode cometer alguns erros. “Uma viagem de mil milhas deve começar com um primeiro passo”, disse LAO-TZU.

Nos últimos anos, uma filosofia de gestão por competência tem ganhado espaço no meio corporativo e que pode ser facilmente adaptada a diferentes áreas, inclusive na difícil tarefa de se comunicar bem. A teoria do CHA (acrônimo das palavras Conhecimento, Habilidade e Atitude), apresentada em 1996 por Scott B. Parry no livro The Quest for Competencies, estabelece que investir nestes três elementos é um primeiro passo para o sucesso. Conhecimento é o saber, habilidade é saber fazer e atitude é querer fazer. Segundo Parry, se o indivíduo não arranjar tempo para se dedicar aos estudos, dificilmente desenvolverá as habilidades necessárias para empreender as ações que irão conduzi-lo à posição que tanto almeja. E de nada adiantará adquirir conhecimentos e habilidades se não houver atitude suficiente para pôr em prática tudo aquilo que se aprendeu.

Muita gente acredita que, para encarar uma plateia ou uma câmera, é preciso primeiro alcançar a perfeição. Ninguém nasce sabendo e, para fazer algo bem feito, é preciso errar bastante. E, além disso, ter a humildade de aprender com os erros e corrigi-los ao longo da jornada. Quem espera as condições perfeitas para fazer algo, nunca fará nada. A vida e a política não são como num vídeo game, onde perder apenas te deixa com raiva. Há sempre algo mais em risco. Talvez você seja apenas um iniciante, mas, se estiver disposto a aprender a se comunicar melhor, já estará bem à frente dos demais. Chegou a hora não só de entrar no jogo, mas também de aprender a dominá-lo. E nessa competição, uma coisa é certa: quem não fala bem em público e não sabe gravar vídeos está fadado a perder. E, se você não se lançar de cabeça nessa jogada, os seus concorrentes e adversários irão fazer isso. E, definitivamente, você não vai querer que eles o façam. Por isso, domine logo esse jogo!

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.














 

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